quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O Domador das Ondas


François Boucq é um dos mais extraordinários autores da banda desenhada francófona contemporânea.
Dono de um traço perturbante, cheio e duro, dá-nos, no entanto, histórias impregnadas dum humanismo, por vezes, transcendente, raiando o fantástico.
Da sua colaboração com Jerôme Charyn resultaram duas obras maiores, A Mulher do Mágico e, sobretudo, o ambiente gelado mas, ao mesmo tempo, comovente de Boca do Diabo.
Surpreendente é também a sua séria dedicada a Jerôme Moucherot, que nas suas próprias palavras se identifica como «(...) um incansável defensor do quotidiano, um humilde artesão que trabalha para que o quotidiano se assemelhe ao dia-a-dia» e que, no seu fato de vendedor de seguros, com motivos de tigre e caneta presa no nariz, vive as aventuras mais incríveis, demonstrando que, afinal, o quotidiano é tudo menos monótono.
Mas a sua obra maior foi feita em parceria com o genial argumentista argentino Alessandro Jodorowsky e tem como protagonista o ser mais estranho e cativante de, talvez, toda a banda desenhada europeia recente. Face de Lua, o Domador das Ondas.
Este personagem, sem voz mas extremamente expressivo, cujo corpo se autoregenera e que está acima dos mortais, ultrapassa todas as raias da nossa mais delirante imaginação e, na trilogia que lhe é dedicada, A Catedral Invisível; A Pedra Angular e O Ovo da Alma, consegue cativar-nos, a nós e aos desalinhados dum estado chamado Damanuestra que vivem subjugados à ditadura, dura, de um casal ignóbil, o Kondukator e a Kondukatriz, face visível dum poder corrupto e cruel que vigora na República Democrática Ovariana e que, na verdade, está nas mãos de um clero ainda mais cruel e insensível, cujo maior medo se traduz na enorme onda que um dia afundará, de uma vez por todas, a terra inteira.
Face de Lua surgirá, aparentemente do nada e a sua missão é salvar aqueles que merecem e podem ser salvos.
Assim começa esta história:

«Ai de quem constrói uma cidade no meio do sangue e funda uma pátria baseada na injustiça, porque a violência afunda-lo-á...
Não é nem pelo poder nem pela força mas pelo espírito...»

Esta é da melhor literatura fantástica que se pode VER!

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