segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Cameos


Geralmente gosto de ver, ouvir e ler, referências inesperadas dentro de livros, filmes e músicas.
Gosto, sobretudo, de perceber essas referências quando não são evidentes, quando há uma descoberta repentina, fortuita. Como, quando numa música original se ouvem, discretos, alguns acordes de uma música muito conhecida, ou quando numa obra literária nos espreita, de um qualquer canto remoto, uma personagem que vive num outro sitio, ou quando um autor faz reviver uma sua personagem em várias das suas histórias, criando assim uma continuidade referencial na totalidade da sua obra, ou ainda quando num filme o seu realizador nos surge numa imagem, de rompante, de fugida, piscando-nos o olho, deixando-nos como que uma espécie de marca de água, impressa a cores e em movimento.
São momentos que nos remetem para a história das imagens, sons e palavras, para memórias que queremos manter vivas, para momentos que nos acordam quando nos sentimos adormecer, são despertadores de mentes, são, se quisermos, sorrisos que nos acalentam o espírito, desafiadores de reminiscências e propiciadores de ideias.
Eu gosto desta espécie de jogo, faz-me lembrar, sentir que consigo reconhecer aquilo que me vai formando enquanto leitor, espectador, ouvinte, aquilo que me vai enchendo de conhecimentos e lembranças que, se mais não significassem, quereriam sempre dizer que estou vivo e que tenho memória.

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