terça-feira, 26 de maio de 2009

A morte dum soldado (a partir de Capa)


(Robert Capa)


Malditos fascistas!
O grito mal contido saiu-lhe da garganta com a força duma bala disparada na direcção daqueles que o tentavam matar.
Para ele aquele era um pleonasmo óbvio, cheio de uma pujança que lhe era dada pela força das suas convicções e por tudo o que tinha assistido durante aquela guerra infernal.
A seu lado Jordi agonizava, olhava para ele com olhos cheios de uma dor profunda, perdidos num longínquo horizonte, que não era o daquele negrume que dali se via.
Lembrou-se dos primeiros dias. De como estavam convictos da justeza da sua entrega à luta. De como era exaltante verem chegar todos aqueles estrangeiros que a eles se vinham aliar, unidos contra a tirania que estava do outro lado.
Lembrava-se particularmente do inglês, George, e das bonitas histórias que lhes contava. De como se alentavam com o que ele lhes dizia, de como estavam certos de estar certos.
Hoje tudo estava diferente. Aqueles malditos cabrões estavam por todo o lado. Os alemães tinham chegado com as suas máquinas voadoras, os portugueses não os deixavam passar. Tinham acontecido traições várias no seu lado, no lado certo que se tinha transformado em tantos lados errados.
Agora estava ali preso naquele buraco, com os filhos da puta dos falangistas por todo o lado.
Jordi já tinha fechado os olhos. Ninguém respirava à sua volta, mal ouvia a sua própria respiração.
Levantou então a cabeça, olhou para a frente e começo a subir o buraco.
Não me apanharão aqueles cobardes.
Disse para si próprio no exacto momento em que saiu por completo do buraco.
Empunhou então a espingarda, gritou toda a sua revolta e correu para frente…

Sem comentários: