terça-feira, 13 de julho de 2010

O homem e o livro


Caminhava calmamente pela rua deserta. Apesar da chuva miudinha que insistia em cair, ele não se desviava um milímetro do caminho que havia, mentalmente, traçado.
Anoitecia naquela cidade e as ruas vazias, às quais se encostavam prédios altos e cinzentos, davam-lhe um aspecto escuro, aquilo que costumamos chamar fantasmagórico.
Mas não era assim que ele se sentia. Pelo contrário, sentia-se vivo, mais vivo que nunca.
Parou, pegou num cigarro e levou-o à boca. Apesar de húmido acendeu-se facilmente.
Aspirou o fumo e expeliu-o depois com agrado evidente. Gostava de fumar.
Recomeçou a andar. Uma enorme grua tapava-lhe o caminho. Lembrava-se daquela grua desde sempre. Desconfiava até que ela ali tinha nascido, naquele preciso lugar e por ali ficara, sem nunca ter, verdadeiramente, servido para coisa alguma.
Apesar do cinzentismo da rua, dos prédios altos e sem cor, da chuva, havia flores nas janelas. Uns pontos de cor davam ao olhar algo com que se entreter.
Continuando o seu caminho naquela rua interminável, foi então que ele deu conta da entrada que procurava.
Pequena, estreita, quase invisível a olhos mais descuidados.
Acercou-se quase a medo e espreitou. Passou primeiro a cabeça, depois um braço e o outro. Com um esforço mínimo conseguiu passar todo o corpo.
Depois virou-se para trás e fechou o livro.

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