quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Alto (II)

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O Alto era apenas um jardim. Pequeno, com não mais de uma dúzia de bancos vermelhos e alguma relva que já vira melhores dias.
No seu centro havia um caramanchão, que lhe dava uma dignidade única e o tornava tão singular aos olhos de quem por ali passava.
Mas para eles era aí o centro do universo.
E ainda hoje quando o cabelo se tornou neve e os olhos já não permitem ver todos os vales e desfiladeiros que ali existiam há tantos anos, eles sabem de cor tudo o que o Alto esconde e sobretudo conseguem ainda ouvir todas as palavras que ali foram ditas, mais importantes que todos os segredos de estado, mais fortes que todos os poemas que embelezam os dias, porque ali se fizeram e afinal descobriram que, mesmo sem retorno, as memórias são pequenas fontes de onde jorra o elixir da eterna juventude.
O António e o Luís, o Fernando e o Eduardo, o Zé e o Jorge, o Mário e o João eram alguns dos nomes que por lá viviam, mas se lhes perguntarmos dirão que não eram esses, que eram outros os nomes, porque ali ninguém tinha o seu nome, ali todos eram conhecidos por outros nomes, que mais ninguém sabia, a quem mais ninguém poderia interessar, porque esses eram os nomes do segredo e esse segredo era o mais bem guardado do mundo.
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