sexta-feira, 16 de abril de 2010

(...) - 18

(...)Embora hoje nem isso me dê o sossego que procuro.
Onde será que ela foi? Não pode ter ido embora. Não assim…
Já nem sei há quanto tempo a conheço. Acho que sempre a conheci.
Mesmo quando era criança e brincava na rua. Naquela rua que eram várias ruas. Pequenas, é certo, embora uma se engalanasse com o nome de avenida. Mas, qual quê, de avenida tinha pouco. Meia dúzia de casas e descampados vários. Ainda por cima era inclinada. Ora subia, ora descia.
Mas não era essa a minha rua. A nossa rua.
A nossa rua, a minha e a dos outros miúdos, ia para além das casas. Subia os montes e descia os vales que não tinham limites para nós.
Isso sim, tinham sido tempos bons. Talvez aqueles de que me recordo com mais saudade. Ali tínhamos o mundo na nossa mão. Éramos livres. Sim! Se alguma vez fui livre foi ali, mesmo quando os adultos falavam baixo com medo dos bufos, nós éramos livres. Com as bolas que corriam à nossa frente, em estádios cujas balizas eram dois pedregulhos e onde os golos eram mais saborosos dos que os dos Eusébio deste mundo.
Onde os índios e os caubóis, os policias e os ladrões usavam pistolas de madeira e ressuscitavam no exacto momento em que ouviam Estás morto!
(...)

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