quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

histórias de Rosa Branca



XXII

Apesar de ser impossível, parecia-lhe mais velho hoje. Pelo menos mais cansado, o que era, igualmente, uma impossibilidade, ou, pelo menos assim julgava.
Como habitualmente o Velho não lhe falava, bastava estarem ali, um em frente ao outro, deixando que os olhos se revelassem, para tudo compreenderem.
Hoje havia uma espécie de neblina entre eles, os olhos do Velho não estavam tão legíveis como das outras vezes. Com alguma dificuldade lá foi detectando as suas preocupações, percebendo os seus avisos, embora, sinceramente, não os entendesse.
Das primeiras vezes, sim, tinha sido difícil lá chegar, mas com o tempo, a experiência e a cumplicidade entretanto criada, aquela forma peculiar de comunicação já não lhe oferecia dificuldades.
Hoje, no entanto, era diferente. Percebeu que o Velho continha em si alguma dose de sofrimento, isso era patente, ouvia-lhe as lamúrias e os avisos, mas não sabia como actuar, o que fazer, não conhecia o próximo passo.
O tempo estava, contudo, a passar. O Velho desvaneceu-se na bruma e Zacarias ficou imóvel, olhando o espaço vazio à sua frente e sentindo-se quase impotente para seguir. E o quase aqui tem uma importância suplementar, porque breves instantes após, Zacarias percebeu o que tinha que fazer, pelo menos era a única solução que tinha encontrado para aquilo que entendera do Velho.
Olhou então em frente e começou a caminhar.

(continuará)

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