quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O meu avô tinha uma garrafa (III)

(...)
O meu avô fumava com elegância. Mal se via o cigarro na sua mão e o fumo nem se cheirava. Até que deixou de fumar por completo.
Foi aí que lhe conheci a primeira doença. Asma.
Às vezes tossia tanto que lhe faltava a respiração.
Tinha uma bomba. Era uma coisa enorme, com um recipiente de vidro amarelado e um inalador, que ele usava frequentemente.
Isso dá-te cabo do coração, dizia-lhe a minha avó. Mas aliviava-o, disso tenho a certeza.
Na secretária do meu avô havia sempre jornais. Todos os jornais.
Foi aí que ganhei o hábito de os folhear. Foi a partir daí que comecei a ler.
Também tinha alguns livros.
O meu avô era uma figura.
Deram-me o seu nome.
Quando estava a começar a falar com ele e a compreendê-lo, partiu.
Morreu no dia em que fiz dezasseis anos.
Nunca mais vi a garrafa.

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