sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Quadra festiva

Diz o povo que "a vida são dois dias e o Carnaval são três", também é dito corrente que "o Natal é quando o Homem quiser", por isso, e como "no Carnaval ninguém leva a mal", deixem-me desejar-lhes UM FELIZ NATAL!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

O meu menino é d'oiro!

Passam hoje 19 anos que Zeca Afonso nos deixou.
Dele guardo esta canção, que costumo cantar quando embalo o meu menino:

O meu menino é d'oiro
É d'oiro fino
Não façam caso que é pequenino
O meu menino é d'oiro
D'oiro fagueiro
Hei-de levá-lo no meu veleiro.
Venham aves do céu
Pousar de mansinho
Por sobre os ombros do meu menino
Do meu menino, do meu menino
Venha comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó.
Quantos sonhos ligeirosp'ra teu sossego
Menino avaro não tenhas medo
Onde fores no teu sonho
Quero ir contigo
Menino de oiro sou teu amigo
Venham altas montanhas
Ventos do mar
Que o meu menino
Nasceu p'r'amar
Venham comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó.
O meu menino é d'oiro
É d'oiro é de oiro fino ....
Venham altas montanhasVentos do mar ....

Ambos gostamos muito dela!

A poção mágica


Uma das minhas fascinações enquanto criança e que se prolongou até aos dias de hoje, passa pela leitura e releitura das Aventuras de Astérix o Gaulês. A delicia que me provocaram quando os lia nos primeiros tempos continua muito viva ainda hoje. Vistos, é certo, com outros olhos que permitem novas "leituras", estes livros deram-me, para além do gozo e da diversão óbvias, muitas informações históricas que se revelaram muito úteis.
Os 33 álbuns que, até agora, compõem a colecção, são garantia de boa disposição. É necessário, contudo, afirmar, como amiúde é feito, que aqueles que foram escritos por Goscinny são muito superiores aos mais recentes apenas produzidos por Uderzo. Embora o traço de Uderzo seja garantia de qualidade e de imagem de marca desta série, Goscinny conseguiu imprimir-lhe uma capacidade literária e de argumento perfeitamente inimitável, são fascinantes os gags por ele produzidos, os trocadilhos, os brilhantes anacronismos e sobretudo a repetição de situações que fazem com que estes livros tenham uma continuidade perfeita.
Cada leitura é revigorante, tal qual uma colher da famosa poção mágica!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Ler com agrado


Como já disse em anteriores referências, agradam-me os romances históricos, da História Mundial, mas também da História de Portugal. Nesta vertente há um autor que já nos presenteou com alguns livros de muita qualidade. João Aguiar, que apostou sobretudo na História anterior à fundação da nacionalidade, já nos ofereceu páginas muito agradáveis e com visões do que foi Portugal antes de o ser, que nos ajudam, porventura, a entender melhor este país. A Voz dos Deuses, a Hora de Sertório, o Trono do Altíssimo, são só alguns exemplos de uma já vasta bibliografia. Já a sua vertente "policial" ou a sua incursão no fantástico, não me seduzem tanto.
Mas queria destacar aqui um livrinho que muito me encantou, chama-se a Encomendação das Almas, e é, talvez, o mais poético de todos o que J.A. escreveu. Vale bem uma, ou várias, leitura!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

O estranho mundo de Adrian Mole


Acabei ontem de ler o mais recente volume da obra de Sue Townsend dedicada a Adrian Mole. Desde o Diário Secreto de Adrian Mole aos 13 e 3/4, que foi o primeiro, este personagem sui generis já "publicou" seis volumes de um diário secreto cheio de pérolas do típico non sense britânico.
Os diários de Adrian Mole reflectem uma personalidade única, cheia de problemas estranhos, ambições desmesuradas, soluções inesperadas. Adrian Mole é um personagem que parece vogar fora do mundo normal e é acompanhado por uma galeria de outros personagens igualmente irrepetíveis, embora todos eles se movimentem numa Inglaterra que, ao que parece, se assemelha exactamente à realidade.
Com um humor, muitas vezes, cáustico, negro e mesmo decadente, a autora deixa-nos, contudo, uma mensagem de esperança e de alguma felicidade nas páginas finais deste último volume, Adrian Mole e as Armas de Destruição Maciça.
Vale a pena conhecer esta Toupeira...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Vamos brincar
















Para brincar com os meus pequeninos!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Tintinófilia


