sexta-feira, 6 de março de 2009

Há 82 anos


Gabriel Garcia Marquez, nas suas própria palavras:

«(...)Foi assim e ali que nasceu o primeiro de sete varões e quatro mulheres, no domingo 6 de março de 1927, às nove da manhã e com um aguaceiro torrencial fora de época, enquanto o céu de Touro se erguia no horizonte. Estava a ponto de ser estrangulado pelo cordão umbilical, pois a parteira da família, Santos Villero, perdeu o domínio da sua arte no pior momento. Mais controle ainda perdeu a tia Francisca, que correu até a porta da rua dando gritos de incêndio:
— É menino, é menino! — e em seguida, como num pregão de angústia: — Tragam rum, que ele está sufocando!
A família supõe que o rum não era para celebrar e sim para reanimar o recém-nascido com fricções. Misia Juana de Freytes, que fez sua entrada providencial na alcova, contou-me muitas vezes que o risco mais grave não era o cordão umbilical, e sim a má posição de minha mãe na cama. Ela corrigiu essa posição a tempo, mas não foi fácil reanimar-me, e por isso tia Francisca jogou em mim a água baptismal de emergência. Eu devia chamar-me Olegário, que era o santo do dia, mas ninguém tinha à mão um santoral, e por isso puseram-me de urgência o primeiro nome de meu pai seguido pelo de José, o carpinteiro, por ser o patrono de Aracataca e por estarmos no seu mês de março. Misia Juana de Freytes propôs um terceiro nome em memória da reconciliação geral que se conseguia entre famílias e amigos com a minha chegada ao mundo, mas na certidão de baptismo que fizeram três anos depois esqueceram-se de pôr esse terceiro nome: Gabriel José de la Concordia.(...)»

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