terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A Afirmação de Pereira!


Portugal, no final dos anos 30, seria um país cinzento, com poucos raios de sol que conseguissem iluminar e aquecer aqueles que procuravam viver e vencer as contrariedades que, constantemente, se lhes apresentavam.
Lisboa, apesar de alguma vivacidade, própria de uma cidade que nunca se deixa abater, mesmo quando tantos o tentam, seria uma cidade amordaçada, retraída, entre os muros, cada vez maiores, de uma repressão cega que conseguia tornar escura a cidade branca das mil cores. Mesmo aqueles que sabiam mais alguma coisa para além das trivialidades, se sentiam amarrados a dúvidas, a medos, açaimados perante a estupidificante coibição que lhes era imposta pelos esbirros que, na altura, iam aprendendo e praticando as maneiras de desprezar a vida humana e a capacidade de pensar, de ser pessoa!
Nessa cidade branca das mil cores que, a todo o custo, os poderosos queriam tornar cinzenta, surgiu Pereira, discreto jornalista que se foi apercebendo que a sua vida poderia fazer a diferença, poderia tornar-se pessoa, libertar-se dos grilhões que, lenta e eficazmente, lhe iam impondo, que o iam matando sem quase se aperceber e num rasgo individualista, mas simbólico, Pereira tirou o casaco, alargou o nó da gravata, pegou na mala e abriu as portas ao mundo! Libertando-se, libertou um pouco de todos aqueles que se mantinham presos à escuridão.
Tabucchi o criou, Faenza o mostrou, Mastroianni lhe deu alma! Três italianos, filhos de um fascismo cruel, mostraram-nos, aos enteados portugueses, que é na firmeza e no ideal de cada um de nós que pode residir a esperança!

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