quarta-feira, 14 de abril de 2010

(...) - 17

(...)Este mar, que hoje conhecemos, mais não é que uma ínfima parte do todo que continua protegido num esplendor invisível que só alguns, poucos, têm o privilégio de conhecer.
Assim o guarde Neptuno.

A chuva parou. Volto a olhar para a rua na tentativa, vã, de a ver.
Tanta gente lá em baixo. Tanta confusão. Nem sinal dela.
Vi-a entrar no elevador mas continuo a sentir a sua presença, forte, do outro lado da porta.
Já passaram algumas horas desde que ela chegou, nem sei quantas. Não tenho relógios em casa.
Zanguei-me com eles. Há muitos anos que os despachei de vez.
Não gosto que mandem no meu tempo.
Também não tenho telefone e devo ser a única pessoa desta cidade que não tem telemóvel. Ligo-me através da televisão e de vez em quando da rede. No outro tempo não imaginava que o mundo, algo mundo pelo menos, pudesse estar assim tão perto de nós. Entretanto fui-me apercebendo que, afinal, esta proximidade só nos afasta daquilo que, aparentemente, é real.

Real?
E isso, o que é?
Sempre gostei de uma frase que, certa vez, li numa parede desta cidade.
Não vos inquieteis, é a realidade que se engana.
Muitas vezes penso nela a propósito de tudo e de nada e de cada vez, em cada situação, a vejo como sendo mais acertada.
Por isso tento não me inquietar. A realidade, todas as realidades, mesmos as virtuais, são passíveis de engano. Isso deixa-me muito mais descansado.
(...)

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