A noite estava quente.
No céu escuro recortava-se uma lua cheia perfeita. Um círculo de um branco imenso.
Na rua não se via vivalma.
A medo, ele afastou a portada da janela de sua casa e espreitou lá para fora.
Sabia que a hora se aproximava e hoje, tal como nos outros dias, sentia o medo apoderar-se dele.
Gotas de suor desprendiam-se das paredes velhas daquela cidade sem idade. Em todas as casas as luzes estavam apagadas. Todos sabiam o que iria acontecer e ninguém queria estar por perto quando tal sucedesse.
Lá no alto a lua parecia estar a aproximar-se. Quem se atrevia a espreitar a negritude da noite, poderia confirmar que quase todo o céu estava agora coberto pela incrível lua cheia que todos pareciam temer.
O calor aumentava. Apesar de um ar irrespirável ninguém se atrevia a abrir uma janela, a escancarar uma porta.
Sorrateiramente ele obrigou-se a entreabrir a porta da rua. Lutando com uma força superior à sua vontade, saiu.
A sua audição tornou-se mais acutilante.
Conseguiu perceber os passos sorrateiros que se aproximavam e viu distintamente que uma imensidão de olhos rubros o fitavam para lá da escuridão.
O apelo tornou-se então irresistível.
Fechou a porta atrás de si e avançou, sem receio, para o meio da rua. Assim que começou a descê-la calmamente, sentiu que eram vários os passos que o acompanhavam, furtivos.
Quando a confiança o alcançou partiu numa corrida desenfreada.
Quando chegou ao centro da praça parou.
Viu-os aproximarem-se e não sentiu qualquer tipo de temor.
Quando se acercaram dele e o rodearam, ele soube o que fazer.
Olhou a lua como nunca e soltou, do fundo do seu ser, o mais intenso uivo de que foi capaz.
Todos os outros se uniram a ele.
Foi com um sorriso intenso que partiram à desfilada.
Aquela era a noite ideal para a caçada.
quinta-feira, 30 de junho de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Koltura
«Angélico: Secretário de Estado da Cultura expressa condolências»
Mas porquê?
Por muito que seja de lamentar a morte de alguém tão jovem, porque raio o SEC deve apresentar condolências?
Parece-me que estamos a confundir as coisas.
O que devemos então entender por cultura?
A nossa herança comum? E então aí o SEC poderá apresentar as condolências a todos os portugueses que morram.
Ou os criadores de obras que tenham relevância para o nosso legado cultural? E aí não me parece que seja este o caso.
Em que ficamos?
Ou será que andamos a confundir cultura com koltura?
Propaganda
Porque será que, com tão pouco tempo de vida, este governo me faz (tanto) lembrar isto? (começando no nome da banda e acabando no refrão desta canção)
O que todos precisamos
Ouvi esta canção há poucos minutos, e reconheci nela a minha infância quando Burt Bacharach era presença assídua nas rádios que tínhamos e na televisão que víamos. Reconheci nela sons que, de alguma forma, me encantaram há tantos anos atrás e depois também nela reconheci palavras que não deviam ser ocas, mesmo que possam parecer tão fora de época e até, para alguns iluminados, foleiras.
Eu continuo a gostar desta canção.
Eu continuo a gostar desta canção.
Dulce Maria Cardoso
Esta senhora não necessita da minha opinião para conhecer o seu (real) valor. Até porque já ganhou o Prémio de Literatura da União Europeia (se bem que que alguns prémios são atribuídos sabe lá Deus como). Queria dizer, no entanto, que acabei de ler, há pouco tempo, um livro seu, Campo de Sangue, que, em muito boa hora um bom amigo dado às coisas da escrita me recomendou e, posteriormente, ofereceu.
Conheci uma escrita forte, por vezes dura, despojada, mas muito, muito bela. Uma escrita que nos leva para dentro das pessoas que descreve e nos apresenta. Que as revolve e a nós também, que nos deixa sem defesas porque o que nos mostra se apresenta livre e sem amarras. Incomoda é certo, mas é um incómodo que nos faz bem, porque nos alerta e nos traz de volta a um mundo que, por vezes, teimamos em esconder, os das fraquezas da condição humana.
Agora que a conheci, Dulce Maria Cardoso, e mesmo não lhe dando a minha opinião sobre aquilo que escreve, quero dizer-lhe que vou continuar a lê-la porque em mim já se vai revelando a falta que tal escrita faz.
Obrigado.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Explode
Mais uma vez, esta excelente banda nos presenteou com um disco fora do comum (leia-se excepcional, por ser muito bom).