Eis mais uma achega tintinófila.
Análise rápida e sintética das Aventuras de Tintin:

a) Aventuras sem grande preocupação de verosimilhança, ao estilo de gag em cada sequência, sem consistência narrativa e graficamente mais pobres :
1 - TINTIN NO PAÍS DOS SOVIETES } pré – história
2 - TINTIN NO CONGO } ingenuidade
3 - TINTIN NA AMÉRICA } ingenuidade

b) Inicio da preocupação com o verosímil, mais ricas graficamente e em pormenores. Atenção especial à história e a todos os aspectos da narrativa. Gags mais pensados e grande preocupação com aspectos historicamente reais. Aparecimento de personagens fixos :
4 - OS CHARUTOS DO FARAÓ } ingenuidade
5 - O LOTO AZUL } viragem
6 - A ORELHA QUEBRADA } fogosidade
7 - A ILHA NEGRA } fogosidade
8 - O CEPTRO DE OTTOKAR } fogosidade

c) Surgimento de duas personagens centrais da série, o capitão Haddock e o professor Girassol. Maior importância à componente aventura pela aventura. Aspectos ligados à realidade postos de parte devido à 2ª Guerra Mundial. Ciclo solar. Parte central da série :
9 - O CARANGUEJO DAS TENAZES DE OURO } maturidade
10 - A ESTRELA MISTERIOSA } maturidade
11 - O SEGREDO DO LICORNE } maturidade
12 - O TESOURO DE RACKHAM O TERRÍVEL } maturidade
13 - AS SETE BOLAS DE CRISTAL } maturidade
14 - O TEMPLO DO SOL } maturidade
15 - TINTIN NO PAÍS DO OURO NEGRO (caso especial, começou no fim do ciclo anterior, acabou no fim deste) } mistura

d) Reinicio de temas mais virados para a realidade concreta, focando aspectos científicos. Consolidação da “família”. Ciclo lunar e por fim introspectivo.
16 - RUMO À LUA } apogeu
17 - EXPLORANDO A LUA } apogeu
18 - O CASO GIRASSOL } apogeu
19 - CARVÃO NO PORÃO } apogeu
20 - TINTIN NO TIBETE } intimidade
21 - AS JÓIAS DA CASTAFIORE } intimidade

e) De volta à aventura. Decomposição das personagens. Pós maturidade. De regresso à “infância” com cabelos brancos. Fim da série :
22 - VÔO 714 PARA SIDNEY } retorno
23 - TINTIN E OS PÍCAROS } retorno
24 - L ´ALPH-ART } …

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

LP's



A colectânea dos Beatles 1962-1967, mais conhecida por Colectânea Vermelha, foi o primeiro LP que eu tive, e logo um LP duplo. Não sei bem a idade que tinha, mas estava no inicio da juventude e foi um bom inicio de audição dos vinis grandes. Ouvia-a vezes sem conta, várias vezes durante o mesmo dia, no gira-discos que era do meu pai e que ainda permitia escutar, para além dos triviais 33 e 45, discos de 68 e 16 r.p.m., se não me falha a memória. Ia seguindo cada audição com as letras que acompanhavam os discos e trauteava o Love me do, o Help, o Yesterday, o Yellow Submarine, antecipando cada música que ia passar com as suas primeiras palavras, antes mesmo delas surgirem pelas vozes do John, do Paul, do George ou até do Ringo. Assim descobri os Beatles, mas descobri sobretudo o prazer de ouvir e manusear Lp's.
Ah, e logo a seguir veio a colectânea azul (1967-1970), ouvida com o mesmo prazer!

Tolkien em Portugal


Já todos sabemos que a legião de admiradores, mais ou menos entusiásticos e mesmo fanáticos, de J.R.R.Tolkien e do Senhor dos Anéis, é enorme! Se experimentarmos, por exemplo no google, escrever uma dessas entradas de pesquisa, os resultados são avassaladores, há milhares largos de sites e artigos a elas dedicados. E também páginas em português com muita qualidade, nomeadamente algumas brasileiras, como a Valinor.
Em Portugal existe um portal dedicado a Tolkien e à Terra Média que é muito bom. Recomendo uma visita a todos os que se interessam por estas temáticas. Aqui deixo o endereço:
www.tolkienianos.com e boa navegação tolkieniana!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Like a Rolling Stone


Li hoje a noticia que os Rolling Stones vêm actuar no Porto lá mais para o Verão. E lembrei-me do já longínquo 10 de Junho de 1990, quando os vi pela primeira vez ao vivo, no primeiro grande concerto de estádio realizado em Portugal. Foi um concerto muito bom, novidade no nosso país e logo com esta banda mítica. Voltei a vê-los anos mais tarde, no mesmo local, como vi muitos outros no mesmo sítio, mas aquele primeiro grande concerto ficou sempre gravado na minha memória, eu que nem era, nem sou, grande adepto da banda. Mas admiro-os e admiro a sua jovialidade e rebeldia, que acho óptima em senhores de já tão respeitável idade. Como provaram no seu último tele-disco (não gosto de vídeo-clips), proibido em várias estações de televisão.
It's only rock&roll, but I like it!

