segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
O fim do cinema Quarteto
Já houve um tempo em que ir ao cinema era quase uma profissão de fé. Em que frequentar algumas salas de cinema era o mesmo que tomar uma atitude perante os ditames de algumas modas, que, como é norma, nos tentam massificar e desindividualizar.
Íamos ao cinema porque gostávamos de VER filmes, porque os filmes nos diziam algo, nos ensinavam coisas, nos entretinham e davam um imenso prazer também. Não íamos ao cinema comer pipocas, nem tagarelar animadamente com o grupo que nos acompanhava. Ir ao cinema era quase um acto sagrado, íamos sozinhos, porque a observação da verdadeira arte é um acto individual, solitário e único.
Por isso elegíamos algumas salas onde essa opção era possível, e, houve alturas, em que isso era possível em muitos locais. Depois começaram a rarear, hoje quase não existem. Hoje quase todas as salas são multiplex, ou lá como se diz, e ficam situadas dentro de shopping centers, ou lá como lhes chamam. O cinema, como também é normalmente entendido nos nossos dias, não é mais arte, não é mais puro prazer, é comércio e indústria, trocas feitas em hora e meia de algazarra e pipocas em frente ao écran.
Há quinze dias o Quarteto foi encerrado. Dizem as novas exigências de segurança que o cinema não tinhas as condições exigíveis em salas deste tipo. Acredito que seja verdade. Em muitos anos de frequência, é facto que as salas sempre foram obscuras, com muitos degraus, com materiais inflamáveis, etc, etc. Mas, se calhar, por causa desse obscurantismo, de um certo ar "bafiento", escuro, negro, sempre foram atractivas para quem gostava de cinema. O Quarteto até pode não abrir mais, ou abrir descaracterizado, mas também já não faz mal. A memória do cinema em Portugal faz-se muito pelo que se passou naquele espaço, a arte do cinema em Portugal deve muito aquele sitio e hoje quem vai ver cinema, às actuais salas, não quer saber disso. Quem vai ver cinema, às actuais salas, quer despachar rapidamente o filme porque tem que ir às compras naquela loja que existe logo à saída da sala.
Hoje por hoje, quem gosta de cinema não o vê, lembra-se...
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