quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Fine Covers (LXI)



Andy Williams vs. Audrey Hepburn

29 de Fevereiro - 13 anos



Eu nasci num ano bissexto. Não no dia 29 de Fevereiro, um pouco depois.
Entraria este ano no 13º ano de vida, se contasse apenas os anos com mais um dia, tal como os contava um amigo meu, entretanto falecido.


13 anos é uma idade maravilhosa, é a idade da minha filha mais velha. É também uma idade de grandes dúvidas, enormes pesares (ou pesos), de lutas constantes, sobretudo com a nossa própria cabeça, mas é também uma idade de lançamentos, de lançamentos de vidas, de futuros que ainda não conhecemos mas que julgamos grandes, embora os medos estejam aqui mais fortes.
Não tenho hoje, como é natural, 13 anos, não enfrento os combates que enfrentei naquela idade, mas sei que, num futuro qualquer irei voltar a tê-los e voltarei a reganhar as coragens que entretanto fui perdendo, porque com 13 anos, com as borbulhas a saltarem-nos por todo o lado, sentimos, pela primeira vez, que a vida não vai esperar por nós, somos nós que temos que correr atrás dela.

Benfiquismo

Por muitos Proenças, Xistras ou outros Andrades que venham. Por muito que nos façam mal, por muito que nos façamos mal a nós próprios. Por muito que nos tentem calar, por muito que nos tentem enganar, ninguém, ninguém, para além de cada um de nós, sabe o que significa ser, abençoadamente, do Benfica.

Fica aqui um excelente exemplo:

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Proença, outra vez?

É este o árbitro nomeado para sexta???



E eu que não acreditava em bruxas...

Fine Covers (LX)



UB40 e Chrissie Hynde vs. Sonny and Cher

108 anos

Que os actuais saibam honrar os fundadores e, já na próxima sexta feira, façam exaltar o glorioso nome do Sport Lisboa e Benfica.

Feliz Aniversário para todos os que acreditam!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Fine Covers (LIX)



The Communards vs. Thelma Houston

Óscar? Não.Hugo!

Não vi a maior parte dos filmes nomeados para os óscares, mas vi este e não me importo nada com quem ganhou ou deixou de ganhar. Hugo é uma delicia e para mim o que conta é a magia que me ofereceu.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Qué passa?

Continuamos a insistir em dar o ouro aos bandidos do costume.
(se bem que aqui os bandidos tenham sido ajudados por outro, como poderá ver claramente se clicar na imagem)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Graças a Deus é sexta feira



Long live the 80's! Pelo menos éramos bem mais novos.
Bom fim de semana.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Fine Covers (LVIII)



Cristina Branco vs. Zeca Afonso

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Fine Covers (LVII)



The Byrds vs. Bob Dylan

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

cuidado



Uma final perdida. Muito cuidado, eles estão à espreita.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Panda Bear

É americano, músico (dos bons), vive em Lisboa e adora futebol. É adepto, claro, do Glorioso e dedicou-lhe uma música, excepcional. Ouçam:

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Fine Covers (LVI)



Tom Smith vs. Prefab Sprout

Karneval


Será que, por estarmos no Carnaval, eles acham que não levamos a mal?

Graças a Deus é sexta feira



Bom fim de semana.

De regresso




Quando saiu de casa teve a certeza de que jamais voltaria. Vivia sozinho desde que a sua família tinha sido assassinada pelo outro.


O dia ia ser longo, tão longo que não teria fim. As suas certezas eram, hoje, mais certas que nunca. Por isso levou o chapéu à cabeça, ajustou o cinturão e assobiou baixinho. Depois começou a descer a rua com passos lentos, compassados, decididos. Quanto chegou à porta do outro chamou-o com um grito seco e forte.

Nem tempo teve de se virar, o outro, traiçoeiramente, como era seu uso, disparou primeiro, pelas costas. Ao cair teve ainda tempo de ver o céu e percebeu, naquele instante, que não importava ser ali, naquele mundo onde as injustiças imperavam. Fechou então os olhos e voltou a sorrir, há tanto tempo que não o fazia.

