segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sábado à tarde na Avenida...


Juntam-se aos magotes, grandes magotes, enormes magotes, magotões! E dançam, cantam, gritam, desfilam empunhando bandeirinhas, arquinhos, cartazes. Vêm de todos os lados, como compelidos por alguma força inominável que os traz presos de uma cegueira incontornável, que não os deixa ver para além daquela coisa que tanto os compele a festejar!
Perdem dias assim, a pensar como se vão reunir, a imaginar como se hão-de vestir, a congeminar como se hão-de deslocar, a ensaiar o que hão-de dizer, o que irão cantar, como irão dançar.
Não se preocupam então com nada mais, só com essa viciante saída, com essa inebriante manifestação de uma incontrolável força que não lhes dá descanso, não lhes dá outro alento que não seja esse, o de ver e ser visto, o de se mostrar e julgar que alcançaram um qualquer nirvana de onde sairão (se saírem) mais iluminados.
Pois é, poderia ser uma qualquer festa de aldeia, uma rave inolvidável, uma celebração dionisíaca, uma sessão IURDana, mas não, falo apenas das 120 mil almas que se reuniram na baixa lisboeta no passado sábado, gritando, dançando, desfilando, mostrando apenas que o que mais lhe interessa são as farras, os inconsequentes festejos de quem já nem outro argumento consegue arranjar para sair à rua que não seja: tenho tantos papéis para preencher que não me sobra tempo para preparar as aulas. Que tal se tivessem aproveitado o sábado para o fazer, hein? Boa ideia não?

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