Festival da Canção


Em tempos já idos, o Festival RTP da Canção era um acontecimento quase "sagrado". Nessa noite parava o país.
Lá por casa sentávamo-nos religiosamente em frente ao televisor e ouvíamos atentamente todas as canções que iam passando. Tomávamos partido por uma e defendíamo-la assanhadamente. Quando chegava a vez das votações dos júris das várias capitais de distrito, comentávamos com maior ou menor agrado, consoante a sua votação tivesse sido mais ou menos favorável à nossa favorita. Eu, por mim, sempre achei muita piada a este "certame", aliás estou convicto que grandes canções por lá passaram, canções que, ainda hoje, ouço com bastante agrado, talvez isto se deva ao facto de ter nascido, exactamente, no dia da realização do primeiro festival da canção no nosso país.
Hoje, quando olhamos para o televisor em dia de festival, apetece dizer como o Paulo de Carvalho, "e depois do adeus"?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Onda Média e Frequência Modulada


Passei muito tempo da minha infância e juventude a ouvir rádio. Ouvia-a num aparelho grande, em tons de castanho, com coluna incorporada e dois botões nas pontas do espectro luminoso, em tons de verde.
Quando era mais pequeno ouvia a onda-média, da Emissora Nacional, da Rádio Renascença, do Rádio Clube Português, não de hoje, o outro. Também ouvia os "postos pequenos", os formigas como também eram conhecidos. Ouvia os Parodiantes de Lisboa, os relatos de futebol e de hóquei em patins, as rádio novelas, tantos os clássicos da literatura portuguesa de oitocentos, como, por exemplo, o famosíssimo "Simplesmente Maria".
Mais tarde comecei a ouvir a Frequência Modulada, o FM. Sobretudo o FM da, já então chamada, Rádio Comercial, não a de hoje, a outra. Aquela onde havia programas de autor, ainda fora da era digital e das playlists, que, na minha opinião, estragaram um pouco a arte de fazer rádio.
Lembro-me bem do prazer que era escutar o TNT do Jorge Pego, ou a Discoteca do Adelino Gonçalves, ou a Febre de Sábado de Manhã com o Júlio Isidro, ou o badalado Rock em Stock do Luís Filipe "Berros", ou a calmaria nocturna das Noites Longas do Fm-Estéreo com António Santos, ou o meu preferido Morrison Hotel do Rui Morrison. Mas também havia programas em que a música não predominava, por aí era ouvinte assíduo do PãocomManteiga, ou até do Passageiro da Noite com o Cândido Mota.
Com estes e outros autores, aprendi a gostar de ouvir rádio, foi muitas vezes a minha companhia permanente e presente.
Hoje ainda ouço rádio e estou sempre à espera de os ouvir novamente, numa qualquer rádio nostalgia, em onda média e frequência modulada.

Brincadeiras boas

Na nota anterior afirmei que as brincadeiras eram a melhor coisa da infância. Pois bem, venho por este meio desmentir essa afirmação. As brincadeiras são a melhor coisa de qualquer idade! Libertam-nos a mente, cultivam o nosso espírito de aventura, dão asas à nossa imaginação.
E se estivermos a brincar como crianças e com crianças, a nossa idade é irrelevante, somos todos pequenos outra vez. E o melhor de tudo é que nos sentimos muito bem.
Como diz o meu pequenino, com o sorriso mais bonito do mundo:
"Binca pai, binca!"

Brincadeiras


As brincadeiras são elementos importantes no desenvolvimento da criança!
E depois desta frase lapidar, queria só lembrar aqui uma brincadeira que gostava muito de fazer quando era criança, não sei se contribuiu para o meu desenvolvimento, mas que dava um gozo desgraçado, lá isso dava.
Juntavamos todas as caricas que podíamos, sobretudo as mais direitinhas e depois "vestíamo-las" com equipamentos coloridos, desenhados e pintados por nós. Arranjavamos um campo de futebol, aproveitado de um "subutteo" já fora de uso, e disputavamos os jogos de futebol mais animados que alguma vez vi. Às vezes lá conseguíamos juntar os bonecos do próprio "subutteo" e substituíamos as caricas.
Mas a "caricada" era sempre melhor, e até dava para desenharmos pistas de corrida na estrada e disputar vibrantes "voltas a Portugal"!
As brincadeiras são, sem dúvida, o melhor que trazemos da infância!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Grandes Cinemas