Recheado de canções vibrantes e dotadas de uma força serena, Explode talvez seja o melhor disco dos The Gift que(ou muito me engano) são a melhor banda portuguesa do momento, talvez até de há muitos momentos atrás.
A canção que se pode ouvir abaixo traz-me à memória outros tempos, outras músicas, o mesmo encantamento. Para mim, que fui um admirador confesso dos progs, The Singles permite-me recuar no tempo mantendo um passo à frente, ou seja, recuperou-me sons que me foram familiares dando-lhes, ao mesmo tempo, roupagens que são próprias dos tempos que vamos atravessando.
Até a duração desta canção se aproxima das grandes suites prog dos anos 70.
Mas, claro, Explode não é só isto. É (mesmo) muito mais que isto. Ouçam-no e deliciem-se. Pelo menos com esta colecção de canções sentimos que não devemos nada a ninguém!
Recheado de canções vibrantes e dotadas de uma força serena, Explode talvez seja o melhor disco dos The Gift que(ou muito me engano) são a melhor banda portuguesa do momento, talvez até de há muitos momentos atrás.
A canção que se pode ouvir abaixo traz-me à memória outros tempos, outras músicas, o mesmo encantamento. Para mim, que fui um admirador confesso dos progs, The Singles permite-me recuar no tempo mantendo um passo à frente, ou seja, recuperou-me sons que me foram familiares dando-lhes, ao mesmo tempo, roupagens que são próprias dos tempos que vamos atravessando.
Até a duração desta canção se aproxima das grandes suites prog dos anos 70.
Mas, claro, Explode não é só isto. É (mesmo) muito mais que isto. Ouçam-no e deliciem-se. Pelo menos com esta colecção de canções sentimos que não devemos nada a ninguém!
segunda-feira, 27 de junho de 2011
sexta-feira, 24 de junho de 2011
O ministro é que sabe
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Manto Sagrado
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Let...
Que canção bonita!
Que declaração forte!
Que desejo sincero!
Quem me dera que o mundo fosse assim!
Que o céu se conseguisse abrir...
Humor negro ou o fim dos livros?
É disto que eu tenho receio quando se fala dos livros do futuro. Que as bibliotecas fiquem vazias, que as lombadas deixem de existir, que o prazer de folhear seja arredado dos hábitos, que o simples vislumbre de um livro de papel se torne numa miragem e que o cheiro a mofo seja substituido pela ausência de cheiro.
No fundo, que a vida e o sangue sejam substituidos pela perfeição fria e indiferente.
destinos
De que vale ter um blog que nunca ninguém lê?
Acho que esta primavera se prepara para definhar...
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Graças a Deus é sexta feira
E é a isto que se parece, cada vez mais, o nosso pequeno país.
Mesmo com aqueles que, aparentemente, sabem ler.
Bom fim de semana (com muitas leituras)!
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Nuno Gomes
Lê-se hoje em alguns jornais:
"Nuno Gomes disponível para os leões"
Eu sou daqueles que sempre gostou do Nuno Gomes, como aliás se pode ler aqui. Acredito que poderia ficar no Glorioso e ainda fazer o gosto ao pé, como aconteceu no ano passado, para além de ser, talvez, o único jogador que ainda carrega alguma da quase desaparecida mística. Por isso mesmo não quero acreditar em tais noticias, porque, a serem verdade, tudo o que disse atrás e que tenho pensado ser verdade, caí por terra e sou forçado a concluir que o Nuno é apenas mais um mercenário com tiques de prima dona e um desejo bacoco de vingança. E eu não quero acreditar nisso!
terça-feira, 14 de junho de 2011
Destinos
O dia amanheceu estranho. Cortado ao meio.
No lado esquerdo o sol raiara em todo o seu esplendor. Uma luz exaltante tornava este dia quase eufórico.
No lado direito a noite continuava. A escuridão mantinha-se, entranhando em todos aqueles que acordaram desse lado, uma sensação opressora.
Ao entrarem para o carro eles já conheciam os seus destinos. Não tinham dúvidas. Estavam certos dos caminhos e das suas razões. Mas neste dia, quando se olharam pela primeira vez, não se reconheceram, embora nem se tivessem apercebido disso.
- Está um lindo dia. Exaltante. Abençoado. Alegrou-se o condutor.
- Tu não sabes o que dizes. Retorquiu sem grande entusiasmo o passageiro que ia a seu lado.
