segunda-feira, 9 de junho de 2008
O descampado
Ontem passei ali em Entrecampos. O semáforo ficou vermelho e ao parar o carro olhei para a minha direita. Vi um descampado enorme, cheio de entulho, ruínas e coberto de uma erva selvagem. Lembrei-me de como há alguns anos atrás gostava de ir ali. Pelo menos uma vez por ano, quando o tempo aquecia, eu lá ia. Era quase uma tradição. Ia quando era criança e continuei a ir depois dos meus filhos nascerem. Passando-lhes aquele gosto singular que era o de um fim de tarde e noite passados num ambiente tranquilamente buliçoso, agradavelmente barulhento, com muitas brincadeiras disponíveis, com o cheiro a sardinha e a frango assado a pairar no ar morno de uma noite de verão.
Não era o supra-sumo das noites lisboetas, mas eram, sem dúvida, momentos muito agradáveis, bem passados e divertidos.
Hoje o desalento e a vergonha pairam por aqueles lados. Ficou ali um enorme monumento a interesses mesquinhos, a uma péssima gestão do espaço público, a especulações vazias de conteúdo, sem preocupação pelas pessoas, pelos que lá viviam e pelos que lá gostavam de passear.
Assim continua a morrer uma certa Lisboa. Uma certa ideia e prática lisboeta velha de anos, mas sempre presente nos corações daqueles que gostam desta cidade. Assim se vai construindo uma nova cidade, vazia de emoção, isenta de História, que morre lentamente, sem quase nos apercebermos que a sua alma nos vai deixando irremediavelmente. Sem retorno!
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