Antigamente havia cinemas em Lisboa.
O S. Jorge, o Império, o Monumental, o Condes, o Eden, o Star, o Londres, o Roma, o Alvalade, o Tivoli.
As salas eram grandes, o écran era grande, o foyer era grande, a decoração era grande, até os filmes eram grandes. E era um acontecimento ir ao cinema. Pelo filme e pelo próprio cinema.
Não havia os triplex, ou quadroplex, ou os multiusos, ou as salas de estar em que muitos "cinemas" de hoje se transformaram. E mesmo quando surgiu o primeiro, creio, cinema quadripartido, o "saudoso" Quarteto, era um cinema avant garde, diferente para filmes diferentes, mas, mesmo pequeno, continuava a ser grande.
Hoje precisamos, quase sempre, de entrar nos templos de consumo para poder ir ao cinema.
Felizmente ainda há alguns sobreviventes desse tempo, e embora a maior parte deles já esteja espartilhado, sempre dá para ver cinema grande. EM CINEMASCOPE!

Pequenos Vagabundos


Devia andar aí pelos meus dez anos, mais coisa menos coisa, quando descobri a minha primeira série de culto televisiva. Numa televisão a preto e branco, no 2º canal, aí pelo inicio da noite, passavam os Pequenos Vagabundos. 7 jovens belgas, pouco mais velhos que eu, viviam aventuras incríveis num castelo sem nome. Vibrei muito a sério com as peripécias que, com eles, ia vivendo. Ainda hoje me parece que sinto a emoção que era asssitir aqueles episódios, acompanhar o Jean Loup, o Cow-Boy, a bela Marion e todos os outros.
Não havia morangos, nem açúcar naquela altura! Era tudo mais a sério, o perigo existia mesmo e eles eram espectaculares.
Ah, e ainda consigo cantarolar a música que acompanhava estas aventuras!

Parabéns


Este senhor nasceu no dia 13 de Fevereiro de 1950, são 56 anos que hoje completa e eu, com muito prazer, lhe deixo aqui o testemunho dos meus parabéns muito sentidos e de muitos obrigados por tudo aquilo que ele me tem oferecido ao longo dos tempos.
Hoje, Peter, vou ouvir outra vez a tua música e comemorar contigo.
Happy Birthday!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Era uma vez...


Quem gosta de contos de fadas, é porque gosta de aventuras, do fantástico, da magia; de mundos novos que dão cor aos quotidianos, que permitem o sonho e, porque não, a evasão.
Este tipo de literatura permite-nos ser tocados pelo maravilhoso e pelo fantástico, a magia anda à solta, acontecimentos irreais, inverosímeis, maravilhosos, fantásticos, são, afinal, acontecimentos normais, sobretudo aqueles que nos dão o conforto do final feliz. Que os heróis casem, ou não, é indiferente, mas uma coisa é fundamental, que fiquem em segurança, que achem o caminho para casa, que vivam felizes para sempre !
No fundo é aquilo que todos nós queremos! Que a criança que, por vezes, espreita o mundo através dos nossos olhos, nunca se vá embora!

Passemos a palavra a quem sabe do assunto:

“(...) contos de fadas não são (...) histórias acerca de fadas ou elfos, mas histórias acerca do Feérico, o reino ou estado onde as fadas existem. O Feérico contém muitas coisas para além dos elfos e das fadas, e para além de anões, bruxas, trolls, gigantes, ou dragões : abarca igualmente os mares, o sol, a lua, o céu; e a terra, e todas as coisas que nele habitam : árvore e pássaro, água e pedra, vinho e pão, e nós próprios, homens mortais, quando estamos encantados.
A definição de um conto de fadas – o que é, o que deve ser – não depende, pois, de nenhuma definição ou facto histórico sobre elfo ou fada, mas sim da natureza do Feérico : o Reino Perigoso, e o ar que se respira nesse país. Não vou tentar definir isso, nem descrevê-lo directamente. Não pode ser feito. O Feérico não pode ser contido numa rede de palavras; porque uma das suas qualidades é ser indescritível, embora perceptível. Possui muitos ingredientes, mas a análise não descobrirá, necessariamente, o segredo no seu todo.(...) um conto de fadas é uma história que toca ou usa o feérico, qualquer que seja o seu propósito : sátira, aventura, moralidade, fantasia. O Feérico pode, talvez, ser melhor traduzido por Magia – mas magia com uma disposição e um poder peculiares(...)” (On Fairy Stories. Tree and Leaf, J.R.R.Tolkien)

“A jornada dum conto de fadas pode parecer um caminho exterior através de planícies e montanhas, castelos e florestas, mas, na verdade, o movimento é interior, aos domínios da alma. O caminho negro da floresta dos contos de fadas está nas sombras da nossa imaginação, nos abismos do nosso inconsciente. Viajar no bosque, enfrentar os seus perigos, faz-nos emergir transformados por essa experiência. Particularmente para as crianças cujo mundo não se confina ao simplista mundo das séries de televisão... esta capacidade de viajar interiormente, de enfrentar o medo e transformá-lo, é uma ferramenta que usarão para o resto da sua vida. Prestaríamos um mau serviço às crianças, e a nós próprios, censurando os velhos contos, suprimindo as passagens mais negras e ambíguas.” ( White as Snow . Fairy Tales and Fantasy, Terri Windling)

Surrealizar por aí...


