terça-feira, 7 de abril de 2009

Tempestades


« - O Secular das Nuvens é quem faz as tempestades. Anda pelas nuvens a batalhar e faz as tempestades e leva-as para onde ele quer. (…)
- Do que eu gostava era de ser um Secular das Nuvens. Era isso que eu queria. (…)
E assim, à meia-noite, Gonçalo Nuno Mesquita de Reboredo e Sande, herdeiro dos condes de São Sadorninho, e José Eduardo Pintado, em toda a vida Zé da Pinta, entoaram a Encomendação das Almas em recíproca intenção. (…)
Para formar um Secular das Nuvens mata-se um homem, mas tem de ser devagar e por partes. (…) Tem de se cortar tudo até à cabeça sem perder nada. (…) Mete-se tudo dentro de uma tina(…). Ao fim de algum tempo, sai o Secular das Nuvens e vai cumprir o seu fadário. (…)
Pelas três horas da manhã, rebentou uma formidável tempestade. (…) tinha dois núcleos, duas nuvens gigantescas (…) os trovões que abalavam os ares eram dois tons, um cavo e profundo, outro mais estridente e metálico. Baixo e tenor.»

João Aguiar – A Encomendação das Almas, 1995

É na vontade sincera que, muito provavelmente, reside toda a força necessária, mesmo que doa, mesmo que não haja retorno, mesmo que o destino seja vogar sem destino.
É esse o material de que são feitos os sonhos. De vontades que permitem tornar os destinos em caminhos únicos, onde o único retorno é o consolo de saber que podemos voltar a nós sempre que o desejarmos.

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