terça-feira, 3 de junho de 2008

As Palavras Coladas


Quando crianças cada dia é uma odisseia. Novos desafios, novas descobertas, novos jogos, novos movimentos, novas palavras. Conceitos que os irão ajudar, ferramentas de que irão precisar. Os adultos à sua volta sorriem quando percebem essas descobertas, passam-lhes a mão pela cabeça e até podem encorajar a fazer melhor. Os pequenos sorriem agradados e voltam à descoberta.
Entretanto vão crescendo e parece que algumas dessas coisas vão ficando para trás, tornam-se corriqueiras de tão usadas. Já não são mais descobertas, são de uso constante, passam a fazer parte, tal como a mão e os seus dedos.
Mas, por vezes, recordam-se e voltam a descobrir que há palavras, conceitos que lhes ficaram colados, como que cristalizados lá atrás, assim se mantendo. Comigo também isso sucede. Quando, quase inesperadamente, essas coisas voltam a assomar, é como se recuasse no tempo e uma quantidade enorme de memórias me transportassem a esses tempos quase esquecidos.
Lembro-me então que o Manel era a tasca onde comprava os rebuçados que vinham embrulhados nos bonecos da bola. Ou que o Duarte era a mercearia ali ao lado. Ou que o Alto era o pequeno jardim em frente à escola. Ou tantas outras palavras que têm o seu significado próprio, mas que para alguém em particular, assumem uma outra significação, um outro conceito, ou outra lembrança, a de uma palavra que se colou à memória e que, para sempre, trará de volta cheiros, sons, regozijos até! Porque é essa a cola dos dias, aquela que nos mantém vivos e nos dá consistência!

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