segunda-feira, 4 de junho de 2007

O Quarteto


O Quarteto sempre foi um cinema especial! Creio que terá sido o primeiro, em Lisboa, a abraçar o conceito multi-salas, se descontarmos os cinemas que partilhavam o mesmo espaço mas que eram independentes, como o Satélite no Monumental e o Estúdio no Império.
Com quatro salas e quatro filmes, como o seu slogan afirmava, o Quarteto trouxe uma lufada de ar fresco à exibição de filmes em Portugal. Cinema novo, cinema de autor, cinema de arte, cinema de qualidade. Nas suas salas havia sempre filmes que mereciam ser vistos e que não era possível ver noutras salas. Lembro-me que chegava, durante um fim de semana, a ver os quatro filmes em exibição, sem mesmo saber qual o filme a que ia assistir, por ter a certeza que sairia sempre com a sensação de ter visto algo que valera a pena. Vi lá muitos filmes, nem todos, obviamente, me agradaram, mas agradou-me sempre aquele conceito de ver e mostrar cinema. Gostei das ideias novas de, por exemplo, não haver lugares marcados, de ser possível sair de uma sessão e subindo uns poucos degraus, entrar noutra sala para um novo filme. Como gostava daqueles bilhetes tipo metro em que só mudava a cor consoante a sala. Como também gostava daquele foyer, sempre pejado de pessoas, em que se conseguia respirar um ambiente de inovação e atracção cultural. Como gostava, igualmente, dos aniversários, em que se podia assistir a filmes atrás de filmes, pelo preço, simbólico, que se havia praticado no dia da inauguração (já lá vão mais de 30 anos), durante 24 horas de celebração do cinema e daquele local único na cidade e no país.
Depois, um dia, apareceram as pipocas, os filmes começaram a ser "iguais" aos das outras salas de Lisboa e se, antes, a incomodidade dos lugares não tinha importância, por ser um local único, depois já não valia a pena lá voltar, para os filmes que se podiam ver noutros sítios e com melhores condições.
O Quarteto foi quase uma obrigação para quem gostava de cinema e de bons ambientes cinéfilos, hoje já não é bem assim e é pena, porque instituições como o Quarteto dificilmente serão substituíveis.

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