sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Pessoa


«Se não fosse o sonhar sempre, o viver num perpétuo alheamento, poderia, de bom grado, chamar-me um realista, isto é, um indivíduo para quem o mundo exterior é uma nação independente. Mas prefiro não me dar nome , ser o que sou com uma certa obscuridade e ter comigo a malícia de me não saber prever.»
Bernardo Soares no Livro do Desassossego

Fernando Pessoa deixou-nos há, precisamente, 72 anos.

Histórias

«As histórias são amigas
e muito muito divertidas
fazem-nos rir e sonhar
e também muito brincar

Claro que é bom ler
isso já deves saber
com muita imaginação
compra um livro de histórias que o título seja "Cão"

Uma história tu vais ler
para poderes viver
com muita amizade e carinho
a tua história vai ter um caminho»

A minha filha tem 8 anos! Escreveu isto!
Sou um pai babado!!!!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

George Harrison


25 de Fevereiro 1943 / 29 de Novembro de 2001

«While your guitar gently weeps»!!!

Haja o que houver...


Teresa Salgueiro anunciou a sua retirada do projecto Madredeus.
Aparentemente chega ao seu fim um percurso de vários anos de uma relação bonita, recompensadora, brilhante.
E digo aparentemente porque as coisas bonitas nunca chegam, verdadeiramente, ao fim. Os ecos que se reproduzem, que teimam em continuar a sair, são imensos e imortais; tal como os próprios afirmaram ao chamarem a um dos seus trabalhos ao vivo, "Um Amor Infinito".
A beleza que foram oferecendo em cada dia, o encantamento que distribuíram em doses maciças, a intimidade que notoriamente transparece da(s) vivência(s) que nos proporcionaram, não os deixará acabar.
Será um hiato, uma pausa, uma reflexão, mas a sua presença estará sempre garantida em cada audição, em cada arrepio, em cada momento em que nos deixarmos enredar, novamente, pelo belo, pelo milagre que, para nós, criaram.
Apetece por isso dizer: «Haja o que houver estarei aqui, haja o que houver esperarei por ti»!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Redenção


Cada vez que os ouço, dou por mim a garantir que são o melhor grupo de música que Portugal alguma vez criou! Não tenho, obviamente, a certeza desta afirmação, mas para o caso também não é relevante. Os Trovante foram, são, um marco! Foram, são, fundamentais para muita gente que gosta de música, que acompanha as boas canções cantadas em português. E não só as músicas, como o resto, os poemas que fizeram, os que musicaram, aquilo que criaram com gosto e com gosto nos passaram. Dou por mim, também, a pensar, ainda bem que acabaram! Porque assim podemos ter toda a sua obra numa mão, toda a sua perfeição nos nossos ouvidos, sabendo que acabaram num momento em que não podiam estar mais alto, o futuro ficou assim escrito com saudades, mas daquelas que não doem,porque são de memórias boas. E, às vezes, voltam a reunir-se e a deixar-nos outra vez, aquele sabor bom.
Das inúmeras maravilhas que nos deram, podem destacar-se um punhado, enorme, de óptimas canções, maravilhosos momentos.
Esta é uma dessa maravilhas, vem no seu último disco, tem poema de Alberto Lopes, já foi cantada pelos Resistência e, no concerto, fora de tempo, que os Trovante deram, foi partilhada por Manuela Azevedo.
Fala de coragem, fala de vontade, fala de força e de receio também, porque há sempre um perigo, mas também pode haver, sempre, uma redenção!
«Sai debaixo das pedras
E vai
Vai
(…)
Vai mais longe mais fundo
Não mudes de assunto
Só porque é mais fácil
(…)
Longe o ar é mais leve
Pode ser isso o que me chama
Não sei resistir
Nem sei porquê
Pensar que devia...
Vai
Vai mais longe vai
Vai ao fundo do fundo
Não mudes de assunto
Há sempre um perigo»

Brilhos


Desde muito jovem que tive um particular gosto pelos Pink Floyd. Nunca foram a minha banda de eleição, nunca lhes fui "seguidista", mas, algumas das suas canções elevaram-se aos píncaros das minhas escolhas primordiais. Desde logo um álbum, que considero a sua obra-prima, pelas músicas, mas sobretudo pela temática, pela gratidão expressa ao seu elemento "louco", ao seu fundador que vivia "escondido" do mundo, Syd Barret.
Wish you were here, é um dos momentos mais bonitos que a música popular nos deu e Shine on you crazy diamond, um dos apelos com mais força que se fizeram:
«Remember when you were young, you shone like the sun.
Shine on you crazy diamond.
Now there's a look in your eyes, like black holes in the sky.
Shine on you crazy diamond.
You were caught on the crossfire of childhood and stardom, blown on the steel breeze.
(…)
Come on you boy child, you winner and loser, come on you miner for truth and delusion,
and shine!»

Gratidão


Será que já nos demos conta que, em português, a palavra que usamos para exprimir este sentimento tem uma conotação de obrigação?
Será que já pensámos que o facto de nos sentirmos gratos a alguém ou alguma coisa, nos dá a sensação de estarmos obrigados?
Será isso a gratidão? Uma obrigação? Uma "muito" obrigação?
Uma compensação por aquilo que alguém nos fez e, eventualmente, nos agradou?
Estamos obrigados a compensá-la? A retribuir? É um jogo de trocas a gratidão?
Eu prefiro pensar nela como numa espécie de bênção. Como uma espécie de dom! Como uma sublime sensação de conforto, de satisfação, de partilha!
Estar grato é conhecer o prazer e a alegria de, num momento certo, ter estado no lugar certo e ter usufruído desse momento, dessa dádiva única que nos é proporcionada.
Estar grato é reconhecer isso e é ter a capacidade de olhar e ver o que realmente importa. É ter o privilégio de crescer mais um pouco, de conseguir uma elevação fora do comum.
Estar grato não é estar obrigado a ser, a fazer, a desejar. Esta grato é depois disso, é para além disso. É ter a capacidade de abrir os olhos, fitar e sorrir ingenuamente, porque só assim é o sorriso verdadeiro, a autêntica entrega. Só assim se mostra disponibilidade, só assim se consegue abrir a alma e dizer, com a voz que vem do seu fundo: Dou Graças!
Talvez por isso seja tão dificil estar grato, talvez por isso o "som do choro" se sobreponha a tudo o resto!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Eterno retorno


