terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Da(s) Literatura(s)


Entre os pivots dos telejornais da RTP e da SIC, houve sempre uma atitude competitiva, senão completamente expressa, pelo menos muito latente. Hoje, alguns desses antigos adversários encontram-se na mesma casa, mas outros há que se mantêm fiéis à sua estação.
Também no mundo dos livros, dois desses jornalistas se confrontam. Dito assim parece que estão em competição por melhores resultados, por mais leitores, embora, no fundo, não creia que isso suceda efectivamente. O que se passa é que dois dos rostos mais conhecidos daquelas estações são, também, escritores. E se José Rodrigues dos Santos é um campeão de vendas, tendo os seus livros originado várias edições e muitos milhares de exemplares vendidos, já Rodrigo Guedes de Carvalho tem sido mais comedido nesses aspectos. E só nesses aspectos! Por que em termos literários não são comparáveis. Rodrigo Guedes de Carvalho escreve com alma, com garra, com suor e raiva, mas também com beleza, com a subtilidade própria dos artesãos da palavra, dos contadores de histórias que vão ao fundo das almas das suas personagens e as tornam mais humanas, mais próximas de nós, maiores que a vida que nos mostram.
Não quero, contudo, menosprezar o José, quero, apenas, realçar o Rodrigo, a sua escrita refinada, de filigranas rudes, de diamantes brutos mas muito belos. Na senda de alguma literatura portuguesa que faz gala em desmontar as suas próprias personagens, com uma linguagem que, sendo comum, passa muito para além da factualidade.
Acabei há poucos dias de ler Canário, o seu mais recente romance e já comecei a ler um outro. E penitencio-me por não ter acreditado há mais tempo neste ESCRITOR. Rodrigo Guedes de Carvalho é um verdadeiro contador de histórias que mexem connosco, que nos sobressaltam e fazem pensar. E sabe mexer nas palavras, dar-lhes a medida certa, colocá-las no sitio exacto, na altura precisa.
Não é um debitador, é um verdadeiro criador. Assim dá gosto ler, assim dá gosto ser abanado, assim se faz literatura!

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