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Às vezes, ao olhar para um quadro tenho esta sensação:
...que bom deve ser estar ali, naquele momento preciso, no instante em que o pintor imaginou aquele desenho, no instante em que o pintou, em que o transformou em eternidade.
Olho-o e imagino-me nele, não como peça integrante daquele momento, mas como alguém que ali vive, se passeia, vagueia. Não numa casa parecida com aquela, onde há móveis e portas e janelas, mas naquela exacta, naquele preciso momento, parado naquele tempo, com aquela luz, com aquela paisagem, naquela noite imorredoira.
Vejo-me ali, num conforto imaginado, num sossego desejado, ali, naquele preciso momento, onde a vida parece suspensa, mas onde eu poderia corrê-la.
É isto que sonho, ou julgo sonhar quando vejo uma imagem que me assalta os sentidos e puxa por mim. A vontade de nela entrar e me perder até me encontrar...
Deve ser a isto que se referem quando falam em comunhão com a arte.
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