quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Alto (I)

Reconheciam-se sem fronteiras. Num mundo feito de todas as fantasias que lhes eram permitidas. Num espaço pequeno que era maior que o Universo. Conheciam-se como ninguém.
Sabiam a que horas chegavam e, sobretudo, sabiam que nunca partiriam.
O Alto era o seu destino, numa vida que não queriam diferente. Ainda sem desconfiarem que iriam crescer. Ainda sem perceberem que a infância é uma felicidade fugaz, maldita, porque a deixamos ir embora sem remorso, sem dor, a não ser aquela que chega, sem avisar, no dia em que, finalmente, descobrimos que não há retorno. Nunca há retorno.
Mas, naquela altura, o horizonte é algo que está muito distante. Tão distante que nenhum tempo o conseguirá alcançar.
Era assim todas as manhãs quando iam chegando, aos poucos, ao Alto e se iam sentando nos bancos vermelhos do caramanchão. Formavam então a sua assembleia. Riam. Gritavam. Discutiam.
O mundo estava apenas no seu início.
Desbravavam caminhos que não conheciam, rumos mais perigosos que os mares nunca antes navegados.
E partiam à aventura. As ruas transformavam-se em mistérios, as casas em árvores frondosas e o tempo parava num cristal infinito que os levava para além do conhecido.
E nem o regresso forçado a uma realidade que não queriam, os obrigava a deixar o sonho.
Até que o dia seguinte chegasse e a aventura recomeçasse.
(...)

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