quinta-feira, 5 de março de 2009

Erudições


Já ia adiantado nos meus teens, quando, por alturas do chamado boom do rock português, ao ouvir um dos muitos discos de uma das novas bandas, me dei conta de uma frase que me ficou continuamente a bater.
Faço das palavras, sons e gestos, a grande alquimia de estar vivo!
Para alguém em estado adiantado de adolescência, com ambições a alguma erudição, ainda que algo ingénua, aquela frase significava uma boa síntese daquilo que eu julgava ser uma espécie de poesia moderna e urbana que devia vingar, por oposição aquilo que os canhenhos que estudava na escola me queriam impingir. À chatice que me vinha da lírica de Camões ou da estopada de um Garrett romântico, havia alguém que era do meu tempo, que fazia música agradável e que, ainda por cima, conseguia dar-me frases que faziam todo o sentido.
Cheguei, por isso, a escrever aquelas palavras na capa escolar que me acompanhava todos os dias.
Depois cresci, aprendi a ler outras coisas, mesmo as mais antigas, descobri um novo mundo e sobretudo aprendi que a erudição não se ganha com meia dúzia de leituras, visualizações e audições. Humildemente comecei a procurá-la, caminho que continuo a percorrer hoje em dia. Não tenciono, nem consigo, adquiri-la em definitivo, parece-me essa uma tarefa inglória. No entanto quero manter esta vontade de a ir conhecendo aos bocadinhos, de me ir completando, de juntar todas as palavras, sons e gestos e garantir que, afinal, eles ainda contribuem, em larga medida, para a concretização desta enorme alquimia que vale a pena ser vivida!

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