quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Cegueiras


«Invisuais protestam contra "Ensaio sobre a cegueira"
Citado pela Associated Press, o presidente da Federação Nacional dos Invisuais [dos USA], Marc Maurer, afirmou terça-feira que a cegueira não é uma "alegoria muito inteligente para falar sobre o colapso da sociedade".
"O filme retrata as pessoas cegas como monstros e isso é mentira. A cegueira não transforma pessoas decentes em monstros", indignou-se Marc Maurer.»


Claro que não!!! Agora é provável que, não tendo tornado este senhor apto a dizer imbecilidades, também não o impediu de o fazer. A cegueira deve ser um mal horrível. Conseguir andar neste mundo pré programado para aqueles que vêem, sem ter capacidade para o fazer é, certamente, um peso muito grande. Creio que todos os cegos e outros incapacitados visuais deste mundo devem lutar com todas as suas forças para tornarem as sociedades mais prontas a facilitar-lhes o quotidiano da vida em comunidade.
O que é caricato aqui é o que estes invisuais querem fazer. Protestar contra um filme porque este utiliza a cegueira como mote para dizer algo mais sobre a sociedade global? Mas não é isso que fazemos todos os dias? Utilizar as várias formas de comunicação e de arte para estabelecermos paralelismos? Para darmos soluções? Para alertarmos? E tanto podemos usar cegos, como coxos, como gays, como velhos, como novos, como negros, brancos ou vermelhos, etc, etc.
Eu ainda não vi o filme, mas já li o livro, que considero como um dos melhores de Saramago e monstros só lá vi aqueles que nós vamos criando a partir das nossas fragilidades, dos nossos temores e inseguranças, aqueles que nós criamos quando tentamos sobreviver a todo o custo! No fundo, monstros podemos ser todos nós se as circunstâncias nos levarem a isso e nunca por sermos, ou ficarmos, cegos.
O que me parece é que este senhor (e a sua associação) para além da sua cegueira objectiva, padece de um outro mal, este sim deveras preocupante, mas felizmente tratável. O de uma imbecilidade e de uma tacanhez que não lhe permite ver além daquilo que os seus interesses mesquinhos (ou será que não são tão mesquinhos?) o deixam perceber!

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