Quando recuperou a vontade, pouco depois, sentiu-se livre como nunca sentira e foi com uma agradável sensação de leveza que voltou a casa. Entrou pela porta das traseiras e chamou a mulher e os filhos.

Agora sim, disse-lhes, agora podemos ser felizes.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

António Arroio

Se calhar o Cavaco teve medo disto:

Fine Covers (LV)



Elbow vs. Peter Gabriel

A besta sarrafeira

A mim ninguém me tira que algum bicho azul deve soprado a este lacaio sarrafeiro alguma coisa sobre o Rodrigo. E a besta mais não fez do que aquilo que sabe, magoar severamente um jogador de futebol. Para quando a erradicação destes animais dos campos de futebol?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Famílias

As famílias não são, a maior parte das vezes, como gostaríamos que fossem, principalmente as nossas. Por muito que nos matemos a tentar fazer com que as pessoas da nossa família sejam, vivam, pensem, de acordo com as nossa expectativas, elas saem sempre goradas, há sempre uma prima que não está de acordo com aquilo que pensamos que ela poderia ser, há sempre um tio que se engana no nosso nome, há sempre um avô que gosta mais do nosso irmão do que nós. Nunca acertamos nas nossas famílias, é mais que certo.


Fundamentalmente porque as famílias são constituídas por pessoas e não por estereótipos daquilo que julgamos ser melhor e isso é uma realidade com a qual nos custa conviver. Por isso lá vamos escolhendo as nossas famílias fora dos laços de sangue, constituindo, muitas vezes, famílias paralelas, escolhidas por nós, onde cada elemento está de acordo com aquilo que julgamos mais acertado. São famílias emprestadas, falsas, mas com as quais nos sentimos bem. No fundo uma família mais não é que um conjunto de pessoas com quem partilhamos momentos, histórias, carinhos, mesmos que o sangue seja muito diferente, mesmo que as afinidades tenham nascido, apenas, dum convívio que nos foi abrindo as portas dessas pessoas que, afinal, passaram a constituir a família que sempre desejámos. Normalmente chamamos-lhes amigos e assim deve ser, uma boa família deve ser constituída por amigos, de sangue ou de outra coisa qualquer.

Como esta.

Fine Covers (LIV)



David Gilmour e Seal vs. Jimmy Hendrix

Luar (IV)






(...)Cá fora, na rua, as pessoas continuavam alegres, coloridas, viviam aquela noite de verão claro como se fosse o último dia que estivessem na terra.


Ele olhava estupefacto para a sua janela, para a janela da sua casa minúscula, a janela da sala pequena onde tinha só um sofá, onde guardava as músicas e as letras que sempre lhe fizeram companhia e via-se a si próprio, rodeado por uma luz imensa, por figuras indescritíveis, seres de luz, seres que clareavam a escuridão que saia da sua sala, que tornavam que aquela sala diminuta se tornasse num foco de claridade, como se a lua cheia que naquela noite se desenhava tão claramente no céu, tivesse invadido o seu pequeno espaço.

Não entendeu se o que se passava era real ou se era apenas a sua mente que o iludia.

Reparou então que ao seu lado as pessoas alegres e coloridas que viviam aquela noite como se fosse a última, paravam a mirar a janela da sua sala, apontavam e soltavam exclamações abafados, os seus rostos já não estavam alegres, mas sim apreensivos.

Ele levou a mão ao rosto e sentiu-o macio, sem um pelo que fosse a assomar-lhe as faces, sentiu que na sua boca estalava um sabor adocicado e que no seu peito se abria uma sensação nova, tão longe das dores que sempre sentira.

Ouviu então um som uníssono, que saía das vozes das pessoas que tinham estado alegres e que agora estavam apreensivas e olhou na direcção da sua janela ainda a tempo de se ver saltar, de braços abertos, como se esperasse levantar voo. Atrás de si irrompiam labaredas que, podia jurar, tinham formas quase humanas, seguidas por uma grande bola que se assemelhava à lua que lá cima tudo iluminava.





terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

São Valentim

Luar (III)



(...)Uma guinada mais forte fê-lo estremecer, soltou as mãos da sua cabeça e, inadvertidamente, tocou o copo vazio que estava ao lado do sofá. Ao quebrar-se o copo fez com ele abrisse novamente os olhos e despertasse da lassidão em que se vinha encontrando.