Não sou, nunca fui, um grande aficionado dos U2. Gosto, moderadamente, da maioria das suas "coisas"; há uma ou outra canção de que gosto mais, mas nenhuma delas me tocou, ou toca, como A Sort of Homecoming. Não quero dizer que seja a mais bonita, haverá algumas outras, mas é a que mais me arrepia. É com ela que começa o álbum que, ainda hoje, considero o melhor, aquele de que mais gosto.
E depois poder voltar a casa, mesmo que seja só uma espécie de... dá-nos sempre um conforto especial. Um sabor que, por vezes, parece perdido, volta a encontrar-nos, as (boas) memórias aquecem-nos mais uma vez e damos por nós a reviver o passado com as tonalidades que a vida, entretanto, nos trouxe. Mesmo que, na verdade, nunca tenhamos deixado aquela casa, é sempre com emoção que a ela retornamos:
«(...)Oh dont sorrow, no dont weep
For tonight, at last
I am coming home
I am coming home»

Da infância...com livros


Já li o último volume do Harry Potter. Li e gostei muito, fiquei com pena que tivesse acabado.
Nos dias que levei a lê-lo andou sempre comigo. Ouvi alguns comentários que espelhavam algum espanto pelo facto de alguém, da minha idade, estar a ler aquele livro e ainda por cima andar com ele, debaixo do braço, em plena rua.
E isso faz-me muita impressão! O preconceito contra a literatura é exasperante. E ainda o é mais quando as pessoas fazem esta tremenda confusão entre aquilo que acham que são livros para crianças e livros sérios! O que, por si só, já é uma diferenciação tremendamente injusta! Os livros de Harry Potter são livros que agradam às crianças e ainda bem, ler é bom, ler faz bem e quando se lêem livros tão empolgantes como estes, isso só pode fazer bem à saúde da literatura e dos leitores. Aliás os livros de J.K. Rowling têm esta, importantíssima, qualidade, de tanto agradar aos mais como aos menos pequenos. Tal como o fazem, por exemplo, Alice nos País das Maravilhas ou Peter Pan, ou qualquer conto de fadas no seu contexto original. O gosto por estas histórias, e tantas outras como estas, demonstra, tão só, que de quem delas gosta e já tem idade para ter juízo, afinal não tem o juízo todo! Afinal continua a ter, dentro de si, a criança que não deseja deixar fugir, a criança que lhe permite sorrir e deslumbrar-se com a beleza e o encantamento que ressaltam destes livros, a criança que lhe abre, ainda, a porta para a aventura e lhe mantêm intacto todo o seu sabor!
Eu, por mim, vou, sempre, fazer todos os possíveis para manter viva essa criança. Eu, por mim, irei sempre sorrir a cada nova história que me permita o encantamento e a magia. Eu, por mim, nunca hei-de fechar a porta à criança que, ainda, vai espreitando o mundo através dos meus olhos!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Sorriso!


Há sorrisos que nunca se apagam! Que são maiores e mais recompensadores do que tudo o resto neste mundo!
Há frases que, pela sua simplicidade, pela sua generosidade, pelo seu alcance e, sobretudo, pelo seu autor, nos deixam petrificados de alegria, calorosa, contagiante e eterna alegria.
«O papá é bonito"!
Depois disto só posso agradecer a benção. E ficar com o maior sorriso do mundo a bailar-me nos lábios! E, ao contrário da imagem, não é amarelo, é de todas as cores!!!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

I'm free...


Ser livre...
Ser livre é, certamente, o desejo de todos nós. Não ter amarras que nos sustenham, não ter peias que nos amarrotem os desejos, não ter correntes que nos prendam os sentidos.
Mas o que é, realmente, ser livre? O que é poder vogar sem nada que nos prenda a um porto de abrigo? O que é poder sair hoje daqui e surgir amanhã ali, sem remorso, sem saudade, sem olhar para trás, sem redenção?
Eu acredito na liberdade, mas custa-me a acreditar em alguém que se afirme livre.
Acredito na liberdade da mente, na liberdade do desejo, na liberdade da vontade.
Ser livre é poder sonhar com essa liberdade, é poder exercê-la em nós próprios, é poder olhá-la e tratá-la por tu!
Ser livre é também ter consciência de que, na vida quotidiana, criámos tantos entraves à sua expressão que nunca o seremos realmente! Mas é ter, igualmente, a noção de que, sem liberdade, nunca conseguiríamos sobreviver.
Ser livre, por isso mesmo, é acreditar na realidade, mas transformá-la naquilo a que damos, realmente, importância. Poder usufruir das pequenas coisas que nos dão vontade de querer viver, de acordar em cada dia com um sorriso e levar por diante as horas que nos são oferecidas como se fossem as últimas, vivendo-as com a intensidade de quem, não sendo completamente livre, tem nas mãos a liberdade suprema de conseguir viver sorrindo!

«If I told you what it takes
to reach the highest high,
You'd laugh and say 'nothing's that simple'
But you've been told many times before
Messiahs pointed to the door
And no one had the guts to leave the temple!