Gosto de ler! E entre as leituras que gosto de fazer estão aqueles pequenos contos, com poucas páginas ou mesmo com poucas palavras, mas que nos dão prazer e, por vezes nos suscitam o sorriso ou mesmo a gargalhada. De entre estes, poucos me deram tanto gozo como os dois excelentes livros produzidos por essa multifacetada personagem que dá pelo nome de Mário Henrique Leiria, jornalista, operário metalúrgico, pintor, escritor entre outas actividades que desenvolveu e sobretudo um surrealista activo, que nos seus Contos do Gin Tónico de 1973 e nos Novos Contos do Gin de 1978, nos ofereceu pequenos textos em tamanho, mas enormes em conteúdo. Mordazes, irónicos, acutilantes, são verdadeiras pérolas da nobre arte de escárnio e mal-dizer, sendo, acima de tudo, muito divertidos, como convém. Um exemplo:

TELEFONEMA
Telefonaram-lhe para casa e perguntaram-lhe se estava em casa. Foi então que deu pelo facto. Realmente tinha morrido havia já dezassete dias. Por vezes as perguntas estúpidas são de extrema utilidade.

Histórias aos Quadradinhos


Quando era miúdo não havia banda desenhada, havia histórias aos quadradinhos. Várias revistas publicavam histórias completas, com heróis de papel, que nos saciavam a fome de aventuras. Não falo dos grandes álbuns, que também lia, do Tintin ou do Astérix, por exemplo, mas sim das revistinhas mais acessíveis no preço, como o Mundo de Aventuras (onde imperavam o Mandrake, ou o Fantasma), o Condor, ou o Falcão. Esta última era a minha preferida, custava 2$50 e tinha heróis tão empolgantes como Oliver, uma espécie de Robin dos Bosques; ou o Viking Ogan; ou a heroína da resistência francesa Mademoiselle X; ou o excelente espião britânico que dava pelo nome de código Ene 3; ou o meu favorito, o Major de Cook e Alvega, intrépido aviador da RAF, de origem portuguesa, que brilhava nos céus de uma Europa devastada pela guerra.
Não havia pai para eles, nem para nós!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Tocam sinos!


Na época do Natal há um filme que costuma fazer as minhas delicias, um filme que representa, de alguma forma, o espirito que essa época deve transmitir, o da esperança e da crença na pessoa, na sua importância junto daqueles que lhes estão próximos e também na rejeição de pensamentos e atitudes menos positivas perante a vida.
É um filme de Frank Capra, realizado em 1946, protagonizado por um James Stewart deliciosa e "fanhosamente" canastrão. It's a Wonderful Life, Do Céu caiu uma Estrela, na versão portuguesa, é o seu título.
E, se mais não fosse, a ideia de tocar um sino cada vez que um anjo ganha as suas asas, parece-me brilhante.
Como alguém diz nesse filme:
"They're making memories tonight!"