Assomou-lhe então um breve sorriso, próximo de um esgar incontrolável. A boca ainda lhe sabia mal, mas ele teve um lampejo daquilo que achou ser a lucidez.

Recostou-se no sofá, no único sofá daquela sala diminuta. Olhou à volta, descobriu os livros e os discos que estavam espalhados pelo chão, os sons e as palavras que tinha escolhido para si, havia já tanto tempo, ou assim lhe parecia.

Reparou então que estava às escuras e resolveu rodar o interruptor que ligaria a lâmpada eléctrica que estava dependurada de uma espécie de fio no tecto da sala. Quando o fez a lâmpada estilhaçou-se em mil pedaços, mas, apesar disso, uma luz surgiu, como se o tecto da sua pequena sala se tivesse aberto e pelo buraco jorrasse a energia de milhares de lâmpadas iguais à que se tinha quebrado.

Mais uma vez não compreendeu o que se passava, se aquilo era real, ou se à sua mente tinham voltado as figuras de luz, só que agora mais fortes, mais brilhantes, com um poder nunca visto ou sonhado.

Lá em cima viu que a lua, as figuras de luz que tinha criado na sua cabeça e ele próprio, se aproximavam mais da terra, da sua cidade, de sua casa. Então, numa explosão sem som, numa chuva de luz sem igual, penetraram na sua sala, naquela sala mínima da sua casa ínfima.

Descobriu-se a si próprio olhando incrédulo para aquela imensidão de luzes, sem perceber se o que se passava era real, ou se à sua mente tinham voltado as luzes que, pensava, só existiam na escuridão que tinha criado. (...)

Fine Covers (LIII)



Susana Félix vs. Hugo Maia Loureiro (e Ary dos Santos)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Luar (II)




(...)Esticou uma mão, lentamente, como que a querer tocar-lhe. Esticou o corpo. Subiu o parapeito da janela e deu por si a flutuar ao encontro da lua. Como se o seu corpo se soltasse, leve, num movimento de perpétua ligeireza. Ao seu lado materializavam-se todas as formas que tinha visto no interior da sua cabeça, dele próprio começou a irradiar uma luz, igual aquela que saia das outras formas.


Sentia-se um personagem feito de luz, tal como os outros, tal como a lua que estava agora maior, ou mais perto, ao alcance da sua mão.

Lá em baixo as pessoas continuavam a caminhar com as suas cores, os seus risos sonoros, as suas vidas risonhas, ou só aparentemente, alegres. O verão estava feliz naquela noite de grande luar, de uma enorme lua brilhante que era agora acompanhada por outras figuras de luz de que ninguém parecia aperceber-se.

Viu ainda a sua casa e conseguiu perceber a sua janela aberta de para em par e uma silhueta negra parada sobre o parapeito, mãos estendidas para o céu, estremecendo e hesitando em saltar ou voltar para dentro.

Voltou a sentir no interior da sua boca aquele sabor rouco, a ervas queimadas, que lhe arranhava a garganta e bem mais que isso, lhe tornava o peito feroz, azedo.

A lua continuava enorme à sua frente, as figuras de luz tinham entretanto desaparecido naquela imensidão de luz que jorrava daquele luar imponente. No interior da sua cabeça já não havia agora lugar para tais figuras, a escuridão tinha desaparecido e tudo era só luz, brilho, incandescência, uma fogueira indomável, um imenso rio de lava que o queimava e não deixava espaço para a escuridão que o mantinha vivo.

Lentamente desceu do parapeito e fechou a janela. Lá fora o ruído como que parou, as cores das pessoas que passavam alegres desapareceram.

Sentou-se novamente no único sofá daquela sala minúscula, daquela casa mínima, daquela cidade que vivia alegremente o seu verão colorido sem saber que naquela sala, naquele sofá ele voltava a enterrar a cabeça entre as mãos e voltava a sentir os pelos da barba mal feita a enterraram-se lente, mas persistentemente, na carne entre as unhas. A dor voltou-lhe ao peito, vagarosa a perfurar-lhe o esterno e a subir-lhe, inexorável, pelo rosto em direcção ao cérebro. (...)