I'm free-I'm free
And freedom tastes of reality» The Who - Tommy

Podia ser assim a vida...


...e chegados à cena final cedemos. Deixamo-las sair em catadupa, em enxurrada interminável, em inundação imparável. Libertamo-las, como nos libertamos a nós das amarras que nos seguravam, das forças que nos tinham amparado.
Chegados aqui tornamo-nos vulneráveis, pequenos perante a enormidade que temos pela frente e abrimos a alma que nos mantinha, falsamente, duros e impenetráveis.
Ficamos mais puros, mais indefesos, mais próximos de nós mesmos.
Nada mais está à nossa volta, nada mais importa.
Sentimo-nos lavados, limpos, desarmados, conseguimos até sentir, sentir só...
Sós, perante o belo, perante a inocência que desarma, esperando que o tempo pare aqui, que a vida se suspenda.
Nestes instantes finais, ficamos de bem com a vida, recompensados por termos aqui chegado. O próximo instante não interessa, nada mais há para além disto. Chegados a esta cena final, por aqui ficamos... neste paraíso, mesmo que seja irreal, mesmo que seja aparente, mesmo que seja só um paraíso de faz de conta, só um cinema paraíso!
Mas, afinal, podia ser assim a vida... no (seu) final!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Adamastores


Há 510 anos, a esquadra de Vasco de Gama, na sua demanda da Índia, passava o Cabo das Tormentas, já conhecido como o da Boa Esperança.
O Adamastor olhou-os, talvez até lhes tivesse falado, mas eles continuaram o caminho, com medo, mas resolutos, temendo-o, mas firmes!
É o que se vai passando nos nossos quotidianos. Vamos encarando Adamastores, enfrentando medos e receios e torneando cabos. Às vezes com muitas dificuldades, vogando ao sabor das ondas, deixando que elas nos guiem por caminhos desconhecidos até chegar a bonança. De outras vezes segurando, com firmeza, o leme e obrigando-nos a levar por diante o barco, com maior ou menor oscilação, mas garantindo que o caminho é o que escolhemos.
No fundo, de qualquer das maneiras, socorremo-nos sempre das palavras de Pessoa:
«(...)Quem quer passar além do Bojador,
Tem que passar além da dor(...)»

Portugal e o seu desporto


Então a selecção de futebol portuguesa lá se apurou para o Euro 2008.
Ah grandes lobos! Ups, enganei-me! Lobos eram os outros, aqueles que, mesmo nunca ganhando, foram considerados heróis nacionais! A estes quase que lhes sucedia o mesmo, daí, provavelmente, o meu lapso. Foram apurados, é certo, mas não ganharam UM único jogo às 3 selecções que lhe ficaram próximas na classificação, UM ÚNICO que fosse! Vão à fase final, ainda bem, mas fica um sabor agri-doce a quem acompanhou esta fase de apuramento. Esperamos, sinceramente, que melhorem e muito!
A propósito, Liliana Andrade, patinadora portuguesa que esteve presente no Campeonato do Mundo da modalidade que se realizou já este mês na Austrália, conseguiu, só, um 4º lugar na classificação geral combinada.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Olhando o mar


Os The Cure vêm cá para o ano. Tenho vontade de ir vê-los, aliás, quero ir vê-los!
Têm agora à volta de 50 anos, eu também não estou muito longe!
Este disco foi o primeiro disco deles que comprei. Uma compilação de singles, ainda em vinil, com uma capa soberba. Um olhar assim diz tudo e quando sabemos que observa o mar, ainda mais diz. E as suas músicas ajudam-nos a ver o mar, o mar e o céu, ora azul, ora cinzento, carregado, obsessivo, mas também libertador.
Eu por mim não me importo nada de ver o Robert Smith mais gordo, com a maquilhagem a "escorrer" pelas rugas, com os cabelos já não tão espetados como eram. A voz, aquela voz inconfundível, continua a cantar como só ela sabe e depois até lhe apetece dizer:
«Show me, show me, show me
How you do that trick(...)»

No principio


Nem de propósito, com o post anterior!
Recebi agora a noticia de que os Genesis acabam de editar um novo disco ao vivo, resultado da tourné que realizaram já este ano.
E pensei, que pena!
Que pena não pelo disco em si mesmo, nem pelos concertos, nem por ainda existirem sequer! Mas por aquilo em que se tornaram!
Foi com os Genesis que eu descobri a MÚSICA! Foi atrás deles que corri na adolescência, que rocei a idolatria, foi com eles que passei a maior parte das horas desses tempos. Até mesmo depois de Gabriel ter saído.
Não ouvia mais nada, não queria ouvir mais nada; sendo adolescente estava certo, como só é possível nessa altura, de ter descoberto a universalidade, de ter chegado ao ponto mais alto, de não poder subir mais.
Mas, como é claro e óbvio, os dias que vêm depois encarregam-se de nos colocar outra vez na terra. E eu por aí vim, até chegar, felizmente, a outras terras, descobrindo novas verdades e sobretudo ganhando a noção, importante, fundamental mesmo, que devemos abraçar a nossa ignorância, procurando ultrapassá-la a cada momento.
Mas tenho pena, tenho pena que os Genesis sejam outros, tenho saudades deles, como tenho de mim, embora saiba, ou julgue saber, que mais coisas bonitas irão surgir, logo ali, depois de se cruzar mais uma esquina.

Here Comes the Flood...


