quinta-feira, 25 de junho de 2009

No labirinto das letras


Percorro as letras do alfabeto à procura das palavras certas, daquelas que ainda não conheço e que quero criar. Paro à volta das vogais, os olhos passeando por cada uma delas, fugindo do u, para o a, deixando rebolar o o, vendo o i subir lentamente como um balão enquanto o e se vai desprendendo do meu olhar. Tento agarrá-las, dar-lhes a minha consistência, misturá-las com as consoante que se mantém ali tão quietinhas, à espera que eu lhes pegue. Tento confundi-las, ouvir-lhes os segredos, explicar-lhes o que quero. Mas elas trocam-me as ideias, pulverizam-se à minha frente, explodindo em mil gritarias, mostrando-me mil faces diferentes.
Percorro todos os caminhos das letras, tentando perceber todas as palavras que sabem formar, escolhê-las para mim, trazê-las comigo. Mas elas não se deixam prender, querem ser livres, são livres, até que alguém as cative e lhes dê o uso que esperam e aí sim, ficam aparentemente sossegadas, a deliciarem-se com todos os sentidos que fazem, com todos os significados que adquirem, com a beleza que ajudaram a criar. Até que outro alguém lhes surja ao caminho e as desafie de novo, as leve consigo numa outra viagem, numa nova volta ao mundo, onde só elas permitem ver para além do óbvio!

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