Fine Covers (LII)



Glee vs. Adele

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Luar (I)



Estava sozinho em casa, sentado no sofá da sala, naquele único sofá daquela pequena sala. Escondia a cara entre as mãos, sentia os pelos da barba a penetrarem, duros, nas extremidades dos seus dedos, entre as suas unhas. Ia pensando, nada em concreto, pensava na dor que os pelos lhe provocavam ao cravarem-se na carne entre as unhas, pensava que tinha sede e pensava sobretudo que não tinha vontade. Não tinha vontade de nada. De sair daquela posição, de levantar o rosto, de se barbear, de pensar.


Doía-lhe o peito. Uma dor ao mesmo tempo fina e grossa, ou melhor, às vezes fina, mas que ia engrossando até ser quase insuportável e que depois se ia esfumando lentamente até quase desaparecer e depois voltava ao inicio.

Ao seu lado estava pousado um copo vazio, logo ao lado de uma garrafa igualmente vazia. Na sua boca ainda permanecia um leve trago a uísque barato, não era, aliás, um leve travo, era uma rouquidão impossível de tratar, era um ronco infinito que na sua garganta se havia formado para nunca mais desaparecer.

Mantinha os olhos fechados, admirando o interior da sua cabeça, ou assim queria acreditar. Que aquelas coisas que via com os olhos fechados fossem o interior da sua cabeça, aquilo que lhe alimentava as ideias, ou a falta delas.

Luzinhas fugidias, imagens difusas que se iam formando, escapando-se-lhe por entre a escuridão que vivia lá ao fundo, no interior da sua cabeça, figuras humanas feitas de luz, feitas, talvez, de uma imaginação que poderia ser fértil ou apenas estranha.

A sala onde se encontrava estava despedida, despida de mobiliário, para além do sofá onde se sentava tinha apenas uma mesa baixa e um conjunto desirmanado de cadeiras, depois eram livros e discos espelhados pelo chão, sem disposição aparente, a um deus dará que depreendia de tudo o resto e até dele próprio. Mas aquela sala parecia igualmente despida de emoção, toda ela era silêncio perturbador, embora lá fora o ruído da cidade se manifestasse forte. Para além daquela sala nada mais havia naquela casa que ressaltasse, era uma casa pequena e também ela vazia.

Quando abriu os olhos continuou a ver as formas que se tinham formado na sua cabeça, no seu interior, na escuridão que o consumia.

Levantou-se devagar e procurou outra garrafa, a boca e alma pediam-lhe a aspereza da bebida maldita que era a única que bebia. Acercou-se da janela e abriu-a de par em par. Lá fora era verão, havia gente nas ruas, cores e gritos, aquilo a que se chamava alegria parecia despender-se das ruas, das vozes, das caras das pessoas. Era noite e o céu estava azul-escuro. Bem lá no meio uma enorme lua recortava e iluminava tudo, quase lhe parecia ser mais uma das imagens que formara no seu interior escuro, uma bola que irradiava luz, uma luz baça mas forte.

Deixou-se ficar a olhá-la, a deixá-la aproximar-se de si, até que nada mais conseguia ver, só o escuro que rodeava aquele círculo de luz que se mexia, que lhe vinha ocupar todo o espaço que lhe restava. (...)

Mais uma


E lá vencemos mais uma final.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Graças a Deus (ontem foi) é sexta feira



Rodrigo Leão e Neil Hannon e depois não me venham dizer que não existe a perfeição.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Rock em Stock



De repente veio-me à memória a rádio, daquele tempo em que a rádio era a sério, em que havia, de facto, programas de rádio e onde podíamos ouvir os autores, aqueles autores que sabiam comunicar, fazer rádio, deleitar-nos com os seus conhecimentos e com as músicas que nos ofereciam, daquelas a sério, daquelas que valiam a pena, sem playlists, sem concessões ao comercialismo, sem artificios manhosos, tudo puro, tudo para todos os gostos, tudo para que os ouvintes se sentissem presos aos seus programas, daqueles que nos faziam bem, que nos faziam querer ficar agarrado ao aparelho de rádio porque ele nos acompanhava, nos mostrava aquilo que queríamos conhecer, naqueles que eram, verdadeiramente, os dias da rádio. Nessa altura um dos meus programas era o Rock em Stock do saudoso Luis Filipe B(e)arros.
Abaixo podemos ouvir (nos primeiros 40 s. da canção) o genérico que nos abria as portas do sonho.