Foi anunciado no mês passado, que o MIDEM (o mercado mundial da música) atribuiu o Prémio de Personalidade do Ano 2007 a Peter Gabriel.
Gosto de saber que Peter Gabriel recebe prémios, como os tantos, e não só relativos a música, que já recebeu ao longo dos anos.
Mas o mais importante para mim não são estes prémios. Egoisticamente, que sou em relação a algumas coisas que me acompanham inseparavelmente, o que importa é que Peter Gabriel me ofereceu a beleza em doses maciças, me ensinou a gostar de música, me abriu os horizontes musicais a novas e inesquecíveis paisagens e, talvez acima de tudo, o foi fazendo ao longo de muitos anos, inovando, trazendo novas surpresas, abrindo mais janelas, descobrindo novos sóis.
Por isso, embora não me importe demasiado, fico contente por haver mais gente que lhe reconhece a excelência, a inovação, a vida! Mesmo sendo estes que, aparentemente, se preocupam mais com os cifrões escritos na música, do que com as notas que lhe dão razão de ser!
Boa Peter, mas não esqueças, como sei que nunca fizeste e nunca farás, que nós, aqueles para quem crias prémios todos os dias, aqui estamos, prontos a ouvir-te, quer cantes canções de há 40 anos, quer nos tragas novas delicias!

Rene Magritte


Há 109 anos nascia, na Bélgica, um dos grandes inquietadores do século XX, um dos expoentes máximos do surrealismo, um pintor!

Waving Goodbye


The Gunman and Other Stories foi o último álbum, até agora, publicado pelos Prefab Sprout, em 2001. The Gunman and Other Stories é, muito provavelmente, o último álbum dos Prefab Sprout! O derradeiro, o final, talvez o testamento!
Brilharam muito alto durante os anos 80 e 90, fizeram canções como mais ninguém conseguiu, como mais ninguém foi capaz, como, talvez, mais ninguém imaginou! Nunca foram, é certo, alvo de manifestações de massas, a sua música foi, é, mais refinada, mais pura, mais intensa, menos própria para ouvidos habituados a play lists impostas pelo facilitismo e pelo imediatismo consumista que tudo ordena, sem a mínima preocupação pela saúde auditiva dos consumidores. Mas, felizmente, ainda surgem, de tempos a tempos alguns génios que nos redimem perante a música e nos fazem crer que a procura pela excelência não é luta vã.
Os Prefab Sprout, pela mão firme e genial de Paddy McAllon, foram dos grandes arautos dessa "diferença", dessa capacidade de espalhar o espanto e não o deixar morrer, de nos maravilhar com a simplicidade que a beleza pode ter.Fizeram grandes, enormes discos e deixaram-nos com The Gunman, já no século XXI. Nele, aparentemente, desenharam as paisagens imensas, agrestes e quentes do Far-West, mas, no fundo, o que fizeram, como sempre, foi oferecer-nos os sons do nosso contentamento, as palavras que nos sacodem, que nos acalentam, que nos fazem sorrir e também chorar. A voz inconfundível de Paddy, confunde-se com a nossa própria voz, as suas visões imortais passam a ser nossas também e deixamo-nos, mais uma vez, embalar por estas canções que nos elevam a alma. Nos tornam mais valentes!!!

«(...)Not long for this world, not long for this world
going the way of all valiant soldiers
standing in line and waving goodbye.(...)»

Até sempre Paddy!!!!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

El cine


Em prémios cinematográficos já ganhou quase tudo. Óscar, Bafta, Cannes, Berlim, Veneza, César, na Alemanha, no Brasil, em Toronto e, claro, em Espanha. Esteve por cá no último fim de semana para receber mais um. O homem não se cansa! Não se cansa de receber glorificações e não se cansa de fazer bons filmes, óptimos filmes, como, quase, mais ninguém faz!
São filmes diferentes, com cores diferentes, com sons novos, com argumentos estranhos, com actores únicos, com diálogos sui generis, com uma intimidade fora do comum, mas são todos, digo todos, óptimos filmes. Pedaços de vidas que nos são próximas, que nos visitam a cada virar de esquina, mas, ao mesmo tempo, nos olham de outros lugares, nos contemplam de outras latitudes, nos fazem mexer por dentro, nos revolvem os miolos, nos acicatam os sentidos. E são todos falados em castelhano!!!!
Da seriedade dura da Lei do Desejo e de Matador; à decadência kitsch e divertida de Que Fiz Eu Para Merecer Isto ou Maus Hábitos; à comovência de Fala com Ela; às desabridas histórias de Ata-me!, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, Kika ou Saltos Altos, Pedro Almodóvar traça-nos mosaicos de vidas espanholas, mas que podiam também ser nossas, que são também nossas, porque nos atraem e nos inundam de sensações novas e diferentes, mas compensadoras também.
Atrevo-me a dizer que o cinema de Almodóvar é o cinema obrigatório, entretém, faz pensar, faz rir e chorar e é muito divertido!
Olé!!!!!

O Mar


Hoje, 16 de Novembro, é o Dia Nacional do Mar!
Mais uma marca calendárica, como acontece todos os dias de todos os anos. Cada dia que passa é marcado por uma qualquer comemoração, há dias para tudo, tudo tem um dia. O do mar não me parece mal, antes pelo contrário. Não sei bem como se pode comemorar, mas surgiram-me algumas ideias. Primeiro dar um mergulho no mesmo, apesar de o frio estar a chegar. Depois ver (ou rever) um dos mais excelentes filmes feitos sobre, ou a partir, do mesmo, The Big Blue, ou Vertigem Azul em português, de Luc Besson. Também podemos ouvir um magnifico disco dos Waterboys, This is the Sea, onde se inclui o já clássico The Whole of the Moon. Ou então reler um dos textos mais bonitos escritos sobre o mar e sobre Portugal, por Fernando Pessoa:

«Ó MAR SALGADO, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão resaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Mas nelle é que espelhou o céu.»

