quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A verdadeira livraria


Nos tempos que correm, há já muito tempo, tudo se vende, tudo se compra. Aparentemente não há limites, mesmo para aquelas coisas que nunca pensamos ser passíveis de trocas pecuniárias!
Nesta desenfreada rendição ao deus cifrão, há alguns objectos que deviam merecer mais respeito, digamos mais seriedade, maior culto, porque são, sem dúvida, objectos de culto. Falo dos livros.
Os processos editoriais, como quaisquer outros sedentos de lucro, não olham a meios para publicar, para publicar de tudo, como se escrever e ler não fossem, como são, actividades maiores. Qualquer cara conhecida do público é incitada a escrever, mesmo que não saiba, como acontece amiúde, juntar duas palavras com sentido. A sua figura na capa de um livro é sucesso de vendas garantido. Ora isso vem rebaixar não só a arte da escrita, como a arte da leitura e até a nobre arte de ser livreiro. Daqueles que se apegam aos livros, daqueles para quem a venda de um livro se reveste de um acto quase litúrgico. Para isso existiam verdadeiras livrarias e não meros armazéns de aglomerados de páginas escritas, como agora se verifica. Para isso quem vendia os livros sabia do que se tratava, sabia como cuidar, quer de quem escrevia, quer de quem procurava, nesses templos, o saber como via para completar a sua curiosidade natural e a sua sede de conhecimento. A verdadeira livraria pulsava com a vida que guardava dentro dos livros que oferecia. A verdadeira livraria chegava a guardar os livros para que só fossem vendidos a quem os merecesse. Hoje a tristeza invade os sítios onde se vendem livros por atacado, tal como grassa na alma daqueles que ainda consideram os livros como dotados de alma própria e não como meio de afirmar pessoas que nem sequer sabem ler!

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