segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Alto (V)

(...)
Mas na verdade não interessa se eles conseguiram perceber se se tratavam de extraterrestres, se falaram com os pais ou com a professora. Retemos a cumplicidade, a partilha, a vontade de apreender, de se perderem e encontrarem todos os dias, de viverem no limite da sua infantilidade que, no fundo, conseguiram recuperar todos os dias de toda a vida, por isso lá voltavam de quando em vez, não só ao Alto, mas, sobretudo, a si próprios, sabendo, de antemão, que todos esses regressos mais não significavam que tentativas para atrasar o inevitável. Mas, no fundo, sabiam que essa inevitabilidade nunca os impediria de se tornarem os senhores do castelo sempre que o desejassem.
Como naquele dia em que o Papuço trouxe o seu gira-discos portátil, e um conjunto de singles que ninguém conhecia só para agradar à prima do Guel que tinha vindo da província passar uns dias com ele. O Papuço abriu aquela caixa mágica e pôs os discos a tocar, tornando aquele momento numa serenata que o deixava maravilhado e que a nós, todos os outros, se tornou insuportável. Claro que o Papuço foi gozado todo o santo dia, e os outros que se seguiram e que a prima do Guel nunca para ele olhou, mas ele sentiu-se feliz por ter trazido um pouco de alegria ao Alto e, no fundo, nós também.
Era assim que se vivia o quotidiano no Alto, na Ilha dos Cucos, como também lhe gostávamos de chamar. Campo de futebol, pátio de recreio, recanto de namorados, jardim infinito, em que nunca perdíamos o norte, nem quando a noite vinha.
(...)

1 comentário:

pessoana disse...

O Pan voa alto. Pensa alto.
Escreve alto.
Alto gabarito.

Alto e bom som.

Um texto de alto lá com ele!

Gosto!