quarta-feira, 16 de março de 2011

Olá (IX)

(...)
- O que queres tu? Quais os teus desejos, expectativas, sonhos?
- Mas o outro disse que nada disso existia aqui.
- E não existe. Mas isso não quer dizer que não me digas o que desejas. Experimenta.
- Às vezes há frases batidas que podem dizer tudo, mesmo que, de tão estafadas, já nem saibamos bem o que pretendemos com elas. Mas eu, no fundo eu… bem, só quero ser feliz.
- Mas, como decerto sabes, isso é completamente impossível. Ninguém é feliz. Pode estar-se feliz, ou contente, ou alegre, ou triste ou deprimido, mas ninguém é alguma dessas coisas.
- Pois sim, acho que te percebo, ninguém aguenta um estado de alma contínuo, porque ninguém o consegue suportar.
- É isso, ninguém é tão estável, tão contínuo, tão coerente que consiga manter-se. São todos feitos de altos e baixos, de esquerdos e direitos, de sorrisos e lágrimas.
- Pareces-me demasiado humano para quem está aqui prestes a levar-nos para destino perpétuo, sem retorno…
- E quem te disse isso? De onde tiraste essa ideia?
- Ganhei-a depois de falar com o outro. Disse-me ele que aqui não há tempo, que isto é uma espécie de vazio eterno.
- E não te disse ele que há muitas vidas também?
- É verdade disse, mas não sei se o entendi muito bem.
- E não te falou no ribeiro que aqui está?
- Falou sim e disse-me que ele é de poucas falas.
- É verdade isso, o ribeiro quase nunca fala, na verdade nunca fala, mas há alguns que o conseguem ouvir e escutar aquilo que tem para dizer, mas são só alguns, poucos.
- E como se faz essa selecção?
- Não sei, eu nunca ouvi o ribeiro, mas já vi isso acontecer e esses, poucos como te disse, são aqueles que nele mergulham.
- E o que lhes acontece.
- Nunca mais os vi, por isso não sei.
- É tudo tão estranho aqui, tão enigmático.
- Pode parecer-te mas, na realidade, não é. Tens três opções, ou vais comigo, ou com o outro ou mergulhas no ribeiro, é simples.
(...)

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