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A magia continua


Confesso que, também eu, estou em pulgas!!!!

Ian Curtis


Depois da "injecção" punk, da reviravolta em termos musicais e de atitude perante a vida, que aconteceu no inicio da segunda metade de 70, veio a ressaca! A euforia deu lugar à introspecção, a um "virar para dentro". No pós-punk surgiram, nalguns casos sintomáticos, os verdadeiros apóstolos do no-future, tão apregoado pelo movimento punk. Chamaram-lhe urbanos-depressivos, vestiram-se de tons carregados, negros e cinzentos se tornaram, quais aves de mau agouro que começaram um pairar lento, mas seguro, sobre as mentes dos jovens da altura, dando-lhes doses industriais de melancolia incontida, de caminhos escuros e tortuosos, de imediatismos depressivos, no entanto, tudo isto era servido em baixelas de um ouro cintilante, regado com sons únicos e, muitas vezes, de uma beleza éterea, de uma sensibilidade à flor da pele, com uma força incontrolada e incontrolável.
Dos seus obscuros casulos saíram pérolas esvoaçantes, que se deram a conhecer por muitos nomes, Echo and the Bunnymen, The Cure, Dead Can Dance, Cocteau Twins, Peter Murphy, Sisters of Mercy, This Mortal Coil e, primeiro que todos, Joy Division.
Hoje, Anton Corbijn, mostra em Portugal o seu primeiro filme,chama-se Control e mostra-nos como um anjo negro abriu asas e voou para céus onde o azul era uma mera miragem.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Cars and girls



Umas das coisas que sempre admirei em Paddy McAloon e nos seus Prefab Sprout, para além da música soberba que compunham, era a desmistificação de uma série de clichés comuns a muitos rockers, que passavam por ser transversais nas "preocupações" e ambições dos jovens (e menos jovens) que os ouviam e idolatravam. Sobretudo os provenientes dos U.S.A..
O chamado rock'n'roll tem, quase por norma, a obrigação em falar de temas a que, aparentemente, os seus ouvintes atribuem uma importância vital. Ele são os amores mais ou menos falhados, a alta velocidade das vivências actuais, o desencanto perante a vida e, sobretudo, perante as gerações mais velhas; é um nunca acabar de rebeldias, muitas vezes de mera pacotilha! É, por isso, verdade indesmentível, que estes senhores (e senhoras) se consideram quase como deuses, como verdadeiros guias de gerações que os seguem numa via, a mais das vezes, sem saída. São os rebeldes sem causa definida. São aqueles para quem a vida se explica e é motivada pelos poucos minutos de uma canção que, normalmente, não lhes trará mais nada a não ser uma satisfação ilusória. Mas, como com orgulho dizem, it's only rock'n'roll and I like it!
Mas também há outro tipo de músicos e autores de canções, aqueles, como McAloon, que se entretêm a si próprios e a nós, seus fiéis ouvintes, a brincar com essa "seriedade" musical e geracional e nos mostram, de forma irónica, sorridente e genial, que na música, tal como na vida, há coisas muito mais importantes, divertidas e compensadoras que, simplesmente, cars and girls!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Papoilas !!!!


Já há muito tempo que não falo por aqui de futebol (entenda-se Benfica), até porque as razões para isso não têm abundado. Mas este fim de semana foi um verdadeiro fim de semana à Benfica!
Até que enfim!!!!!

Certezas




Dizem que a música é essencial para o nosso dia a dia. Que através dela se conseguem exprimir e experimentar as sensações mais sublimes de que somos capazes. Que nos torna mais libertos e disponíveis e que, por outro lado, nos faz pensar, reflectir, mas também dançar, descontrair. Acho que é verdade tudo isso. E muito mais que isso também. Tenho para mim que sou um ouvinte persistente de muita música, de muitas músicas. Alarguei, com o tempo, um espectro de músicas que, nos tempos da adolescência se resumia quase ao tipo de música que elegi como o melhor, não dando azo a que outros me pudessem "incomodar". É assim que se funciona nessa altura, não admitimos nada que nos possa "distrair" do que cremos ser o melhor, mesmo que, até possamos considerar que há outras coisas que mereçam essa pena. Na adolescência estamos muito certos daquilo que queremos e somos. Com o passar do tempo, no entanto, vamos tomando consciência de que existem outras coisas para além de nós e da nossa "tribo".
E foi por aí que comecei a ouvir todas as músicas que me surgiam pela frente. Desde a chamada clássica, ou erudita, passando por todos os tipos que cabem nesse grande chapéu de chuva a que chamamos música popular; o rock n'roll, o folk, o rock progressivo, o rock pesado, o punk, a new wave, o "urbano-depressivo", o grunge e por aí fora, mesmo aquelas que não cabem em compartimentos. E depois o leque também se pode alargar às diferentes proveniências; desde logo a anglo-saxónica, a maior fatia, mas também a portuguesa, a francesa, a italiana e a brasileira, por exemplo. E a seguir a grande distinção entre mainstream e a chamada alternativa.
O facto é que, neste emaranhado todo de tendências, de origens diferentes, de sons díspares e muitas vezes contraditórios, fui elegendo uns quantos como os mais favoritos, aqueles que, desde a primeira audição, se foram tornando companhias importantes, mesmo indispensáveis.
Já por aqui dei conta de umas quantas bandas que fizeram comigo esse caminho, e que, ainda hoje o fazem e, estou certo, o farão. E, por isso, apeteceu-me, tendo em consideração essa ideia sempre tão passível de erro e de subjectividade, eleger um conjunto de autores/compositores que creio serem os melhores de sempre. Estou certo que é uma escolha minha, pessoal e intransmissível, estou certo que não quero influenciar ninguém com ela, mas estou, sobretudo, certo que estou certo nesta escolha, que estes são, definitivamente, os melhores para mim, sem prejuízo de vir acrescentar mais algum num futuro próximo.
Às vezes é bom voltarmos a ser adolescentes e ter este tipo de certezas.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O Homem Foguete


