terça-feira, 14 de março de 2006

A Lisboa de Molero


Pouco tempo depois do 25 de Abril, quando muita da literatura feita em Portugal tinha ainda ecos do chamada neo-realismo, o jornalista multi-facetado Dinis Machado, dá à estampa um livro que foi, por muitos, considerado a mais universalizante obra da literartura portuguesa até então.
Nas palavras do autor, O Que diz Molero : "É uma soma não completa de coisas vividas, imaginadas e observadas, que têm a ver com a representação como espectáculo. É uma mistura de experiências literárias , musicais e cinematográficas ".
Dinis Machado foi influenciado por todas as suas vivências na Lisboa popular do século XX, pelas suas experiências jornalísticas; ele que foi, entre outras coisas, chefe de redacção da Revista Tintim; e igualmente pelas suas incursões no romance policial, sob o pseudónimo de Dennis McShade.
Surge-nos assim esta obra que, no essencial se passa em torno da conversa entre as duas personagens principais, Austin e Mister Deluxe, que pertencem a uma certa Organização não especificada, e que vão lendo e comentando um relatório elaborado por Molero (um investigador que nunca aparece), acerca de um cidadão anónimo, apenas chamado de rapaz.Este relatório, que se inicia na infância do rapaz, na Lisboa dos anos 40, revela, incontestavelmente, muitos retalhos da vida do autor, profundamente ligado ao Bairro Alto.
O Que diz Molero foi adaptado ao teatro e protagonizado por António Feio e José Pedro Gomes, tendo sido, tal como o livro, um êxito de público.
É mais uma leitura recomendada e recomendável para quem gosta de passar os olhos e a mente por imagens que nos fazem revisitar uma Lisboa, talvez, já desaparecida, com todo o seu popular pitoresco, numa trama excelentemente urdida e numa linguagem que, provavelmente, mais ninguém conseguiu.

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