Há duas guerras, na Europa recente, que me fascinam! Se bem que fascinação, quando se fala de uma coisa tão horrível e tenebrosa como uma guerra, pareça ser um termo muito forte. Fascinam-me não pela sua vertente de morticínio, de sofrimento, de dor, que são coisas que eu desejaria estivessem arredadas, para sempre, do nosso vocabulário concreto, mas porque significam, de alguma forma, uma espécie de salto em frente, de conquista, por forças que penso serem mais justas e correctas, de uma aura de magnificência, de um arribar de atitudes épicas e ao mesmo tempo muito terrenas, heróicas, mas de uma heroicidade lenta, uma heroicidade que roça o quotidiano, que é possível verificar-se no mais secreto de nós mesmos, aqueles para quem esse conceito não passa por ser, por si próprio, uma qualidade digna de relevo.
Falo em concreto da Guerra Civil Espanhola e da luta do Sinn Féin contra o domínio britânico.
Falo de um Sinn Féin histórico, de um Sinn Féin que se radica em tradições celtas miscigenadas com um catolicismo guerrilheiro, num Sinn Féin que recusasse, infelizmente em muitos casos não o fez, o fácil assassínio dos inocentes.
Falo também de um conflito entre irmão espanhóis, castelhanos, galegos, catalães, bascos, mas também portugueses, franceses, alemães, ingleses, norte-americanos. Falo de um conflito sangrento, fratricida, mau, que nos deu Guernica, Durutti, Orwell, Hemingway, Lorca, que nos toca, mesmo a nós que estamos do outro lado da fronteira, de uma forma dura e permanente.
Falo, sobretudo, de uma alma que se desprendeu destas lutas, de uma alma ancestral, de povos que se rebelaram contra uma espécie de amarras que, paradoxalmente, não se desprenderam a partir destes conflitos, pelo contrário, foram-se apertando mais e mais.
Falo de um Franco que uniu contra as vontades, falo de um Império Britânico que se foi desfazendo sem o notar.
Dois destes momentos são-nos, por estes dias, mostrados pelos olhares de pessoas que tentam perceber estas guerras nas suas mais recônditas entranhas. O filme Hunger sobre a morte de Bobby Sands e o livro As Vozes do Rio Pamano do catalão Jaume Cabré. Um e outro, como já o fizeram tantos outros e como certamente outros tantos o farão, não nos deixam sossegar sobre estas histórias, sobre estes povos, no fundo sobre a nossa estranha natureza humana!
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