quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ninho de vespas

O zumbido era monótono. Bem como a luz verde que piscava ininterruptamente.
Ela olhou-o mais uma vez, a cabeça pendia, inerte, os seus olhos, grandes e negros, fitavam agora o vazio e do buraco, bem no meio da testa, ainda saia fumo.
A luz continuava a piscar, irritante, verde, escuro, verde, escuro. E aquele zumbido parecia o de um enorme enxame de vespas zangadas.
Ela sentou-se, pousou a pistola na cómoda e acendeu um cigarro. Olhou-o novamente.
Ouviu-o: não dispares, não queres disparar.
Ouviu-o ainda mais atrás: vamos ao nosso cantinho, já o reservei para hoje, temos a noite toda por nossa conta.
Lembrou-se de como escondera a pequena pistola entre a escova de pentear e o espelho que guardava na sua mala.
Foi com ele, já sabia como a noite iria acabar, mas ele ainda não, nem desconfiava.
Quando fecharam a porta do quarto, a luz começou a piscar, verde, escuro, verde, escuro e ela ouviu o zumbido, aquele enxame que lhe entrava pelos ouvidos e soube, sem dúvida, que hoje seria o último dia, a última noite, o fim do nosso cantinho.
Quando ele se sentou, depois de se servir de um copo de uísque, pediu-lhe o dinheiro.
Ela tirou calmamente as notas que estavam enroladas num elástico e deu-lhas.
Só isto? Perguntou ele, cerrando nela aqueles olhos grandes e negros.
Ela mal sentiu a bofetada. Só um zumbido enorme que lhe enxameava a cabeça e aquela luz, verde, escuro, verde, escuro.
Quando se levantou ainda sentia os dedos presos à sua cara.
Só isto? Tornou ele.
Ela dirigiu-se à mala, ele ficou de pé atrás dela, pernas abertas, cigarro na ponta dos lábios e mão estendida à espera.
Ela tirou a pequena pistola da mala e voltou-se lentamente.
Ele abriu ainda mais aqueles olhos enormes e negros e não teve tempo para mais nada.
Caiu na cama mantendo os olhos abertos.
Depois de apagar o cigarro ela guardou, cuidadosamente, a pistola na mala, entre a escova de pentear e o espelho. E saiu.
Sabia que nunca mais veria aquela luz deprimente, verde, escuro, verde, escuro e que havia feito desaparecer todas as vespas que lhe zumbiam na cabeça.

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