Virando-se para o lado o condutor olhou o passageiro com um ar incrédulo:
- Então? Não vês o sol, o brilho deste dia, o cheiro? Tudo é maravilhoso!Sem levantar os olhos do chão o outro respondeu:
- Mas tu bebeste? Olha que é perigoso conduzir alcoolizado.
- E a ti? O que te deu? Perguntou o condutor querendo transformar aquela conversa em algo mais consentâneo com o seu dia.
- Não me deu nada. Só não te consigo perceber. O dia está cinzento. Não se vê vivalma. O ambiente está terrível e tu queres transformar este pesadelo num sonho bonito. Só pode ser por estares sob o efeito dalguma coisa estranha. Acrescentou o passageiro querendo acabar rapidamente com aquele diálogo inútil.
- Não sei porque te convidei. Respondeu o condutor, deixando antever a chegada de uma nuvem arreliadora que não queria que ensombrasse o seu dia perfeito.
– Ou melhor, sei. Sei que estou farto de te ver escuro, de olhos fechados, cheio de nuvens. Gostava de te dar um pouco de luz.
- Mas quem te disse que eu quero luz, que preciso de luz? Replicou o passageiro com uma impaciência crescente. – Sabes que mais? Estou farto das tuas luminosidades parvas, das tuas euforias ocas, da tua vida colorida, onde nada se aproveita.O condutor deixou de sorrir. – Se é isso que tu achas, muito bem. Vou parar o carro e podes sair. Ir para onde muito bem te apetecer e fugir de mim. Definitivamente.
O outro sorriu pela primeira vez em muito tempo. – Pois bem, é isso mesmo que vou fazer. Até sempre! Disse saindo rapidamente do carro.
- Até sempre. Respondeu o condutor retirando as mãos do volante.
Assim que o passageiro pôs os pés no chão, a queda foi imediata. Terminou bem junto da porta negra, onde um demónio vermelho e pequenino já o esperava.
Antes de entrar olhou para cima, mesmo a tempo de ver o outro acercar-se de um grande portão dourado, onde um velho de imensas brancas o aguardava sorridente.
sábado, 11 de junho de 2011
O novo Portugal (ou será que me engano?)
E digam se não parecem dois apaixonados, prontos a caírem nos braços um do outro? Ou então dois velhos manhosos que cumpriram os seus fitos e se regozijam, com sorrisos cúmplices e abraços suspensos, as desditas alheias?
Cá para mim são dois velhos amantes que, finalmente, se puderam ver à luz do dia, mostrando a toda a gente um amor que esconderam durante tanto tempo e que agora, finalmente, dão a testemunhar.
nota: agora sim, tal como se dizia num anúncio do BPN protagonizado pela Catarina Furtado, há lugar para todos!(???)
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Graças a Deus é sexta feira
João Gilberto, 80 anos, isto é bossa nova, é muito natural.
Bom fim de semana.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
E a cretinice? Onde vive?
No Público online:
«Bonecos Estrunfes vivem num regime estalinista e racista
Antoine Buéno é um professor francês que publicou agora um livro “Le Petit Livre Bleu: Analyse critique et politique de la société des Schtroumpfs”, onde faz uma análise sobre os bonecos azuis, investigando a história dos Estrunfes, as mensagens subliminares de cada personagem, o dia-a-dia das histórias. No seu estudo, o autor garante ter encontrado vários valores totalitários.
Para o francês, a sociedade dos Estrunfes é “típica de uma utopia soviética”, destacando que “cada um se veste da mesma maneira, tem uma casa igual à do seu vizinho, e exerce a profissão mais adequada às suas habilidades, não sendo conhecidos pelo seu nome mas sim pela sua função na sociedade.”
Antoine Buéno escreve ainda que os Estrunfes vivem num mundo em que a iniciativa privada não é estimulada, onde as refeições são feitas em comunidade, numa sala partilhada, e, acima de tudo, têm um único líder, não podendo abandonar o seu pequeno país.(...)»
Que grande estrunfice!!!
terça-feira, 7 de junho de 2011
Histórias com Música (47)
Está calor, muito calor. Sinto o suor a escorrer por todos os meus poros, esta água peganhenta que se vai escapando pelo meu corpo e que me ensopa os olhos, que me faz arder os olhos, que quase não me deixa ver.
Lá fora está a multidão. Ouço-lhes as vozes, percebo-lhes uma espécie de canto, uma emoção contida que vai subindo a cada minuto que passa. Sei-lhe os olhares, também eles quentes, mas de um calor devastador, quase que um ódio.