Graças a Deus (ainda) é sexta feira



É tão bonito que chega a doer, ou então é a dor transformada em beleza, «mas é mesmo assim o amor».
Bom fim de semana outra vez.

El Mago



É disto que precisamos. É isto que vamos continuar a ter.

PABLITO AIMAR!

Graças a Deus é sexta feira



Depois do fim do dia de ontem ter sido passado em tão boa companhia, aqui vos deixo um cheirinho daquilo que vi e ouvi e que tão bem me soube.
Bom fim de semana.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Fine Covers (LI)



Elvis Costello vs. Charles Aznavour

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Acordo Fotográfico

Este é um blog muito interessante.

Dickens 200

Piegas?!

Passos pede aos portugueses para serem “mais exigentes” e “menos piegas”


Ó senhor Passos e se fosse bardamerda?


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Futuro ibérico


Estes sim são a alegria do povo. E com futuro!

Fine Covers (L)



Rui Reininho vs. Doce

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Um canto escuro



Havia um canto qualquer no seu cérebro que lhe ia indicando o caminho a seguir, se bem que, na maior parte das vezes esse canto estivesse muito pouco iluminado, quase sempre às escuras. Uma vez por outra os seus olhos desviam-se para lá, para o sitio onde a escuridão quase sempre imperava e então ele conseguia distinguir quais os passos que deveria encetar. Mas, por ser tão raro, as mais das vezes ele andava em círculos, dando voltas e mais voltas sobre si próprio, fazendo com que os seus dias se repetissem até à exaustão. Tanto que já nem lhe desagradavam, passavam apenas e ele quase nem dava por eles, a noite e o dia, a chuva e o sol confundiam-se sem que ele conseguisse perceber onde acabavam uns e começavam outros.


Entretanto o resto do cérebro ia trabalhando, obrigando-o às tarefas rotineiras do dia-a-dia, sem nunca chegar a perceber que, naquele canto escuro estaria, porventura, a sua salvação. Às vezes, quando dormia, uma luz irradiava forte, do canto escuro e ele sonhava com coisas impossíveis, com saltos enormes, com aventuras fantásticas, com momentos inolvidáveis, mas depois, quando acordava, rapidamente se esquecia de tudo, foi apenas um sonho, pensava e nunca mais lhe dava atenção.

Os dias continuavam a passar e os círculos que os preenchiam eram cada vez mais apertados. Doía-lhe o coração e ele quase nem dava por isso, o cérebro estava demasiado preenchido a mostrar-lhe como se devia curvar perante as horas que lhe escureciam a vida.

Um dia adormeceu, esqueceu-se de acordar à hora de todos os dias e mesmo depois de abrir os olhos não viu onde estava. O sonho era mais forte que a vontade da rotina. Apesar de tudo levantou-se e preparou-se para tomar os caminhos usuais. Mas a luz que irradiava do canto escuro do seu cérebro era forte demais para ser ignorada. Voltou a deitar-se e assim ficou, sem saber por quanto tempo.

Mais tarde, quando vieram bater à porta de sua casa, não respondeu, não se levantou do sítio onde estava, a luz continuava a iluminá-lo e ele sabia que não precisava de mais nada para ser feliz.

Passado ainda mais tempo, quando os dois bombeiros conseguiram finalmente abrir a porta de sua casa, encontraram-no na mesma posição, deitado, ignorando tudo, excepto a luz que lhe que lhe explodia no cérebro. Sorria.