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Admirável mundo da fantasia

Quando começou a descer as escadas deu de caras com Sam Gamgee que vinha a correr. Tinha o cabelo revolto e olhava nervosamente para o relógio gritando que estava atrasado. Desapareceu esbaforidamente por entre a luminosidade do espelho mais próximo, deixando atrás de si grandes gotas de suor que, ao caírem no chão, se transformavam em pequenos círculos brilhantes, semelhantes a anéis e que desapareciam após breves segundos.
Continuou o caminho por entre as grandes árvores daquele enorme pomar, não deixando de pensar no trabalho que Edena tivera para construir um jardim tão belo como aquele.
Ao longe o Sol brilhava intensamente, sorrindo por entre as pontas das colinas do Este.
Não resistiu e apanhou uma maçã da árvore mais próxima, onde Adão e Eva costumavam passar os dias em companhia da serpente.
Continuou a andar saboreando cada dentada, pensando que, cada vez mais, este lugar lhe parecia um verdadeiro paraíso.
Foi então que, em grandes passadas, surgiu Passo de Gigante, acenou-lhe e com um grande sorriso desejou-lhe um bom dia, dirigindo-se ao espelho mais próximo.
Quando chegou à praia lá estavam Gulliver e os liliputianos, faziam pequenos castelos na areia e pareciam divertidíssimos.
Então preparou-se para voar e abriu calmamente as asas. Quando começava a levantar vôo apareceu Pippin Took que lhe pediu para o levar ao espelho. Assim fez e apeteceu-lhe também nele entrar, mas lembrou-se do que lhe dissera Alice e decidiu-se pelo vôo já planeado e lá foi, gozando plenamente cada planagem com uma leve brisa acariciando-lhe as faces.
Chegou ao alto da montanha onde se sentou a contemplar toda a grande planície. Foi então que ouviu uma música bonita lá ao longe e viu muitos Elfos a dançarem por entre as folhagens da pequena floresta. Dela vinham saindo Merry Brandybuck e Frodo Baggins que também se dirigiram ao espelho.
Resolveu descer e esperar por Gandalf e por Bilbo, de certeza que iriam também para o espelho. Ei-los que chegam e para lá se dirigem. Passaram ao seu lado saudando-o amigavelmente.
Foi andando até Macondo, onde, certamente, o Coronel Aureliano Buendía estava sentado, sózinho, à porta de sua casa como fazia nos últimos cem anos, olhando sonhadoramente os caminhos por onde o Rei passava quando ia, com o seu amigo Conde, às putas.
No rio, ali perto, Lúcia continuava imperturbável com os seus olhos caleidoscópicos, julgando estar no céu e continuando a contar os seus diamantes.
Do outro lado do rio ouviam-se os "enormes" gritos do Capitão : "Com mil raios e trovões" e sempre a mesma resposta surgia : "Um pouco mais a Oeste". O Professor nunca chegara a descobrir que, de facto, era surdo.
Resolveu então voar um pouco mais e seguindo o rio chegou à costa. A aldeia surgiu então perante os seus olhos, continuava irredutível e os romanos “voavam” ainda por entre as árvores. No centro da aldeia o druída mexia uma estranha poção dentro dum caldeirão perante uma longa fila de homens que o olhavam expectantes.
Desde o ano 50 A.C. QUE NADA TINHA MUDADO.
Enquanto olhava para a aldeia aproximou-se, silenciosa, a Passarola, lá dentro Bartolomeu conversava animadamente com Blimunda e com o soldado maneta. Quando o viram sorriram e Blimunda gritou-lhe : "Ninguém escreveu ainda ao Coronel !"
Voltou ao chão e resolveu caminhar até Camelot, os cavaleiros iam reunir-se nessa noite e haveria grandes festejos. Merlin também lá estaria e eram muito agradáveis os momentos de conversa com ele.
Antes disso, porém, tinha de ir encontrar-se com o Carolino, prometera levá-lo a ver o Pássaro do Tempo que estaria na cidade naquele dia.
Tal já não acontecia desde que os Porcos tinham sido derrotados. Ao pensar nisso sentiu-se aliviado, não tinha sido nada bom o triunfo dos porcos; Molero havia-lo dito e todos estiveram de acordo.
Teve, no entanto, de se apressar, os cavaleiros não esperavam e para mais Valérian tinha prometido que lá iria hoje também. Bravo Valérian, sempre galante com os seus amigos habitantes do céu.
À noitinha quando voltava a casa, parou para contemplar as estrelas. Orion sorriu-lhe e ele retribuiu-lhe a simpatia.

Nova onda


Quando comecei a ouvir música, com ouvidos de ouvir, dediquei-me, quase exclusivamente ao chamado rock progressivo ou sinfónico, Genesis, Yes, Pink Floyd, Jethro Tull, Van der Graaf Generator e por aí fora. Foi numa época em que o fenómeno punk começava a dar cartas um pouco por todo o lado e por aqui também. Mantive-me, no entanto, quase irredutível nessa minha "aldeia" progressiva. Quando a New Wave começa a surgir dos destroços do punk, decidi espreitá-la, quiz experimentar a nova música que ia surgindo e que já se distanciava dos famosos "três acordes" próprios do punk, onde predominavam os Sex Pistols ou os Ramones.
Este álbum que aqui vos mostro, foi quem me abriu as portas dessa nova onda e fiquei rendido à voz de Crissie Hynde e aos seus Pretenders, embora nunca renegasse, tal como não o faço agora, à música grandiosa dos "sinfónicos".
Em 1980, no entanto, com Brass in Pocket, Precious, Kid, Lovers of Today e esse fabuloso Stop your Sobbing, novas ondas musicais vieram colorir as minhas audições.
"Kid what changes your mood..."

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

O mundo é um jardim!