Também o vejo a ele, na sua roupa colorida, uma sorte de palhaço rico. Deve estar a sorrir agora, um sorriso nervoso, cheio de um medo que julga não ter, mas que o preenche totalmente.
Sei que ele me vê aqui onde estou, que me teme, embora tanto eu como ele já saibamos o desfecho.
Certamente que tudo farei para lhe dificultar a tarefa, certamente que lhe darei luta, que participarei na festa. Foi para isso que me criaram, vou só para isso que me trouxeram aqui.
Não os desiludirei.
Podia estar menos calor. Podia talvez chover. Sim o céu podia chorar por mim, pela minha última corrida, pela minha glória.
Já ouço o trompete. Falta muito pouco.
As vozes estão agora mais claras, gritos, urros, demências de quem não tem coragem para me olhar nos olhos e, no entanto, deseja a minha morte.
Ao menos o palhaço rico estará perante mim, chamar-me-á pelo nome, ou por aquilo que julga ser o meu nome, porque esse, o verdadeiro, também ele não conhece. Agitará a sua capa pensando que assim me atrairá, mas não é isso que levará até ele, isso ele também não o sabe.
Eu irei para ele sim, contra ele até, mas não porque ele me chamará, mas porque só assim poderei alcançar a liberdade com sempre sonhei, só desse modo poderei correr pelas planícies onde me sentirei feliz. E depois voltarei a ser quem sempre quis ser.
Ele já lá está, bem no centro do terreno, à minha espera, agora não sorri, tem todo o medo concentrado na mão que segura a espada.
A porta abre-se lentamente à minha frente…
Raspo os cascos no chão duro e preparo-me para partir numa corrida desenfreada, direito a ele. Um de nós será perdoado nesta noite, só um de nós sobreviverá.
Fecho os olhos e inicio a corrida, tudo está silencioso agora, o tempo está suspenso em nós.
A luta começou…
Lá fora está a multidão. Ouço-lhes as vozes, percebo-lhes uma espécie de canto, uma emoção contida que vai subindo a cada minuto que passa. Sei-lhe os olhares, também eles quentes, mas de um calor devastador, quase que um ódio.
Também o vejo a ele, na sua roupa colorida, uma sorte de palhaço rico. Deve estar a sorrir agora, um sorriso nervoso, cheio de um medo que julga não ter, mas que o preenche totalmente.
Sei que ele me vê aqui onde estou, que me teme, embora tanto eu como ele já saibamos o desfecho.
Certamente que tudo farei para lhe dificultar a tarefa, certamente que lhe darei luta, que participarei na festa. Foi para isso que me criaram, vou só para isso que me trouxeram aqui.
Não os desiludirei.
Podia estar menos calor. Podia talvez chover. Sim o céu podia chorar por mim, pela minha última corrida, pela minha glória.
Já ouço o trompete. Falta muito pouco.
As vozes estão agora mais claras, gritos, urros, demências de quem não tem coragem para me olhar nos olhos e, no entanto, deseja a minha morte.
Ao menos o palhaço rico estará perante mim, chamar-me-á pelo nome, ou por aquilo que julga ser o meu nome, porque esse, o verdadeiro, também ele não conhece. Agitará a sua capa pensando que assim me atrairá, mas não é isso que levará até ele, isso ele também não o sabe.
Eu irei para ele sim, contra ele até, mas não porque ele me chamará, mas porque só assim poderei alcançar a liberdade com sempre sonhei, só desse modo poderei correr pelas planícies onde me sentirei feliz. E depois voltarei a ser quem sempre quis ser.
Ele já lá está, bem no centro do terreno, à minha espera, agora não sorri, tem todo o medo concentrado na mão que segura a espada.
A porta abre-se lentamente à minha frente…
Raspo os cascos no chão duro e preparo-me para partir numa corrida desenfreada, direito a ele. Um de nós será perdoado nesta noite, só um de nós sobreviverá.
Fecho os olhos e inicio a corrida, tudo está silencioso agora, o tempo está suspenso em nós.
A luta começou…
segunda-feira, 6 de junho de 2011
O voto do povo
domingo, 5 de junho de 2011
O Flautista e os ratos do costume
Chegado há pouco de um mundo onde a fantasia ainda pesa, dou-me conta do quanto nos seria útil ter um flautista como este, que nos conseguisse livrar de toda a rataria que nos tem arrastado para a enxovia onde nos encontramos. Podia mesmo começar logo após conhecermos os resultados eleitorais que, como é de esperar, não nos irão trazer nenhuma espécie de beneficio!
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