quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O demónio branco


No inicio dos anos 50, Hergé entrava em depressão. Muitos anos de Tintin, vários problemas pessoais, davam-lhe a "volta" à cabeça e teimavam em paralisá-lo enquanto criador e até enquanto pessoa.
São recorrentes os seus sonhos em branco, em que paisagens de um branco imaculado se sobrepõem a tudo o resto, assustadoras diria.
Para poder fazer face aos seus problemas, resolve consultar um psicólogo suíço, discípulo de Carl Jung.
Depois de alguma conversa e análise, surge o diagnóstico em forma de conselho e sugestão. Hergé terá de parar o seu trabalho e sobretudo terá que exorcizar aquilo a que o psicólogo chamou "os demónios da pureza"!
A imensidão de branco significava uma avalancha de pureza e, ao que parece, a pureza não é um bem em si. Esconde demónios, que, ao apanhar-nos desprevenidos, podem ser tão ou mais perigosos do que aqueles que, normalmente, associamos ao negro, ao escuro, às trevas.
Mais perigosos porque surgem por caminhos que julgamos seguros, que associamos ao bem, à claridade, à luz. Quando se soltam, no entanto, cravam-nos as suas garras frias e cegas e dilaceram-nos a alma.
A pureza não é, afinal, tão pura assim...

Depois destas sessões, Hergé resolveu, mesmo assim, continuar a trabalhar e publicou aquele que é um dos maiores hinos, já escritos, à amizade: Tintin no Tibete.
O demónio branco não conseguiu vencer, a verdadeira amizade sobreviveu às suas garras...

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