Em 1979 Hal Ashby realizou Being There, Benvindo Mr. Chance, na versão portuguesa, protagonizado, brilhantemente diga-se, pelo excelente e enigmático Peter Sellers.
Uma parábola aos tempos modernos, em que um simples jardineiro, intelectualmente debilitado, a quem, erradamente, deram o nome de Chauncey Gardiner, é despejado da casa e do jardim onde sempre viveu. Nas ruas, com o seu fato antiquado e com um comando de televisão por único pertence, Mr. Gardiner vai subindo nas boas graças de um dos magnatas mais poderosos dos E.U.A., falando sempre daquilo que mais gosta, as flores do seu jardim e a televisão. "I like to watch" é a sua frase preferida, dita a pensar, simplesmente, na televisão, mas entendida de muitas maneiras por aqueles que o vão bajulando. Com um discurso simples e directo, tudo o que diz é entendido como metafórico para a sociedade que o rodeia. Os poderosos já o vêem como sério candidato à Casa Branca, a ele, que acaba o filme andando sobre as águas.
Brilhante!

histórias da História


Gosto de romances históricos, gosto de romances históricos temperados com a ficção necessária para que sejam romances. Há um escritor que os faz na perfeição, é certo que todos eles andam à volta da História de Inglaterra, é natural, já que é essa a sua nacionalidade, mas numa das séries que deu à estampa, a presença do seu herói em terras portuguesas dá-nos uma visão, no mínimo, curiosa sobre o nosso país na época das invasões francesas. Estou a referir-me à série dedicada a Sharpe, que percorre grande parte das chamadas guerras napoleónicas.
Bernard Cornwell dá-nos saborosas visões da construção de Stonehenge, das lendas Arturianas, das invasões Vikings, da Guerra dos Cem Anos, das Guerras Napoleónicas, entre outras muito bem congeminadas histórias da História. Com descrições pormenorizadas de batalhas, de vivências, de paisagens, tudo é tão bem urdido, que é perfeitamente natural visualizarmos tudo aquilo que nos é, assim, mostrado.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

O Usinho Pu


Embora tenha descoberto o Winnie the Pooh ainda durante a minha infância, só conheci os seus filmes quando os comecei a ver com a minha filha. Creio que são a melhor adaptação que a Disney alguma vez realizou. Falo das longas metragens, mas falo sobretudo dos pequenos filmes que têm vindo a ser editados em vídeo e dvd desde há alguns anos. Os bonecos são muito engraçados, as histórias são deliciosas e os diálogos são brilhantes, de um surrealismo desconcertante e alegremente contagiante. Aconselho vivamente a todos aqueles que gostam de boa animação e dispensam a violência gratuita que, usualmente, grassa em quase toda a animação televisiva e outra.
O meu filho, que tem dois anos, lá anda todo contente com o último dvd do "Usinho Pu" debaixo do braço!

Mind the gap


Começo esta nota como costumava começar as minhas redacções na escola primária.
Gosto muito de Londres!
É uma cidade orgulhosa da sua história, que sabe guardar e mostrar devidamente. É uma cidade onde se respira (às vezes mal é certo) ancestralidade e modernidade, tudo muito bem conjugado e com bom gosto. É uma cidade onde se pode encontrar de tudo o que o consumismo nos pode oferecer, o consumismo económico, cultural, artístico.
É uma cidade enorme, a mais cosmopolita da Europa sem dúvida, mas ao mesmo tempo acolhedora, onde é possível sentirmo-nos muito bem.
E acabo da mesma forma.
Gosto muito de Londres!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Crime, disse ela!


Quando me falam em literatura de mistério ou policial, lembro-me sempre de grandes escritores desta área que nos deixaram a sua marca em tantos livros que escreveram e em personagens que se tornaram icónicas na sua arte de desvendar mistérios quase insondáveis.
Simenon com o seu Maigret; Stanley Gardner com o seu Perry Mason e, elementar, Conan Doyle com o seu Sherlock Holmes.
Mas, ainda ninguém me conseguiu satisfazer tanto como a "mestra do crime", Mrs. Agatha Christie, o fez. Com Poirot, Miss Marple e outros, deu-nos as mais "saborosas" páginas de crimes extremamente preparados e brilhantemente resolvidos. A bem das nossas célulazinhas cinzentas!

