Lisboa...

Lisboa é uma cidade pequena, quase toda a gente se conhece, ou pelo menos conhece alguém que conhece alguém que conhece alguém. Lisboa é uma cidade triste, vazia, nova-rica, engravatada e pior, mal engravatada. Lisboa está pejada de meninos cinzentos, que passeiam as suas gravatas e os seus fatos escuros, com sorrisos vagos e falsos; de meninas de saia-casaco que correm atrás de nem sabem bem o quê. Lisboa está cheia de gente apressada, que nunca tem tempo para nada. Lisboa está deserta, nem os turistas a alegram, nem turistas se vêem por aqui, para quê? O que tem Lisboa para lhes mostrar? Lisboa teve laivos de novo riquismo, cresceu sem saber bem para onde, sem saber bem porquê e gostou dessa nova vida. Surgiram prédios estranhos, carros novos de grande cilindrada, bancos, serviços, expos, estádios, fogo de artificio, muito fogo de artificio que estralhadaça e depois morre. E Lisboa está a morrer, com um sorriso nos lábios, moribunda sem se aperceber, mas vai caindo, como caem os seus mais bonitos momentos. Lisboa pata-brava, sem beleza que lhe resista. Lisboa suja, Lisboa esburacada, Lisboa esquecida, Lisboa sem História, Lisboa que ainda não sabe que o seu tempo já passou, Lisboa que nos olha sem nos ver, que levanta ainda a cabeça, mas que não sabe que as sua rugas são irreparáveis. Lisboa acorda! Acorda de vez, despe o fato e a gravata, deixa de ser cinzenta, salta para fora de ti, abre a tua luz e vive! Não te deixes governar pela ganância que redunda no desprezo por ti própria, não te deixes levar pelo gosto fácil pelo dinheiro que mal tens, mas que julgas ter, não te deixes ficar presa à glória efémera, pretensiosa e insignificante daqueles que te julgam governar, que julgam que têm o poder de te fazer aquilo que não desejas.
Temo por ti Lisboa, como temo pelo país onde estás, pelas gentes que te vivem, pelas gentes que não te olham e não te sabem, mas que te destroem. Temo a chegada do dia em que não haverá nada a fazer.
Que pena ser esta a gente que tens...