sexta-feira, 30 de setembro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Pressas
Quando a porta se abriu verificou que o elevador estava cheio.
Que chatice, pensou, é sempre quando temos mais pressa que o atraso se impõe.
Não encontrando outra alternativa, desceu os 15 andares numa corrida desenfreada pelas escadas.
Quando chegou á porta da rua ouviu um choro de bebé e exasperou-se quando percebeu que o carrinho de onde provinha o choro estava preso na porta impedindo entradas e saídas.
Por vezes há uma espécie de desespero que ilumina as ideias e foi isso que lhe aconteceu, subiu ao primeiro andar e da janela do patamar saltou para a rua.
Começou então uma corrida de alta velocidade pela avenida. O tráfego era intenso, quer de veículos, quer de pessoas e ele ziguezagueou por entre os transeuntes, fazendo gincanas impossíveis, atravessando a estrada por entre os carros que não o viam. Até que percebeu o barulho ensurdecedor de uma moto e, no último instante, conseguiu evitá-la, ela que circulava por entre os automóveis que, entretanto, formavam uma fila interminável, parados perante o vermelho de vários semáforos avariados.
Refeito do susto, viu que várias viaturas da polícia tapavam a passagem lá mais à frente e, com um enorme suspiro resignado, percebeu que não conseguiria chegar ao seu destino a horas.
Foi então que olhou para o lado, para o café que estava à sua direita e viu que, lá dentro, o aparelho de televisão estava ligado.
Com um enorme sorriso a bailar-lhe nos olhos, franqueou a porta, sentou-se na primeira cadeira e pediu uma cerveja, ao mesmo tempo que o árbitro apitava para o inicio do encontro.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Bola azul
Acordou cedo naquela MADRUGADA. Espreitou pela janela e percebeu que, no meio da neblina que já se dissipava, o céu se descobria em tons de um azul inexplicável. O mar, que quase roçava a porta de sua casa, chamava-o. Foi então que reparou na enorme bola azul que, ao longe, vinha saltitando ao sabor das ondas calmas que beijavam a areia…
…quando a MANHÃ se abriu completamente saiu de casa e caminhou lentamente pelas dunas em direcção à praia. Estava deserta, alegrou-se. Uma leve brisa acompanhava-o, afastando as breves nuvens que, teimosamente, ainda se mantinham naquele azul brilhante que saía do céu. Sentou-se na areia e fixou o mar. A enorme bola azul estava agora mais próxima, saltando por sobre as vagas que lhe pareciam sorrir. Deixou-se assim ficar…
…nem se apercebeu que a TARDE despontava já. O sol ia a pino e, apesar do calor, ou por isso mesmo, a praia continuava vazia. Levantou-se e aproximou-se do mar. A enorme bola azul estava cada vez mais perto. Apesar dos saltos que dava e da água que ia explodia , não conseguia ouvir o mínimo ruído. Molhou os pés e tal frescura despertou-lhe ainda mais os sentidos que não sabia possuir…
…ao longe o sol punha-se agora. A NOITE chegava. Fechou os olhos e deitou-se na areia molhada. Continuava quente aquele dia que se aprestava a terminar. Sentiu um silvo por cima de si. Abriu os olhos, a enorme bola azul estava parada exactamente por sobre a sua cabeça. A praia continuava deserta. Levantou-se calmamente e tentou tocar-lhe. Sentiu um frémito inesperado no preciso momento em que a bola recomeçou a saltitar. Foi já sem espanto que a viu afastar-se ao longo do extenso areal.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
O caminho de casa
Espelho, espelho meu…
Quantas vezes já te perguntaste?
E depois quantas vezes ficaste com vontade de comer a maçã, de espera por alguém encantado, preso numa floresta, numa tumba de cristal, aguardando?
Quantas vezes já te encontraste perante o monstro. Repleto de medo, de pavor de estar só e abandonado num castelo enorme e medonho, onde nada mais impera que o breu e o desconhecido?
Por quantas vezes já esperaste por uma fada madrinha que nunca surgiu. Mesmo que fosse apenas para te oferecer uma abóbora que se pode pudesse tornar em imaginações sem limite. Mesmo sabendo que tudo acabaria com a última badalada.
E quantos foram os momentos em que te quiseste embrenhar na floresta para encontrar uma casa de chocolate, mesmo correndo o risco de te deparares com uma bruxa horrenda, mascarada de tentações irrecusáveis.
