Quando começou a descer as escadas deu de caras com Sam Gamgee que vinha a correr. Tinha o cabelo revolto e olhava nervosamente para o relógio gritando que estava atrasado. Desapareceu esbaforidamente por entre a luminosidade do espelho mais próximo, deixando atrás de si grandes gotas de suor que, ao caírem no chão, se transformavam em pequenos círculos brilhantes, semelhantes a anéis e que desapareciam após breves segundos.
Continuou o caminho por entre as grandes árvores daquele enorme pomar, não deixando de pensar no trabalho que Edena tivera para construir um jardim tão belo como aquele.
Ao longe o Sol brilhava intensamente, sorrindo por entre as pontas das colinas do Este.
Não resistiu e apanhou uma maçã da árvore mais próxima, onde Adão e Eva costumavam passar os dias em companhia da serpente.
Continuou a andar saboreando cada dentada, pensando que, cada vez mais, este lugar lhe parecia um verdadeiro paraíso.
Foi então que, em grandes passadas, surgiu Passo de Gigante, acenou-lhe e com um grande sorriso desejou-lhe um bom dia, dirigindo-se ao espelho mais próximo.
Quando chegou à praia lá estavam Gulliver e os liliputianos, faziam pequenos castelos na areia e pareciam divertidíssimos.
Então preparou-se para voar e abriu calmamente as asas. Quando começava a levantar vôo apareceu Pippin Took que lhe pediu para o levar ao espelho. Assim fez e apeteceu-lhe também nele entrar, mas lembrou-se do que lhe dissera Alice e decidiu-se pelo vôo já planeado e lá foi, gozando plenamente cada planagem com uma leve brisa acariciando-lhe as faces.
Chegou ao alto da montanha onde se sentou a contemplar toda a grande planície. Foi então que ouviu uma música bonita lá ao longe e viu muitos Elfos a dançarem por entre as folhagens da pequena floresta. Dela vinham saindo Merry Brandybuck e Frodo Baggins que também se dirigiram ao espelho.
Resolveu descer e esperar por Gandalf e por Bilbo, de certeza que iriam também para o espelho. Ei-los que chegam e para lá se dirigem. Passaram ao seu lado saudando-o amigavelmente.
Foi andando até Macondo, onde, certamente, o Coronel Aureliano Buendía estava sentado, sózinho, à porta de sua casa como fazia nos últimos cem anos, olhando sonhadoramente os caminhos por onde o Rei passava quando ia, com o seu amigo Conde, às putas.
No rio, ali perto, Lúcia continuava imperturbável com os seus olhos caleidoscópicos, julgando estar no céu e continuando a contar os seus diamantes.
Do outro lado do rio ouviam-se os "enormes" gritos do Capitão : "Com mil raios e trovões" e sempre a mesma resposta surgia : "Um pouco mais a Oeste". O Professor nunca chegara a descobrir que, de facto, era surdo.
Resolveu então voar um pouco mais e seguindo o rio chegou à costa. A aldeia surgiu então perante os seus olhos, continuava irredutível e os romanos “voavam” ainda por entre as árvores. No centro da aldeia o druída mexia uma estranha poção dentro dum caldeirão perante uma longa fila de homens que o olhavam expectantes.
Desde o ano 50 A.C. QUE NADA TINHA MUDADO.
Enquanto olhava para a aldeia aproximou-se, silenciosa, a Passarola, lá dentro Bartolomeu conversava animadamente com Blimunda e com o soldado maneta. Quando o viram sorriram e Blimunda gritou-lhe : "Ninguém escreveu ainda ao Coronel !"
Voltou ao chão e resolveu caminhar até Camelot, os cavaleiros iam reunir-se nessa noite e haveria grandes festejos. Merlin também lá estaria e eram muito agradáveis os momentos de conversa com ele.
Antes disso, porém, tinha de ir encontrar-se com o Carolino, prometera levá-lo a ver o Pássaro do Tempo que estaria na cidade naquele dia.
Tal já não acontecia desde que os Porcos tinham sido derrotados. Ao pensar nisso sentiu-se aliviado, não tinha sido nada bom o triunfo dos porcos; Molero havia-lo dito e todos estiveram de acordo.
Teve, no entanto, de se apressar, os cavaleiros não esperavam e para mais Valérian tinha prometido que lá iria hoje também. Bravo Valérian, sempre galante com os seus amigos habitantes do céu.
À noitinha quando voltava a casa, parou para contemplar as estrelas. Orion sorriu-lhe e ele retribuiu-lhe a simpatia.
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