Sempre achei que a música de Elton John era semelhante à fast-food! Músiquinhas agradáveis, prontas a consumir, mas que não ficam muito para além disso. Nunca teve, acho eu, um rasgo de génio. Teve algumas canções que duraram mais algum tempo que a maioria, Goodbye Yellow Brick Road, por exemplo, é uma delas. Mas poucas mais aliaram alguma qualidade à vertente mais comercial.
Sempre achei que as músicas de David Fonseca eram semelhantes à fast food! De alguma maneira agradáveis, de consumo rápido, passíveis de "assobiadelas", de tra-la-las, mas das quais não se pode, nem deve, esperar muito mais.
Sempre achei que a música de Kate Bush era um verdadeiro banquete para os sentidos! Densa mas, ao mesmo tempo, leve; de encher as medidas, mas deixando sempre espaço para mais; de cortar a respiração e fazer levitar!
Agora, por que raio, estou para aqui eu a falar destes senhores e desta senhora que, aparentemente, nada têm a ver uns com os outros. Porque têm!
Os três cantam uma música da autoria do primeiro. Uma música que na voz do primeiro era engraçada para se ouvir no banho; na voz do segundo caberia bem numa viagem de elevador mas que, na voz da senhora, se torna inesquecível!
Chama-se Rocket Man e sim, com Miss Kate parece que somos, de facto, guiados numa viagem pelas estrelas!

PALOP


No D.N.de hoje:

«Não é a primeira vez que Gabriel Drumond, deputado do PSD/Madeira e presidente do Fórum para a Autonomia da Madeira (FAMA), defende a independência da Madeira. Neste fim-de-semana o social-democrata madeirense disse que "se Portugal não atender às reivindicações madeirenses, em sede de revisão da Constituição", "a minha atitude é declararmos unilateralmente a independência na Assembleia Legislativa da Madeira (ALM)", disse aos microfones da TSF.»

Cá por mim apoio-o inteiramente!!!
Funcionava assim como uma espécie de Quitoso, livrava-nos de alguns empecilhos chatos!
E sempre se criava mais um PALOP!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A renovação da música popular


A propósito das visitas, por estes dias, de duas das bandas mais aclamadas do "novo" vanguardismo musical, Interpol e The Editors, das quais, embora sem conhecer a preceito, tenho uma boa imagem auditiva, chegou-me uma evidência que, como tal, me parece óbvia.
Estas músicas, estes sons, estas posturas, já têm mais de vinte anos, nada de novo se ouve aqui, nada de transcendente se faz aqui, não há deslumbramentos, não há inovações, há, apenas, um repegar em instantes que já foram "nossos" no principio dos anos 80. E, desculpem-me os mais novos, é sempre preferível ouvir os originais; porque os verdadeiros vanguardistas, neste sentido musical, ainda continuam a ser, apesar desta distância temporal, os Echo and the Bunnymen, os Teardrop Explodes, os Psycadhelic Furs, os Waterboys, os Cure, os U2, os Big Country, os Joy Division e tantos outros, que mesmo já nos tendo, alguns, deixado; deixaram, isso sim, o som que nos acompanha os dias e não nos deixa sozinhos a ouvir estas novidades que, afinal, já só nos fazem querer voltar atrás!

Emoções


O que será que faz o mundo girar?
Não, não me falem de forças gravitacionais, de químicas e físicas que só alguns iniciados entendem, de astronomias precisas, de rotações e translações cegas e frias.
O que faz o mundo girar são as pessoas! No entanto, também são elas que o fazem parar. E quer-me parecer que, nos nossos dias, está mais vezes parado do que em movimento. Vazio, estéril, fixo, imóvel, triste!
De quando em vez mexe-se. "E, no entanto, ela move-se" afirmava Galileu. Move-se sim, mas não no sentido que o astrónomo lhe dava. Move-se porque alguém sorri, move-se porque alguém pega numa flor e olha o Sol, move-se porque alguém dá as mãos e caminha, porque uma borboleta bate as asas e provoca um furacão, porque uma qualquer paisagem faz saltar o coração.
Ela move-se porque as emoções o permitem. É essa a sua força motriz. E, de cada vez que uma criança ri com vontade, de cada vez que um velho deixa cair uma lágrima de contentamento, de cada vez que uma memória aterra num coração e lhe dá brilho, o mundo avança mais um milímetro e assim vamos sabendo que a vida não mais irá acabar!

