terça-feira, 19 de maio de 2009

Tangerinas


Gostava de estar sentado na marquise da casa dos avós, a olhar as nuvens que lá fora iam passando devagar, ouvindo o vento que abanava as folhas do limoeiro que ficava mesmo em frente da grande janela. Quando o tempo estava bom, descia ao pequeno quintal e aí brincava por entre os canteiros de onde pendiam os brincos de princesa. No Outono ia apanhando as tangerinas que lhe adoçavam aqueles momentos únicos. Por vezes montava o triciclo e serpenteava por entre os minúsculos caminhos que rodeavam aquele jardinzinho que lhe parecia um enorme mundo.
A avó contava-lhe histórias verdadeiras; memórias e invenções pacientes, misturadas numa alegre composição de quem tem tempo para colorir as horas das intermináveis tardes dos verões infantis, quando o mundo era ainda uma criança que sorria perante a infinitude das suas alegrias.
Ao abrir os olhos, agora, nota que no jardim já não existem canteiros, que as árvores já não dão frutos e que as histórias da avó são hoje as suas próprias memórias. Percebeu que as alegrias não são infinitas e que os verões têm fim.
No entanto, as tangerinas continuam a ser doces, as nuvens continuam a passar devagar e as histórias, mesmo as verdadeiras, continuam a fazer sentido quando se enchem de invenções pacientes que as tornam eternas.

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