sábado, 12 de novembro de 2011

Um dia encarnado (apesar de tudo...)

Estava a ver um desafio de futebol pela televisão, quando o meu pai entrou em casa, o Eusébio tinha acabado de marcar um golo.
Nessa altura deveria ter uns 8 ou 9 anos e o meu pai prometeu-me que, no fim-de-semana seguinte, iríamos ver o Benfica – Sporting. O entusiasmo foi enorme, creio mesmo que nasceu um brilho novo nos meus olhos.
Desde que me lembrava que era um admirador confesso do clube da cor encarnada, mas nunca tinha tido oportunidade de ver o meu clube preferido ao vivo. Já vira na televisão, mas era diferente, claro que era, ainda por cima, na altura, a televisão era só a preto e branco, como poderia, dessa forma, sentir o encarnado? As papoilas saltitantes, como dizia a canção. E o Eusébio ainda jogava.
Passei a contar os dias que faltavam para o jogo quase minuto a minuto. Já imaginava as jogadas mais fabulosas e não admitia, de forma alguma, que os lagartos pudessem derrotar os encarnados, claro que não!
O meu pai disse-me ter combinado com um colega de trabalho que lhe iria comprar os bilhetes. Só que, por alguma razão, certamente forte, o colega não pôde comprá-los e o meu pai também não. Os bilhetes esgotaram e com uma tristeza maior que o mundo, acabei por não ir ao estádio ver o Benfica - Sporting.
Mas o meu pai, que é adepto do Belenenses, não quis adiar a minha entrada num estádio de futebol e assim, no mesmo fim-de-semana em que perdi a disputa entre os vermelhos e os verdes, lá fomos, eu e o meu pai, até ao Restelo e num dos estádios mais bonitos que já vi, acabamos a vibrar com vitória do Belenenses que, nesse dia jogava com o Sporting de Braga.
Curiosamente não me recordo quem ganhou o jogo que, de forma tão inglória, acabei por não assistir. Mas, de certeza, que o Benfica ganhou.
Ao sair do estádio do Restelo o meu pai, satisfeito com o desfecho do jogo, sugeriu que fôssemos lanchar aos Pastéis de Belém.
- Meia dúzia de pastéis e uma Laranjina C sabiam bem agora, não achas? Perguntou-me ele.
Eu concordei.
Ao entrarmos na pastelaria reparei que toda a gente olhava na mesma direcção cochichando segredos imperceptíveis. Foi então que alguém me tocou, ao de leve, no ombro. Quando me virei não pude acreditar no que os meus olhos viam. Ele estava ali, ao meu lado, sorria para mim e estendia-me qualquer coisa. Uma bola de futebol, com uma assinatura, a sua.
- Soube que não pudeste ir ao estádio hoje assistir ao jogo, por isso aqui vim ter contigo e oferecer-te a bola com que marquei o golo da vitória. Disse-me.
Aceitei a bola, balbuciei um obrigado e fiquei a vê-lo afastar-se dando pequenos passos, tal qual uma papoila saltitante.
Voltei a olhar a bola e a assinatura.
- Pai - Exclamei – Era o Eusébio!

2 comentários:

Apple disse...

:)

pessoana disse...

Olha, li o teu texto ao som do The First Cut is the Deepest.

Fica engraçado!:-)