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Criações


Dou por mim, muitas vezes, a pensar na capacidade de criar! Na capacidade em ser criativo, em conseguir dar um passo mais além do comum, conseguir exteriorizar aquilo que a mente nos vai sugerindo, que a experiência nos vai ditando, que a inquietação nos vai desassossegando. Tenho, é certo, grande dificuldade em achar o sitio exacto, o momento certo, a força motivadora que origina essa capacidade. A vontade existe, a força impulsionadora também, mas falta a centelha que é capaz de iluminar tudo isso. Porque criar, criar a sério, resulta de um momento de génio, de um salto em frente no mundo que nos rodeia, numa tempestade interior que, por ser tão enorme e intensa, não pode ficar circunscrita ao nosso Eu. Aí sim, daí resultam obras que nos deixam a todos, comuns mortais, perfeitamente embasbacados perante a excelência, a maravilha, o deslumbramento.
Não acredito naqueles que dizem que uma obra-prima resulta de 10% de inspiração e de 90% de trabalho! Uma verdadeira obra-prima resulta só e apenas de inspiração, inspiração divina, inspiração indestrutível, momento único e irrepetível. Depois, em cada um de nós, pode haver aquela capacidade de aproveitar lampejos rápidos e fortuitos de outras tempestades mais pequenas e torná-las em obras maiores.
Lobo Antunes, que é, indubitavelmente, um dos "iluminados", disse um dia: «Eu penso que aquilo que faz com que nós continuemos vivos e capazes de criar é isso mesmo, uma inquietação constante. Sem ela não pode haver criação, quem não põe sempre tudo em causa, arrisca-se a ter uma vida interior de três assoalhadas, num bairro económico.»E eu acredito que sim, que quase todos nós vivemos nessa três assoalhadas; que visitamos outras e outras, até algumas maiorzinhas, mas não nos conseguimos libertar de uns condomínios diminutos que nos acompanham ao longo de toda uma vida.
Grandes castelos implicam grandes inquietações e depois, quem muito se inquieta dificilmente voltará a pequenas casas e esse retorno impossível implica ainda outra coisa. Implica um distanciamento deste mundo que é o nosso, implica um afastamento das pessoas que o habitam, implica a marginalização do inquietado e por aí socorro-me outra vez de Lobo Antunes: «No fundo o que é um maluco? É qualquer coisa de diferente, um marginal, uma pessoa que não produz imediatamente. Há muitas formas de a sociedade lidar com estes marginais. Ou é engoli-los, transformá-los em artistas, em profetas, em arautos de uma nova civilização, ou então vomitá-los em hospitais psiquiátricos.»Ou, direi eu, tudo isso junto!
De qualquer forma, acrescento, o que seria de nós se não surgissem, de quando em vez, alguns malucos que nos mostram a verdadeira face de Deus!!!

O remate final!


Gosto muito daquilo a que costumo chamar "os remates finais". Valorizo bastante um texto, um filme, uma música, um livro, que tenha um bom remate final.
Por vezes basta-me isso para ficar com a boca adoçada, para me sentir satisfeito, para que o sorriso aflore e se mantenha.
Aquilo que antecedeu o final até pode nem ter sido muito bom; o tédio pode ter marcado uma presença constante, a possibilidade de deixar "a coisa" a meio até pode ter tido muita força, mas, se por alguma razão, ou emoção, chego ao fim e o remate me sorri, então valeu a pena, assim me sinto completamente recompensado.
Eu próprio, nas coisas que vou fazendo, sobretudo no que vou escrevendo, noutros lados mas também aqui, tento fazer com que o final seja bem rematado, que faça sorrir, pensar, admirar, beliscar, chatear, chocar ou simplesmente pairar... mas que agrade, que seja um bom final, nem triste, nem feliz, mas que seja bom e que, afinal, permita uma coisa... um novo (re)começo!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Parabéns Neil e Obrigado


Há amigos que nunca chegamos a conhecer pessoalmente. Há partilhas que são, aparentemente, desconhecidas pelas "partes" envolvidas. Mas que se tornam em grandes, enormes, amizades e em partilhas indispensáveis, fundamentais, maiores!
São conhecimentos que nos engrandecem, nos tornam melhores e mais fortes, pelo menos interiormente e isso, mesmo sem darmos conta, reflecte-se cá fora.
«Knowledge is a curse -
But ignorance is worse, I fear.
Would you agree, my dear?»
[Three Sisters, Liberation-1993]
Esses amigos vão-nos contando (e cantando) histórias que nos dão gozo; nos fazem sorrir e pensar; nos põem bem dispostos e com vontade, até, de dançar. Nos fazem rir.
«You don't really love me
And I don't really mind –
'Cause I don't love anybody,
That stuff is just a waste of time.
Your place or mine?»
[The Frog Princess, Casanova-1996]
Nessas partilhas comungamos os mesmos sentimentos, as mesmas dores e alegrias e sobretudo estamos muito de acordo, até mesmo quando os pontos de vista não coincidem.
«When I fall asleep
It could be forever,
So I'll never fall asleep
Again.»
[Timewatching, A Short Album about Love-1997]
Falamos do mundo em geral e das nossas preocupações mais particulares, até das filosóficas, para as quais nenhum de nós tem resposta efectiva.
«And when we die,
Oh, will we be
That disappointed or sad
If heaven doesn't exist?
What will we have missed?
This life is the best
We’ve ever had»
[Tonight we Fly, Promenade-1994]
E gostamos também de falar de trivialidades, que bem no fundo nada têm de trivial. Até, por aqui, se pode falar de esperanças e boas intenções.
«Beat stress and rebalance your life
All you need to do
Is forget all the useless advice
And live your life for you
Don't let them sell you impossible dreams
Don't be a slave to the beauty regime
Look again in the mirror and see
Exactly how perfect you are»
[The Beauty Regime, Regeneration-2001]
E nessas esperanças falamos também dos filhos e de toda uma enormidade de coisas que lhes desejamos, dos receios naturais, das alegrias normais e de um nunca acabar de bons desejos.
«When I hold you in my arms
And look back on my charmed life, my charmed life,
I hope, baby I hope if nothing more
That one day you'll call your life a charmed life.»
[Charmed Life, Absent Friends-2004]
Também confessamos as nossa desilusões, os falhanços que vamos tendo, o que queríamos fazer bem, mas, afinal...
«All through this short life we give of ourselves
Giving and giving and slowly diminishing
Leaving a mark that will gradually fade
Ash in the breeze, snowballs in negative»
[Snowball in Negative, Victory for the Comic Muse-2006]
Mas logo a seguir sorrimos outra vez e acreditamos em coisas boas, porque são essas coisas boas que nos fazem acreditar que o optimismo é meio caminho andado para as certezas inabaláveis de que outros dias virão e serão melhores.
«A butterfly flies through the forest rain
And turns the wind to the hurricane, yeah.
I know that it will happen,
'Cause I believe in the certainty of chance!
(Certainty of chance)
The certainty of chance!
(Certainty of chance)»
[The Certainty of Chance, Fin de Siécle-1998]
Quando acabamos a conversa temos a consciência de que ficámos maiores, mais completos e felizes e sabemos que nos vamos voltar a ver e a falar dentro de pouco tempo, porque estes amigos fazem parte de nós, vivem em nós e nunca nos abandonarão. Sorrimos.
«I hate unhappy endings,
And there doesn’t have to be one!»
[Tailspin, Fanfare for the Comic Muse-1990]
Parabéns Neil, pelos teus 37 anos. Obrigado Neil, por tantas horas partilhadas, por tantos sorrisos comungados, por tanta conversa sem fim, por tanta alegria duradoura.
Até já, meu amigo!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A placa na parede


