quinta-feira, 15 de abril de 2010

Velocidades


Aceleramos.
Não sabemos onde está o travão, nem para que serve.
Avançamos com os olhos abertos, mas turvos, apesar de pensarmos que nunca vimos melhor.
À nossa volta tudo brilha, mas o brilho vem de uma luz artificial, que se pode apagar a qualquer momento e nunca mais voltar.
E ignoramos o local exacto do freio, porque teimamos em pensar que o caminho é sempre em frente e que nenhum escolho nos bloqueará.
Cegos de tanto olhar para um infinito que não existe, nunca descobrimos o travão porque preferimos avançar, avançar sempre.
Até que o motor acaba por se calar, não porque o desejássemos, mas porque o combustível simplesmente acabou e não há forma de reabastecer, porque não são admitidos recuos, marchas à ré, retrovisores.
É por isso que quem consegue parar na beira da estrada e sair do carro, percebe que as árvores existem, que o sol também brilha e que a velocidade não é uma qualidade, uma inevitabilidade, mas apenas um artifício que usamos para nos escondermos da vida

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