segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Luiz Pacheco


Não sei se em Portugal houve escritores malditos; daqueles que renegam tudo e todos e mesmo a si próprios; daqueles que repudiam o mundo onde vivem, que o ironizam com vozes desbragadas, com sentimentos depurados de todos os preconceitos, de todas as moralidades mais ou menos escondidas. Daqueles que escondemos nas prateleiras mais recônditas, mas que nunca esquecemos de visitar. Não sei se houve, mas sei de um que se aproximava muito dessa espécie de rótulo. Chamava-se Luiz Pacheco e morreu agora aos 82 anos. De uma vida cheia, cheia de livros, de aventuras e sobretudo desventuras. De momentos de enorme resistência e muito desprendimento, senão totalmente real, muito próximo disso.
Era um enorme prazer lê-lo, ouvir as suas entrevistas, apercebermo-nos da quantidade de coisas importantes que tinha para nos dizer e da forma como no-las dizia, sem entraves, sem salamaleques, sem subterfúgios, sem papas na língua, chamando os bois pelos nomes! E, apesar, do veneno que, por vezes, destilava, dávamos por nós a rir do que nos dizia, a acenar com a cabeça numa concordância quase envergonhada, mas numa reverência quase sagrada por alguém que percorreu quase todo o século XX no chamado fio da navalha. Muito do que podemos ler hoje, do que vale a pena ler hoje, tem, de alguma forma, a ver com o legado de Luiz Pacheco.
Não sei se foi um escritor maldito, mas julgo saber que cultivou essa imagem e que nesta altura deverá estar a (sor)rir com os encómios que estão a ser destilados em sua honra, tal como este que acabei de escrever.

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