Hoje é véspera de Santo António. Eu nunca fui muito de Santos Populares, embora os já tenha, como quase toda a gente, festejado de uma ou outra forma. Já visitei arraiais, já comi sardinhas e até já fui às marchas. E confesso que há uma certa "beleza" nestas festas, um bairrismo simpático, um apego genuíno à cidade e aos seus bairros, um certo elevar de uma alma popular lisboeta que ainda é possível vislumbrar. E acho engraçadas as marchas, mesmo sabendo que são uma tradição imaginada pelos intelectuais do Estado Novo, apostados em criarem uma "cultura popular" de raízes lisboetas. Há 75 anos que vêm descendo a Avenida e já criaram, por isso, uma vida própria e, é facto, dão um colorido simpático às ruas de Lisboa nesta altura.
Traz-me, também, esta altura do ano, uma enorme vontade de rever um dos filmes mais engraçados do preto e branco português, O Pátio das Cantigas. As vezes que eu me ri com o Vasco Santana a pedir lume ao candeeiro; com o Ribeirinho (que também realizou o filme) a fazer ginástica "cueca"; com o "histerismo" da Laura Alves; com o "Evaristo tens cá disto" que provocava o António Silva; com o "Dona Rosa chegou a sua filha" que depois cantava a "Camisa Amarela"; com o imigrante russo que abraçava o seu gato e o tratava por "amigo miiau"; com os pregos espetados na parede da adega esperando que o próximo esguicho fosse de vinho branco; com os "arraiais de porrada" com que acabavam os verdadeiros arraiais e com aquela marchinha que ainda hoje, passados 66 anos da realização do filme, se continua a cantar:
«Santo António já se acabou,
O São Pedro está-se a acabar,
São João, São João, dá cá um balão,
para eu brincar»
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