sábado, 14 de maio de 2011

O Alto (IV)

(...)
Como naquela tarde em que o Tremidinho e o Tetas correram esbaforidos perante uma novidade absolutamente assombrosa.
Todos os outros se encontravam no Alto, esperando que o dia acontecesse, que a fantasia lhes viesse bater à porta, como sempre acontecia. E eis que ela chegava agora, trazida pela eufórica corrida do Tremidas e do Tetas.
É claro que Tremidas e Tetas não eram os seus verdadeiros nomes, mas, como já vos disse, aqueles nomes secretos pelos quais eram reconhecidos perante todos nós. Nem sequer eram alcunhas, embora soassem como tal, não queriam dizer nada para fora do nosso círculo e aí identificavam cada um e davam-lhe uma singularidade notável.
Pois o Tremidas e o Tetas pararam junto de nós, que já sabíamos que o nosso momento diário tinha chegado, e com os olhos a brilhar e a adrenalina a 100 à hora, gritaram atropelando-se um ao outro, que um óvni havia aterrado no descampado por detrás da escola. Não, não o tinham visto, mas repararam nos sinais que tinha deixado, no rasto que havia ficado gravado na terra e, sobretudo, nas folhas cheias de palavras indecifráveis que estavam espalhadas por todo o terreno.
Saltámos todos como se fossemos um só corpo e corremos em direcção ao local. E era tudo verdade. Havia uma parte do terreno que estava queimada, formava um círculo não muito grande, mas o suficiente para lá caber uma nave extraterrestre, e todos nós sabíamos que os extraterrestres não eram grandes, eram assim como uma espécie de anões com umas cabeças enormes. E lá estavam os papéis, alguns deles muito chamuscados, outros, no entanto, completamente intactos. E, por muitas voltas que déssemos às folhas e às nossas cabeças, não conseguíamos perceber nada do que lá estava inscrito.
São extraterrestres gritavam o Tremidas e o Tetas, quem mais poderia ter deixado aqui estas folhas incompreensíveis, quem poderia ter feito este anel de fogo no chão?
Vieram numa nave e queimaram os papéis que deviam ter alguma fórmula secreta, quem sabe os planos para a invasão da Terra.
O entusiasmo era geral, todos estavam impacientes para mostrar aquilo a alguém que pudesse esclarecer as coisas e quem sabe senão falariam deles no telejornal, viriam a ser famosos, os rapazes que tinham descoberto os extraterrestres.
Decidiram então guardar o que restava dos papéis e, na manhã seguinte, ir mostrá-los á policia, ou aos pais, ou talvez à professora.
(...)

Sem comentários: