quarta-feira, 17 de março de 2010

(...) - 8

(...)Como aquelas que ouvíamos todos os dias. Em que as palavras são desbravadas sem dó nem piedade. Amazónias virgens destruídas pela insensibilidade das pessoas.
Sempre acreditei que só devíamos falar quando conseguíssemos respeitar cada palavra, cada sílaba, cada letra.
São um bem raro, as palavras, embora ninguém pareça aperceber-se disso.
Cada palavra dita sem significado, sem querer, sem vontade, é menos uma que poderá ser aproveitada por quem, verdadeiramente, as ama.
A palavra é o bem mais precioso de toda a humanidade.
Tantos livros que são escritos sem respeito pela palavra. Sempre pensei que só se deviam escrever os livros necessários. Nem mais um.
Tanto desperdício.

Quando era criança olhava os livros que estavam na estante do meu avô e ficava horas perdidas pensando no que estaria lá dentro. Não me atrevia a pegar-lhes com medo que as palavras voassem e não voltassem a habitar aqueles livros.
Cada palavra perdida não poderia ser mais encontrada. Ou então ia misturar-se com as de outro livro e tudo aquilo que queria dizer ficaria perdido para sempre.
Por isso não lhes pegava. Olhava-os apenas e sabia que assim estariam protegidos. Os livros não são para se estragar, mesmo aqueles que já nascem estragados.
Por isso nunca me atrevi a escrever.
(...)

Sem comentários: