quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O caminho de casa



Espelho, espelho meu…

Quantas vezes já te perguntaste?
E depois quantas vezes ficaste com vontade de comer a maçã, de espera por alguém encantado, preso numa floresta, numa tumba de cristal, aguardando?
Quantas vezes já te encontraste perante o monstro. Repleto de medo, de pavor de estar só e abandonado num castelo enorme e medonho, onde nada mais impera que o breu e o desconhecido?
Por quantas vezes já esperaste por uma fada madrinha que nunca surgiu. Mesmo que fosse apenas para te oferecer uma abóbora que se pode pudesse tornar em imaginações sem limite. Mesmo sabendo que tudo acabaria com a última badalada.
E quantos foram os momentos em que te quiseste embrenhar na floresta para encontrar uma casa de chocolate, mesmo correndo o risco de te deparares com uma bruxa horrenda, mascarada de tentações irrecusáveis.
E já pensaste em todas as vezes que adormeceste durante uma centena de anos, só para esperar que o dragão pudesse ser vencido. Será que ainda te lembras de ter procurado a roca e o fuso, de os quereres encontrar a todo o custo, mesmo quando as fadas boas se apressavam a tentar escondê-los de ti?
Tu, que sempre conheceste os caminhos onde o lobo se escondia e os tomaste só para poder encará-lo de frente e oferecer-lhe uma virgindade envergonhada.

Iô, iô, para casa agora eu vou…

No fundo foi sempre isso que quiseste ouvir. Buscar incessantemente esse caminho.
Para poderes experimentar o sapatinho de cristal com a certeza inabalável de que ele te iria servir.
Olhar o monstro nos olhos e perceber que, no fundo daquele olhar infeliz, estava uma alma à procura, tal como tu, da remissão de uma felicidade julgada impossível.
Comer a casa de chocolate, não contendo a voracidade, só pelo simples prazer de uns momentos bons, sabendo que ela ali estaria sempre que o desejo voltasse.
Adormecer em paz, por uma eternidade que, sempre o soubeste, iria ter um fim abrupto, porque todas as eternidades, por muito longas que sejam, acabam por se tornar enfadonhas e perigosamente infelizes.
Tu, que preferes andar de braço dado com o lobo, em vez de o atrair para emboscadas pueris, onde caçadores, sem alma nem coração, parecem ter chegado a finais felizes que, afinal, não passam de disfarces para quem, como tu, conhece, bem demais, o caminho de volta.
Todos os caminhos de volta.

E viveram felizes para sempre…

Assim é, mesmo que esse sempre tenha o seu epílogo já na próxima esquina. No exacto local onde irás encontrar uma nova história, aquela que te encantará outra vez! Porque só dessa forma, sabe-lo bem, poderás tomar o caminho de volta a casa.
E ser feliz…para todo o sempre!

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