terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Dos 7 aos 77


Tintin faz hoje 77 anos!
Como sentida homenagem a este "herói" que tanto maravilhou (ainda o faz) a minha infância, deixo aqui um breve texto que escrevi há alguns anos a este propósito.

Um círculo maior para a cara, dois pequenos pontos para os olhos, uma vírgula para o nariz, um semicírculo para a boca e uma característica popa no alto da testa. Eis os ingredientes necessários para criar um mito.
Primeiro entre as crianças e os adolescentes belgas, mais tarde na vizinha França e expandindo-se pelo resto da Europa e pelos outros continentes.
As crianças e os jovens dos primeiros anos cresceram e o mito conquista a geração adulta.

Duas breves sílabas com o mesmo som dão-lhe o nome : TIN TIN.
Hoje quase toda a população da Europa Ocidental e grande parte do resto do mundo está familiarizada com este nome.
Sinónimo de aventura, de humor, de coragem, de inteligência, de valentia, de amizade, de descoberta, de solidariedade, de bravura e sobretudo de encanto; este nome fez, faz e obviamente fará sonhar milhões de jovens em todo o mundo, jovens esses que, conforme o lema da própria série, se situam etariamente entre 7 e os 77, mas que convictamente, acreditamos nós, se deverão realmente situar entre o momento em que se consegue folhear o primeiro livro e aquele em que já nem para isso há força.

Surgiu em 1929 acompanhado unicamente por um pequeno fox-terrier completamente branco e com a faculdade única de saber falar. Foi conquistando, com o passar dos anos uma “sui-generis” e heterogénea “família”, basicamente composta por :

Dois detectives de fato e chapéu de coco negros, inseparável bengala e cuja única diferença visível na sua falsa “gemealidade” se traduz no formato dos seus bigodes, de pontas caídas para DUPOND, de pontas arrebitadas para DUPONT. Perfeitamente imbecis. Incapazes de resolverem por si sós qualquer mistério que se lhes depare, são exemplos acabados da atrapalhação, da confusão e da má interpretação dos factos; têm como característica muito própria o seu verbalismo, de que se destaca a célebre frase : “je dirais même plus...”

Outro importante elemento da chamada “família de papel” é a cantora lírica italiana BIANCA CASTAFIORE, também chamada “o rouxinol milanês”. Figura de porte altivo e voz poderosíssima, tem na ária das Jóias da ópera Fausto de Gounod a sua mais brilhante interpretação. Surgindo muitas vezes como um “empecilho” ao bom termo da acção que decorre, esta personagem caracteriza-se muito pelo “bom coração” que possui e pela ajuda que várias vezes presta aos outros elementos desta “família”. Uma nota de humor é dada através da constante troca do nome do Capitão Haddock. A esta figura é, aparentemente, dedicado um álbum da série. Esse livro passa por ser o mais intimista e introvertido de todos e é muitas vezes citado como o exemplo da anti-aventura, sendo por muitos considerado a obra-prima de toda a série.

A terceira personagem a entrar para a “família” tem por nome ARCHIBALD
HADDOCK. Com a entrada do Capitão, no “Caranguejo das Tenazes de Ouro”, Hergé cria uma das personagens mais ricas de sempre no mundo da banda desenhada. Eterno apreciador de whisky, vociferador ímpar, truculento imparável , mas com um coração maior que o mundo, este capitão de longo curso é uma figura inconfundível, com a sua camisola de gola alta de cor azul escura enfeitada com uma âncora, o seu chapéu de oficial marinheiro e o inseparável cachimbo. Torna-se o melhor amigo de Tintin e consequentemente o melhor amigo de todos nós. É ele que personifica a faceta extrovertida, impulsiva e mais divertida de toda a série.

Depois dele surge o professor TRYPHON TOURNESOL, vestido de verde, óculos redondos, pêndulo na mão direita e guarda chuva na esquerda, este sábio caracteriza-se por uma inteligência tão grande quanto o é, inversamente, a sua surdez e distracção. Obreiro de grandes feitos, é graças a ele que se irão desenvolver duas das histórias máximas da série, o duplo álbum “As Sete Bolas de Cristal / O Templo do Sol” e “O Caso Girassol”.
Depois de “lhe ter piscado o olho” em dois volumes anteriores ao seu surgimento, em “Os Charutos do Faraó” com P. Siclone e em “A Estrela Misteriosa” com H. Calys, Hergé fá-lo aparecer, definitivamente, em “O Tesouro de Rackham o Terrível”, de forma abrupta, como que impondo-se, ele mesmo, à entrada na série.
Sempre no “mundo da Lua” (talvez por isso tenha sido o grande impulsionador da viagem a esse satélite), o Professor Tournesol é símbolo da sabedoria e da distracção, sendo ele que congrega unanimemente a amizade, a admiração e a inveja de todos os outros, amigos e/ou inimigos.

A última figura da família (que se pode designar como básica) é o “impossível” SERAPHIN LAMPION. Vendedor de seguros da Companhia Mondass, é uma figura típica da cidade de Bruxelas, com todos os seus defeitos e inconvenientes, tal como é referido por Hergé.
Surge pela primeira vez no álbum “O Caso Girassol” e depois disso (com excepção no “Tintin no Tibete”) a sua presença, indesejada e incómoda é sempre garantida.
Pai de uma numerosa família, não hesita em levá-la para o Castelo de Moulinsart quando neste se encontra apenas o mordomo Nestor, o que origina um verdadeiro pandemónio. Apesar da sua inconveniência, esta figura ganhou lugar de destaque e a sua negatividade deu-lhe a necessária estatura para ser das personagens mais importantes da série.

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