terça-feira, 10 de novembro de 2009

9,15 metros


Mesmo antes de tombar, Robert lembrou-se de tudo.
Do bosque onde costumava esconder-se por entres as árvores frondosas. Das caçadas movimentadas que tentava fazer e das quais apenas resultavam nódoas negras e uns pequenos pássaros de que nunca chegou a saber o verdadeiro nome. Das noites iluminadas por uma lua fugidia que lhe punham os nervos em franja, mas também lhe davam motivos para criar as mais assombrosas e fascinantes histórias de que tinha memória.
Lembrou-se de muitos rostos. Daqueles que lhe eram familiares e dos outros de que nunca voltara a ter noticias.
Recordou até palavras que, há muito, julgava esquecidas. Frases inteiras, histórias completas, vidas que o acompanharam.
Mas não conseguiu lembrar-se porque razão ali estava, tombando inapelavelmente, sentido que o chão se aproximava sem fuga e vendo toda a cena como se tratasse apenas de um mero espectador.
Sentia tudo isto no que lhe parecia uma lentidão exasperante, embora fosse, ao mesmo tempo, possibilitadora da vinda de todas as memórias, que, apesar de o assustarem, o maravilhavam também.
Mesmo antes de tombar, Robert olhou o céu e percebeu que uma luz muito brilhante lhe ofuscava, por completo, a visão. Fechou por isso os olhos e deixou-se tombar mais depressa, numa queda infinita.
Quando sentiu finalmente o seu corpo chocar contra o solo, Robert abriu os olhos…
Um barulho ensurdecedor tapou-lhe os ouvidos.
Foi aí que percebeu que tinha conseguido defender o último penalty.

(em memória de Robert Enke)

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