terça-feira, 20 de maio de 2008

Nostalgias à chuva


Lembro-me de, em criança, nos dias como o de hoje, cinzentos com a chuva miudinha a molhar tudo lá fora, ficar em casa, a olhá-la pela janela, vê-la encharcar tudo em redor e pensar no que fazer, sem televisão para ver; porque à tarde só se viam as aulas da tele-escola; sem amigos para brincar, porque todos estavam nas respectivas casas evitando assim uma constipação arreliadora. E eu ficava ali olhando, esperando o tempo passar, ouvindo no rádio a onda-média do Rádio Clube ou da Emissora Nacional e depois, inevitavelmente, pegava num livro. Num dos Cinco, ou nalgum Tintin ou Astérix, que me faziam maravilhas e deixava-me levar para aqueles mundos fantásticos, que me absorviam todos os sentidos e me transportavam para lá da chuva, da janela, daquela casa onde me sentia seguro.
Sinto hoje alguma nostalgia desse tempo, sobretudo desses lugares onde aprendi a viver histórias boas, reconfortantes, das lutas imaginárias, dos medos próprios da idade, das interrogações que, apesar de tudo, sempre surgiam.
Dias como este, com a chuvinha a molhar-nos os sentidos, fazem-me, por momentos, revisitar esses lugares quase perdidos na minha memória e fazem-me sorrir, não com vontade de lá voltar, mas com a certeza de que os mantenho vivos dentro de mim.

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