Antes de fechar o saco preto onde o embalavam, o primeiro bombeiro não se conteve e comentou para o outro:

- A julgar pela cara, este deve ter morrido satisfeito.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O livro



Caminhava de cabeça baixa, absorto com as palavras que lia no livro aberto à sua frente. Nunca um livro lhe tinha despertado tanto prazer, nunca as palavras lhe tinham trazido tantas certezas, tantas dúvidas também, tanto gozo em ser atirado de um lado para o outro, porque era assim que se sentia. Abanado. As ideias chocalhavam na sua mente, agitavam-no e isso era tudo o que sempre procurara nos livros e ele já lera muito, aliás era tudo o que fazia, pelo menos tudo o que fazia por gosto, com vontade.


Ao caminhar de cabeça presa no livro que lia, não se apercebeu de todo o reboliço que estalava à sua volta. Não via que outras palavras eram atiradas sem nexo, sem regresso, sem vontade, ou então com vontade retorcida, maligna. Não se apercebeu também das correrias, dos bastões e até dos tiros que voavam por perto.

O seu caminho era feito pelo livro que lia, nem mais à esquerda, nem menos à direita. Não se apercebia do que acontecia à volta, nem isso lhe importaria se se desse conta, porque o que interessava, o que lhe moldava os dias e o fazia caminhar, estava ali naquelas páginas.

Ali por perto já jaziam vários corpos, mortos, feridos, inconscientes, ou simplesmente disfarçados disso tudo, por medo, ou precaução, por estratégia ou por não saberem estar doutro modo. Do outro lado da rua havia barricadas, fumo e explosões e nada disso ele via, porque não queria, não precisava, não sabia como.

Os gritos eram estridentes, de um lado e do outro, fúrias incontidas, raivas escancaradas, ódios adivinhados.

Foi então que chegou à última página e fechou o livro. Olhou então o que estava à sua frente e com uma calma natural ergueu o livro no ar.

Imediatamente se viraram para ele e recuando preparam as espingardas.

Cuidado, ouviu ao longe, ele tem um livro na mão!

Fine Covers (XLIX)



Neil Hannon vs. religious hymn

Graças a Deus é sexta feira



Uma canção que me leva aos tempos duma infância sonhadora e feliz. Há tantos anos que não a ouvia.
Bom fim de semana.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vida de pobre reformado




Ó Maria vê lá se tens aí uns trocos para uma mine.

Fine Covers (XLVIII)



David Bowie vs. Jacques Brel

Histórias com Música (52)

Lembro-me muito bem de me falarem dele, do papão que vivia no telhado e que comia criancinhas. Do homem do saco.


Lembro-me até de o ver quando, no fim da tarde, o ardina, o pobre ardina, vinha bater à porta da casa dos meus avós, para lhes trazer os jornais vespertinos. Era ele o homem do saco, um enorme saco onde trazia os jornais mas que, para mim, era o saco onde ele levava as criancinhas. O homem do saco era ele, o papão que vivia no telhado e que comia criancinhas. Mal sonhava o pobre homem que era assim que eu o via, que é assim que o vejo ainda hoje, tantos anos depois, quando agora ele não deve ser mais que um fantasma, uma espécie de fantasma negro dos meus sonhos, um rosto que ainda ligo ao terror infantil, aquele que fica, o único que fica ao longo de toda a vida, porque é o único real, o verdadeiro, porque é aí que as coisas se manifestam com mais rigor, com maior verdade, naquela idade em que aprendemos que, apesar do sol que brilha, há muita escuridão no mundo, naquele mundo que ainda não conhecemos mas que vamos intuindo, que se vai abrindo à nossa frente, como um papão que vive nos telhados, como um homem do saco que vem bater, todas as tardes, à nossa porta.

Parece que, depois, nos esquecemos disso, mas não, cá bem dentro de nós sabemos que ele existe, mesmo que o queiramos esconder, o homem do saco, o papão, está sempre lá, à nossa espera e mesmo que vá adoptando outras formas, mesmo que vá utilizando outros sorrisos, quando menos esperamos ele toca-nos no ombro e sorrindo amavelmente diz-nos: Não me esqueci de ti…




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

75º aniversário de Assis Pacheco


Para ler deliciosamente, hoje e sempre.

...like a work of art...



«(...)We need to live in a state of suspended animation, like a work of art; in a state of enchantment... detached. Detached»

in THE DIVINE COMEDY - THE CERTAINTY OF CHANCE