segunda-feira, 1 de março de 2010

(...)

Estava olhando a chuva que fustigava a janela quando ouvi a campainha da porta.
Virei a cabeça lentamente, como se, com esse simples movimento, pudesse abrir a porta.
A campainha soou de novo. De facto não me apetecia abrir a porta. Mas tinha sido eu que lhe tinha dito para ir ter comigo.
Rápido, vem cá a casa. Dissera-lhe sem admitir resposta.
No entanto agora, quando via as gotas grossas baterem de encontro à minha janela, já duvidava da minha intenção.
Queria falar-lhe, contar-lhe tudo, ou talvez não. Talvez tivesse sido só um impulso de quem acabava de acordar. Ou melhor, de se levantar, porque a noite tinha sido clara. Clara e cheia de sombras. Daquelas que vão enchendo, primeiro as paredes do quarto e depois se vão embrenhando pelo cérebro, até não deixarem lugar para nenhuma luz.
A campainha soou pela terceira vez.
Eu sabia que iria continuar a insistir. Que não desistiria. A minha ordem não admitia negação. Era impossível não lhe obedecer.
Mas eu já não sabia se o que mais desejava era falar-lhe ou continuar ali, imóvel, olhando aquela espécie de dilúvio contido que se ia abatendo sobre a minha janela e que já me molhava a mim também.
(...)

1 comentário:

Apple disse...

Promissor este começo.