Em ano de centenário do nascimento de Hergé, aqui fica mais uma homenagem neste blog, que se assume como tintinófilo até à medula.
A foto da casa onde o mestre nasceu. Ou, pelo menos, uma parede da mesma!!!

Manias (musicais)


Confesso que me faz uma certa confusão a velocidade surpreendente com que os suportes musicais se vão alterando. Ou seja, ainda mal saí do vinil e os cds já estão ultrapassados!!!
Fiz toda a minha juventude de ouvinte atento das últimas novidades musicais através, sobretudo, da rádio, dos discos de vinil e, um pouco menos, das cassetes que alguns amigos me emprestavam; nunca gostei de gravar as músicas dos álbuns ou dos singles, aliás sempre que gostava de alguma música, ou músicas, preferia comprar o LP onde estas estavam inseridas. Também nunca fui muito adepto do conceito de single. Sempre achei que os longa duração é que interessavam, ali se podia ver e ouvir a verdadeira essência das músicas, inseridas num universo mais vasto do que aqueles poucos minutos que durava o single e que estava, cria eu, completamente desajustado de enquadramento e contextualização musical e mesmo temática. Creio que isto se deveu, muito, ao gosto que cultivava junto do chamado rock progressivo, pioneiro dos chamados concept albuns, onde as músicas só faziam sentido se ouvidas no conjunto para o qual tinham sido criadas, ou seja, o próprio álbum. Depois, mesmo gostando das novas tendências musicais que foram surgindo ao longo dos anos, sempre tive este gosto (quase necessidade) de só ouvir os álbuns e nunca descontextualizar as músicas ligando apenas aos singles. Com os cds, aos quais aderi muito mais tarde que a maioria das outras pessoas, o conceito de single, creio, perdeu-se um pouco. Eu, por mim, estava à vontade, demorei a aderir ao cd, mas quando aderi fi-lo com a mesma vontade do LP. O disco era mais pequeno, mas continuava a haver o longa duração; podíamos, na mesma, possuir o disco completo, continuava a ser possível ter discos com capas, com letras, com fotos ou desenhos, com identidade!
Hoje, parace que está tudo a mudar outra vez. A internet, os iPods e a grande quantidade de sítios onde pudemos ir buscar músicas, todas as músicas, independentes umas das outras, revolucionou, mais uma vez os conceitos de que falava atrás. Hoje, o novo single ganha em toda a linha. Vamos ao iTunes e escolhemos 30 mil músicas de 30 mil autores, misturamo-las todas no nosso leitor mp3 e fazemos os nossos discos. É democrático, é! Mas não é bonito! As músicas perdem identidade, contexto, forma, ficam avulsas na nossa memória, já não fazem parte de um todo, já não as associamos a um disco, a uma capa, a ocasiões especiais. É pena!
Eu ainda não aderi ao iPod. Mais cedo ou mais tarde lá chegarei, é inevitável, mas acho, por agora, que não vou encher o meu leitor de canções desgarradas. Acho que copiarei álbuns inteiros de uma penada e acho ainda que irei copiar os discos que já tenho, até porque tenho uma mania estranha, também acho que todas as músicas de que gosto e gostarei a sério, já foram inventadas e já as tenho comigo! Manias!

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Memorial do Convento


Comemoram-se este mês os 25 anos da publicação de Memorial do Convento, ao mesmo tempo que Saramago vai completar 85 anos.
Este foi o primeiro livro deste autor que li e, mesmo depois de já ter lidos muitos outros, continua a ser aquele de que mais gostei. Ali encontrei uma nova forma de contar histórias, de contar a nossa História, de entender a cidade de Lisboa e alguns dos seus personagens mais peculiares,personagens reais, inventados, personagens que lhe dão vida e muita cor. Blimunda e Baltazar, o soldado maneta, são duas das maiores criações livrescas, atrevo-me a dizer, de toda a literatura portuguesa. Saramago criou, neste romance, uma nova forma de escrever, muito aplaudida, mas também muito criticada. De qualquer forma a sua veia polémica e, sobretudo, a sua capacidade de escrita e de contador de histórias é, obviamente, única e acima de qualquer média. O Nobel não é, certamente, de somenos importância.
Depois deste li quase todos os outros romances que deu à estampa. De todos estes só me apeguei convictamente a mais dois, a Jangada de Pedra e O Ensaio Sobre a Cegueira, também eles marcos maiores nas letras que se escrevem em português.
Continua, no entanto, a ser O Memorial do Convento aquele que mais me faz gostar de Saramago e sobretudo da sua escrita singular.
Que Saramago nos permita continuar a viajar por estes céus, onde a Passarola de Bartolomeu de Gusmão ainda voa com a ajuda dos poderes únicos de Blimunda.