A voz da razão


Em 1964, ao cidadão argentino, Joaquín Salvador Lavado foi encomendada uma personagem desenhada que integrasse a publicidade, creio, a uma máquina de lavar. Ele assim fez, e embora a campanha publicitária nunca viesse a ver a luz do dia, a personagem criada tornou-se um fenómeno universal, espalhando aos quatro ventos a sua veia contestatária, dando opiniões irónicas, mordazes, mas, sobretudo, muito certeiras, ao mundo que a rodeava então.
Quino deixou de publicar as tiras de "Mafalda a Contestatária" cerca de dez anos depois de a criar, mas, ainda hoje, nelas encontramos as respostas adequadas aos problemas que vão apoquentando a nossa realidade. Mafalda, Filipe, Miguel, Manelito, Susaninha, Liberdade e Gui, são, exactamente, os mais fiéis espelhos do nosso quotidiano.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Morrison Hotel

Não, não vou falar dos Doors, a quem, aliás, não acho muita graça. Vou só recordar um dos melhores programas de rádio que passaram na antiga Rádio Comercial, ainda antes da proliferação das chamadas "rádios livres".
Rui Morrison era o seu autor, na altura em que ainda havia autores de rádio. A sua voz inconfundível, que já não anda à solta no éter, segundo parece, dáva-nos todos os dias uma hora, da meia noite à uma, de boa música, calma, tranquila e de grande qualidade, com poucas mas certeiras palavras. Assim valia a pena ouvir rádio.

O Camaleão


Nasceu em Brixton no dia 8 de Janeiro de 1947. Deram-lhe o nome de David Robert Jones. Ao longo da sua vida, no entanto, assumiu muitas outras identidades. Destacamos a de Ziggy Stardust, por exemplo. Mas destacamos ainda mais a sua já longa carreira de músicas e versões excepcionais e valorizamos muito a sua versatilidade e capacidade de acompanhar os novos tempos e as novas tendências sem nunca cair no "facilitismo". Cada novo trabalho deste senhor é garantia de boa audição.
E claro que destacamos a sua identidade de sempre: David Bowie - o senhor Camaleão!

SE7E

Hoje, a propósito da estreia do filme de Spielberg, Munique, e do lançamento do 2º volume do Dicionário do Cinema Português de Jorge Leitão Ramos, apercebi-me da falta que faz, neste país, um orgão de comunicação social dedicado à cultura, aos tempos livres, ao lazer. E lembrei-me que já existiu um que era, de facto, muito bom.
Todas as quartas feiras, religiosamente, eu comprava o jornal SE7E, que nos dava uma panorâmica fundamental do que se ia passando no mundo da música, do cinema, da literatura, das artes plásticas, além de um excelente roteiro de tudo o que ia acontecendo. Hoje, na revista Visão, existe um pequeno roteiro que recuperou o nome, mas falta-lhe muito para recuperar o espírito.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Leituras de sempre


Uma das leituras preferidas nos tempos da minha infância, eram as Aventuras dos Cinco da profícua escritora Enid Blyton. Como antes tinham sido as Aventuras dos Sete e depois foi a Colecção Mistério, todos da mesma autora.
Lembro-me de ler cada volume, por mais de uma vez, e de me deixar enredar de uma forma emocionante com a Zé, o Júlio, o David, a Ana e o Tim. Lembro-me de viver cada aventura como se fosse um deles e recordo com particular gozo o prazer que me davam cada uma das refeições, especialmente os lanches, que com eles ia tomando. E tenho muito presente a tristeza que senti quando me apercebi que um dia não iria ler mais aquelas aventuras, por deixar de lhes achar piada. De facto há já muitos anos que as não leio, mas hoje lembrei-me delas e deu-me uma vontade de lhes pegar novamente e de me deliciar outra vez!

Em espiral


Os anos 80 foram pródigos em boa música. Grandes canções e excelentes bandas surgiram ou confirmaram-se nessa altura. U2, Waterboys, Cure, Smiths e tantas outras. Também foi uma época em que, alguma dessa música era cognominada de "urbano-depressiva", com contornos de "negritude", exemplo foram as magníficas canções de David Sylvian pós Japan (lá iremos noutra oportunidade). Hoje trago aqui a memória de um colectivo imaginado e organizado por Ivo Watts-Russel da editora 4AD, responsável por nomes como Cocteau Twins ou Dead Can Dance, exemplos supremos daquela arte. Os This Mortal Coil ofereceram-nos 3 álbuns, "It'll end in Tears" de 1984; "Filigree & Shadow" de 1986 e "Blood" de 1990. Em todos eles a densidade das canções e das vozes trouxeram-nos momentos inesquecíveis. Juntaram vozes de excepção, como a de Elisabeth Fraser, por exemplo, e apesar da melancolia que nos fizeram sentir, a beleza era permanente.
Com letra de Van Morrison uma das músicas incluídas no 2º disco dizia assim:

"I'd like to fly away spend a day or two, just comtemplate the fields and leaves about nothing"

Caso de policia

Então quando é que o "sôr" agente Bush começa a a bater com o cassetete na cabeça dos iranianos? Vontade não lhe falta, lá isso não!