E já pensaste em todas as vezes que adormeceste durante uma centena de anos, só para esperar que o dragão pudesse ser vencido. Será que ainda te lembras de ter procurado a roca e o fuso, de os quereres encontrar a todo o custo, mesmo quando as fadas boas se apressavam a tentar escondê-los de ti?
Tu, que sempre conheceste os caminhos onde o lobo se escondia e os tomaste só para poder encará-lo de frente e oferecer-lhe uma virgindade envergonhada.
Iô, iô, para casa agora eu vou…
No fundo foi sempre isso que quiseste ouvir. Buscar incessantemente esse caminho.
Para poderes experimentar o sapatinho de cristal com a certeza inabalável de que ele te iria servir.
Olhar o monstro nos olhos e perceber que, no fundo daquele olhar infeliz, estava uma alma à procura, tal como tu, da remissão de uma felicidade julgada impossível.
Comer a casa de chocolate, não contendo a voracidade, só pelo simples prazer de uns momentos bons, sabendo que ela ali estaria sempre que o desejo voltasse.
Adormecer em paz, por uma eternidade que, sempre o soubeste, iria ter um fim abrupto, porque todas as eternidades, por muito longas que sejam, acabam por se tornar enfadonhas e perigosamente infelizes.
Tu, que preferes andar de braço dado com o lobo, em vez de o atrair para emboscadas pueris, onde caçadores, sem alma nem coração, parecem ter chegado a finais felizes que, afinal, não passam de disfarces para quem, como tu, conhece, bem demais, o caminho de volta.
Todos os caminhos de volta.
E viveram felizes para sempre…
Assim é, mesmo que esse sempre tenha o seu epílogo já na próxima esquina. No exacto local onde irás encontrar uma nova história, aquela que te encantará outra vez! Porque só dessa forma, sabe-lo bem, poderás tomar o caminho de volta a casa.
E ser feliz…para todo o sempre!
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Outono
Está a chegar a estação com as cores mais bonitas.
(Queria ter encontrado o vídeo para a música que está abaixo mas não consegui, de qualquer forma aqui fica a música que acaba por ser das mais bonitas que os Genesis pós-Gabriel fizeram, chama-se Evidence of Autumn, e é apropriada aqueles que gostam da época)
Apenas um livro
Eis-me aqui chegado. Por caminhos que nunca imaginei. A locais que nunca pensei possíveis. Até me sentir encurralado onde hoje estou.
Quando olho para trás, nem eu, nem quem me criou, sonhámos que poderíamos tomar tais formas, percorrer estradas como estas, cair em tais enganos.
Já sou muito velho, vi muitas coisas, passei por muitas mãos.
Com esta forma e com outras. Com estas letras e com muitas outras.
Tive muitos irmãos. Uns mais bonitos, outros nem tanto.
Vivi muitas casas, deitei-me em muitas camas.
Passei por olhos que nunca me compreenderam e por muitos outros que me deram momentos de infinita felicidade. Tal como aquela que eu também ofereci.
Fui alto e baixo. De cores brilhantes e escuro como breu também. Servi para deleites e para coisas que nem me atrevo a confessar.
Fui queimado e idolatrado. Estive em salas silenciosas e naquelas em que a alegria e o riso comandavam.
Fizeram discursos emotivos sobre mim. E de outras vezes ignoraram-me.
Mas nunca passei despercebido, mesmo que muitos tivessem passado por mim sem me entenderem.
Houve quem me guardasse como um tesouro. Precioso.
Houve quem me usasse como causa menor.
Tudo o que quis foi agradar. Foi prazentear. Fazer sorrir e também chorar.
Emocionar.
Consegui-o. Sei que o consegui muitas vezes.
Vivi muitos anos. Muitos papéis conheci. Muitas capas me cobriram. Muitos desenhos me deram vida. Em muitas salas me escondi. Em muitas outras me descobri.
Hoje nem por isso.
Hoje vivo numa redoma. Quase nem vivo.
Sinto-me preso, estou preso numa gaiola de vidro. Sem vida própria. Numa espécie de limbo em que me transportam para todo o lado, mas sem poder ficar.
Hoje não existo, embora persista. Persisto numa vontade imensa de me tornar vivo outra vez. De poder voltar a viver em cada um que me lê. Que me lê a sério. Folheando-me. Anotando-me. Vendo-me. Mexendo-me.
Nunca escondendo-me dentro dum espelho em que não existo, em que apenas estou numa realidade virtual, sem alma, sem corpo.
