segunda-feira, 23 de abril de 2007

Cantava-se O Verão em 1968!


Ontem começou na RTP uma nova série portuguesa, Conta-me Como Foi, passada num bairro duma Lisboa calma, pacata e algo parada naquele ano de 1968; notando-se, no entanto, alguma dose de uma poesia e encanto, entretanto definitivamente perdidos, na sociedade portuguesa.

A história é-nos contada através das palavras do elemento mais novo de uma família "remediada" de então, onde pontificavam os pais típicos da altura, a avó rezingona, mas boa pessoa, e dois irmãos na fase de juventude rebelde "à portuguesa".

Ressalta, sobretudo, um mundo de um cinzento colorido, que marcava muito aquela época num Portugal, em guerra, que se preparava para assistir ao tombo, literal, de Salazar. O orçamento familiar era diminuto, vivia-se num 1º andar "arranjadinho", num bairro "limpinho", com o café, o quiosque, a cabeleireira, o lugar de frutas, a padaria ou, se o bairro fosse "avançado", um mini-mercado. E frequentava-se a escola primária local, ou o liceu mais próximo, onde se decorava toda aquela parafrenália de coisas que o Estado Novo gostava que as pessoas aprendessem. Mas brincava-se na rua, havia sempre um descampado onde se podiam chutar umas bolas, ou jogar ao berlinde e algum "buraco" onde se liam as revistas aos quadradinhos. As mães eram, quase todas, domésticas e os pais só voltavam a casa já noite cerrada. O jantarinho estava na mesa sempre à mesma hora. O aparelho de rádio ainda imperava lá em casa, sintonizado na Renascença, ou na Emissora ou no Rádio Clube. Os automóveis eram poucos e caros e mesmo os aparelhos de televisão não eram muito comuns. O grande entretenimento nacional que, verdadeiramente, interessava a toda a família era o Festival da Canção.

E foi assim que eu vi o primeiro episódio desta nova série, com um misto de curiosidade histórica e nostalgia por um tempo que também vivi, quando era um pouco mais novo que o protagonista.

Foi assim que dei por mim a sorrir perante a cena final deste episódio, quando assisti com aquela família, na sua recém instalada televisão, à vitória de Carlos Mendes no Festival de 1968, com uma das canções que, ainda hoje, considero como das mais bonitas que a música ligeira portuguesa nos ofereceu, O Verão!

Gostei deste inicio, senti-me como fazendo parte daquela história, que, mesmo tendo em conta o período histórico que se vivia, não deixava de ter uma dose, forte, de uma felicidade algo contida mas indisfarçável, talvez adivinhando futuras quedas, de cadeiras e de regimes!

No próximo domingo lá estarei, à espera do episódio nº2!

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