Não foi para isso que me criaram. Nunca para estar num espaço de vidro, mas para estar presente, para que me vejam e sintam, para que as palavras que tenho em mim sejam permanentes, reais, palpáveis e não apenas símbolos esquecidos num mecanismo que se liga e desliga, como um mero interruptor.
Eu sei-me vida, sei-me significado, com seiva e sangue, com alma e espírito, com corpo e forma.
Eu estou aqui, como estive desde sempre, como estarei para sempre.
Eu sou um livro. Um livro a sério. Com capa, folhas, letras, palavras e significados.
Nunca serei apenas um reflexo embutido num espelho.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
O Horizonte
O homem estava sentado à porta de sua casa. Os seus olhos fixavam um ponto no horizonte distante. Um ponto que mais ninguém alcançava, que mais ninguém saberia alcançar, porque mais ninguém se atrevia a olhar o horizonte.
O homem sentava-se junto à porta de sua casa todos os dias à mesma hora e fixava-se no horizonte.
Diziam que nunca se mexia, que nem os seus olhos pestanejavam. Nenhum dos seus músculos se movia enquanto ele permanecia ali sentado perscrutando o horizonte.
Chegava sempre de manhã muito cedo, assim pensavam os que ali o viam. Nunca dali saía, acreditavam.
A única certeza era que, todos os dias, ele ali estava. Quedo e mudo, fitando intensamente a linha imaginária que se desenhava lá ao longe, onde tudo podia começar ou até terminar.
Havia quem sempre se lembrasse de ver o homem sentado à porta de sua casa. Não havia, contudo, ninguém que conseguisse afirmar que o havia visto fora daquele lugar.
Não se alimenta, diziam alguns, não necessita, pensavam todos. A sua vida é fixar o horizonte, acreditavam.
Ninguém sabia porquê, ninguém imaginava para quê.
Habituaram-se ao homem que se sentava à porta de sua casa a fixar o horizonte. Já quase não davam por ele.
Um dia o homem levantou-se e caminhou alguns passos, lenta mas decididamente. Pegou na sua cadeira e, poucos metros à frente, parou. Colocou-a cuidadosamente junto a uma pequena laranjeira que por ali se quedava só. À sua sombra se sentou e voltou a contemplar a ténue linha que se desenhava ao longe.
Alguns acercaram-se então do homem, tentaram falar-lhe, perguntar-lhe porquê, porque se tinha movido, porque tinha decidido sair do lugar que sempre tinha sido o seu.
O homem não respondeu, nem os olhou sequer.
Continuava a fixar o horizonte, os olhos presos no exacto lugar para onde sempre estiveram direccionados.
Houve quem insistisse, mas de nada resultaram as perguntas, os apelos que lhe lançaram. Depressa se cansaram e desistiram.
O homem ali ficou, sentado à sombra de uma laranjeira que já se tinha esquecido de existir.
Nos dias seguintes o homem ainda lá estava, bem como a laranjeira. A sua casa, no entanto, tinha desaparecido. Nunca ninguém conseguiu descobrir como nem porquê. Como que se evaporara no ar, num breve segundo de uma noite demasiado escura, sem o mínimo ruído, sem sombra de derrocada, de qualquer tipo de destruição evidente. Desaparecera simplesmente.
O homem continuava, impávido, a olhar o horizonte, debaixo de uma laranjeira a quem, inesperadamente, tinham começado a crescer folhas. O fenómeno intrigou toda a gente. A árvore estava morta há muito tempo e ninguém acreditava que pudesse renascer, porque não é essa a lei da vida.
Não consideravam ser milagre, porque há muito tempo se tinham esquecido que há explicações que só se compreendem para lá do óbvio e depressa esqueceram que uma simples árvore, morta há muito, tinha resolvido renascer.
O homem, esse, continuava sentado debaixo da laranjeira e o mundo que lhe ficava atrás, esse, ia desaparecendo sem ele se dar conta.
Foi por isso que, sem espanto, no dia seguinte já ninguém conseguiu ver o homem levantar-se e iniciar a caminhada em direcção ao horizonte.
Atrás de si todas as casas, caminhos e pessoas tinham desaparecido e o homem nunca se virou, limitou-se a caminhar na única direcção que lhe era permitida.
A seu lado uma laranjeira florida e carregada de sumarentos frutos, acompanhava-o decidida!
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
ainda de regresso
Descobri este disco recentemente e não consigo deixar de o ouvir. Por isso o regresso está a ser feito devagar, porque é assim que estas músicas nos deixam, calmos, lentos, mas com vontade de regressar...
terça-feira, 13 de setembro de 2011
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